Durante participação no podcast Os Sócios, o professor HOC explicou como o governo chinês manipula o câmbio, subsidia indústrias e restringe o consumo interno para manter a competitividade global.
O economista e Professor HOC participou do podcast Os Sócios, onde abordou o papel da China na economia mundial e as distorções causadas por seu modelo produtivo e cambial.
Ao longo da conversa, ele defendeu a importância do livre mercado, mas destacou que ele “não existe de forma plena” devido à constante intervenção dos governos.
Mesmo potências como a China mantêm mecanismos rígidos de controle que distorcem a lógica natural da oferta e da demanda global.
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Intervenção e controle cambial na China
Segundo HOC, o câmbio chinês é rigidamente controlado pelo governo, o que impede a valorização natural da moeda. Quando o país exporta produtos e recebe dólares, as empresas são obrigadas a trocar essa moeda no banco local, que a repassa ao Banco Central.
Essa estrutura, segundo ele, é fundamental para manter o yuan artificialmente desvalorizado e preservar a competitividade das exportações chinesas.
Para o professor, o controle cambial faz parte de um modelo mais amplo, que prioriza o setor produtivo em detrimento do consumo interno.
“A China retira renda do consumidor para subsidiar a indústria”, afirmou. Essa política, que também foi usada por outros países em diferentes períodos — como Estados Unidos, Japão, Alemanha e Brasil —, permitiu um crescimento rápido, mas gerou desequilíbrios estruturais de difícil correção.
O modelo produtivo e seus efeitos colaterais
HOC observou que o sucesso industrial chinês tem um custo interno alto. Ao direcionar recursos para a produção e não para o consumo, o país cria uma dependência crônica de compradores externos. “A China precisa que alguém consuma o que ela produz, porque o consumidor chinês não tem poder de compra suficiente”, explicou.
Esse cenário faz com que o país “exporte desemprego” para nações como os Estados Unidos, já que o excesso de produtos subsidiados prejudica indústrias locais. “Quando um país inunda o mundo com produtos baratos, ele destrói empregos nos outros”, afirmou.
Para compensar os impactos, o governo americano recorre a gastos públicos e endividamento das famílias, o que, segundo o professor, mascara desequilíbrios profundos no sistema global.
Superávits persistentes e desequilíbrios globais
Ao discutir os efeitos desses superávits comerciais, HOC destacou que China, Alemanha, Japão e Coreia do Sul compartilham o mesmo padrão: economias com forte capacidade produtiva, mas consumo doméstico insuficiente.
Isso gera desequilíbrios que se perpetuam por décadas. “Numa economia realmente livre, o equilíbrio viria naturalmente. Mas quando o câmbio e os fluxos são controlados, o desequilíbrio se torna crônico”, avaliou.
O economista argumentou que as tarifas, apesar de polêmicas, podem ser uma resposta legítima a essa distorção.
Segundo ele, políticas tarifárias direcionadas apenas a países com superávits persistentes poderiam ajudar a reequilibrar o comércio global. “Seria uma medida transparente, voltada para corrigir o desequilíbrio comercial, e não para favorecer setores específicos”, disse.
A resposta americana: tarifas e reindustrialização
HOC analisou ainda o movimento recente dos Estados Unidos de adotar tarifas como forma de estimular a produção doméstica.
Ele reconheceu que há economistas que veem a medida como positiva, pois poderia reativar a indústria americana. “Os Estados Unidos têm consumo forte e podem sustentar a produção interna sem perder PIB”, comentou.
Para o professor, o país ainda possui as condições necessárias para retomar a liderança industrial. “Os Estados Unidos sempre foram uma potência produtiva. Têm tecnologia, ambiente de negócios e infraestrutura para isso. O problema é que os incentivos atuais favorecem a especulação financeira e não a produção”, afirmou.
A dominância do dólar e o papel dos fluxos financeiros
Outro ponto abordado foi a posição do dólar como moeda de reserva internacional. HOC explicou que essa condição atrai um fluxo contínuo de capital para os Estados Unidos, o que incentiva investimentos em produtos financeiros, e não em fábricas.
“Com tanto dinheiro entrando, o incentivo é especular, não produzir. É isso que faz o setor financeiro crescer e o produtivo atrofiar”, analisou.
Segundo ele, essa dinâmica explica crises como a de 2008, que tiveram origem em “produtos financeiros exóticos” criados a partir da abundância de liquidez global.
Mesmo com sucessivas tentativas de correção, o economista acredita que a natureza do sistema dolarizado mantém os Estados Unidos dependentes desse ciclo de entrada de capital.
A dificuldade de mudança estrutural
Ao tratar da possibilidade de mudança no modelo chinês, HOC foi categórico: alterar a estrutura de uma economia planejada é um processo longo e politicamente sensível.
Ele citou o Japão como exemplo de país que tenta há décadas reformar seu modelo produtivo sem sucesso pleno. “Eles vêm fazendo isso há 40 anos, de forma gradual e delicada, para evitar choques. Mesmo assim, não conseguiram resolver o problema completamente”, disse.
No caso chinês, o desafio é ainda maior devido à natureza do regime. “A China é uma ditadura. E dar autonomia econômica é dividir poder. Por isso, ela não tolera bilionários independentes, prende, persegue e elimina quem ameaça o controle central”, afirmou.
Para ele, essa característica torna improvável que o país conceda maior liberdade econômica à população, já que isso significaria abrir mão de parte do poder político.
Os limites de um modelo que chegou ao auge
O professor também destacou que o modelo chinês foi extremamente eficiente em sua fase inicial, especialmente após décadas de guerras e destruição.
A estratégia de priorizar investimentos em infraestrutura e indústria foi essencial para reconstruir o país e gerar crescimento acelerado.
No entanto, ele acredita que esse ciclo atingiu seu limite. “Chega um momento em que esse modelo não funciona mais. A China cresceu porque precisava de investimentos, mas agora enfrenta o custo de ter distorcido demais a economia”, avaliou.
HOC concluiu que o sucesso do modelo chinês não é sustentável no longo prazo, pois depende de condições artificiais e de uma população sem poder de consumo real.
O resultado, segundo ele, é uma economia global desequilibrada, na qual poucos países produzem mais do que podem consumir e o restante do mundo absorve as consequências.
Um debate sobre os rumos da economia global
Durante o episódio, o professor manteve um tom analítico e técnico, buscando explicar as engrenagens que sustentam o atual modelo econômico mundial.
Para ele, compreender as interdependências entre países é fundamental para entender crises, desequilíbrios e políticas comerciais contemporâneas. “Esses desequilíbrios que vemos entre as nações são, no fundo, reflexos dos desequilíbrios internos de cada uma delas”, afirmou.
Ao longo da conversa, HOC reforçou sua defesa do livre mercado, mas alertou para a dificuldade de alcançá-lo em um contexto de políticas intervencionistas, câmbios manipulados e incentivos distorcidos. “O livre mercado é uma ideia excelente, mas na prática, ele é constantemente sabotado por interesses políticos e econômicos”, concluiu.