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É possível substituir o aço por madeira? Cientistas desenvolvem material mais leve, resistente ao fogo e ambientalmente mais limpo

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 20/10/2025 às 21:15
Superwood: nova madeira densificada supera o aço em leveza e resistência, com menor impacto ambiental e aplicações na construção.
Superwood: nova madeira densificada supera o aço em leveza e resistência, com menor impacto ambiental e aplicações na construção.
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Um novo tipo de madeira promete rivalizar com o aço ao combinar leveza, alta resistência e menor impacto ambiental, surgindo como alternativa inovadora para a construção civil e o design industrial.

Uma startup dos Estados Unidos lançou comercialmente um tipo de madeira engenheirada que promete relação resistência-peso até dez vezes maior que a do aço e massa até seis vezes menor.

Batizado de Superwood, o material é fabricado pela InventWood, empresa cofundada pelo cientista de materiais Liangbing Hu, referência mundial em pesquisas com celulose.

A proposta é disputar espaço com metais em aplicações arquitetônicas e de mobiliário, com desempenho mecânico elevado e melhor pegada ambiental.

O que é a Superwood e por que ela chama atenção

Segundo a InventWood, a Superwood continua sendo madeira “do ponto de vista químico e prático”, mas passa por um tratamento que reorganiza a celulose e reduz a porosidade interna.

O processo combina banho químico controlado e prensagem a quente, etapas que colapsam as células e aumentam consideravelmente a densidade e as ligações entre fibras.

Em termos de engenharia, o ganho vem do aproveitamento máximo do “biopolímero mais abundante do planeta”, a celulose, base estrutural das plantas.

A tecnologia deriva de estudos iniciados há mais de uma década, quando a equipe de Hu demonstrou que a densificação de madeiras comuns multiplica a resistência e a tenacidade.

À época, os pesquisadores também criaram versões transparentes do material ao remover parte da lignina, componente que confere cor e parte da rigidez à madeira natural.

O objetivo final, entretanto, era outro: tornar a madeira significativamente mais forte sem perder identidade, aparência e trabalhabilidade.

Da bancada ao mercado: o salto da pesquisa para a produção

O avanço decisivo ocorreu em 2017, com um tratamento que elevou a resistência da madeira e melhorou sua estabilidade.

A partir dali, Hu e colaboradores aperfeiçoaram a rota, acumularam mais de 140 patentes e estruturaram a InventWood para escalar a fabricação.

 Superwood: nova madeira densificada supera o aço em leveza e resistência, com menor impacto ambiental e aplicações na construção. Divulgação/ Inventwood
 Superwood: nova madeira densificada supera o aço em leveza e resistência, com menor impacto ambiental e aplicações na construção. Divulgação/ Inventwood

Hoje, a produção acontece em Frederick, Maryland, com ciclos medidos em horas, e a empresa afirma que está ampliando capacidade conforme a demanda.

Para o CEO Alex Lau, a principal virtude é a combinação de leveza e desempenho.

“Do ponto de vista químico e prático, é madeira”, afirmou.

Em edifícios, isso permitiria estruturas potencialmente até quatro vezes mais leves do que as atuais, o que aliviaria fundações e aumentaria a resistência a abalos sísmicos.

Em testes internos, diz a companhia, a Superwood é até 20 vezes mais resistente que a madeira comum e dez vezes mais resistente a amassados, graças ao colapso e ao endurecimento da rede celular.

Resistência ao fogo e durabilidade: o que já foi medido

A empresa relata que o material atinge Class A nos ensaios padronizados de reação ao fogo, a classificação mais alta do protocolo de referência, sem depender de retardantes químicos adicionados.

A densificação reduz a disponibilidade de oxigênio nos poros e dificulta a propagação de chamas.

O tratamento também cria uma barreira a fungos e insetos, além de diminuir a expansão e a contração por umidade, pontos fracos típicos da madeira tradicional.

Ainda que custem mais do que tábuas convencionais e tenham pegada de carbono de fabricação maior do que a madeira não tratada, os painéis de Superwood, segundo a InventWood, emitem cerca de 90% menos CO₂ que o aço em produção equivalente.

A meta industrial, diz Lau, “não é ser mais barato que a madeira, mas sim ser competitivo com o aço” à medida que a escala avance.

Primeiros usos e planos para ampliar o escopo

A InventWood prioriza aplicações externas na largada, como revestimentos de fachada e decks.

Em seguida, a previsão é ampliar ofertas para usos internos, a exemplo de painéis, pisos e mobiliário.

Na avaliação do CEO, a performance abre espaço inclusive para substituir componentes metálicos que hoje são críticos na vida útil dos móveis.

“As pessoas sempre reclamam que os móveis quebram com o tempo, e isso geralmente acontece porque eles cedem ou quebram nas juntas, que atualmente são feitas de metal porque a madeira não é forte o suficiente”, disse.

A Superwood, acrescenta ele, pode atuar nas juntas, parafusos, pregos e outros fixadores, reduzindo pontos de falha.

Projetos estruturais de maior porte seguem no horizonte.

Um edifício inteiro de Superwood, reconhece a companhia, exigirá mais testes e certificações antes de virar realidade.

O ponto, no entanto, é que o material “parece madeira e, quando você testa, ele se comporta como madeira”, afirma Lau, “exceto que é muito mais forte e melhor que madeira em praticamente todos os aspectos que testamos”.

Como se diferencia das madeiras engenheiradas já conhecidas

O mercado convive há décadas com produtos de madeira reconstituída, como MDF, compensado e CLT.

Neles, o ganho de resistência decorre do rearranjo de lâminas ou partículas e do uso de adesivos.

Na Superwood, o caminho é distinto: não se trata de colar pedaços, e sim de alterar a microestrutura da própria madeira, reforçando a matriz de celulose.

Em termos de design e obra, isso preserva veios, textura e trabalhabilidade, mas com propriedades mecânicas que se aproximam das de metais e ligas em cenários onde a relação resistência-peso é determinante.

Matéria-prima e adaptabilidade do processo

Em teoria, qualquer espécie lenhosa pode entrar na linha.

Na prática, a InventWood já testou 19 tipos de madeira e também bambu, com resultados positivos, segundo a empresa.

Essa flexibilidade tende a facilitar o uso de espécies subaproveitadas e a produção regionalizada, sem amarrar o desempenho a um único tipo de árvore.

Do ponto de vista ambiental, a possibilidade de armazenar carbono por longos períodos em painéis e componentes de alto desempenho aparece como um atrativo adicional frente a materiais intensivos em emissões.

O que falta para competir com metais na construção

Para ganhar espaço de maneira ampla, a Superwood precisará navegar normas técnicas, comprovar durabilidade em campo e mostrar competitividade de custo total em obras reais.

Ganhos de escala podem reduzir preço, enquanto ciclos de vida mais longos e instalação mais leve podem compensar o investimento inicial.

A validação por ensaios independentes e por projetos-piloto em diferentes climas será determinante para definir limites e melhores usos do material.

Enquanto isso, a InventWood acelera a fabricação e organiza o portfólio para a fase comercial.

A empresa afirma que a demanda já supera a oferta inicial, e que a expansão incluirá linhas dedicadas a produtos externos e, depois, a soluções internas, com comunicação antecipada a clientes que realizaram reserva.

Se a madeira reinventada pode, de fato, substituir o aço em partes significativas da construção, quais aplicações você considera mais promissoras para comprovar essa transição no dia a dia dos canteiros?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas e também editor do portal CPG. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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