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É por esse motivo que a Geração Z está abandonando os smartphones por celulares tradicionais

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 08/08/2025 às 11:07
Geração Z Desintoxicação digital: Geração Z revive celulares antigos para escapar do vício das redes sociais
Desintoxicação digital: Geração Z revive celulares antigos para escapar do vício das redes sociais
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Cansados da pressão constante das redes sociais e da enxurrada de estímulos dos aplicativos modernos, muitos jovens da Geração Z estão tomando uma decisão radical: abandonar os smartphones e adotar celulares simples, os chamados “dumbphones”. O movimento cresce como uma forma de retomar o controle da atenção, reduzir a ansiedade digital e recuperar hábitos esquecidos no tempo analógico.

As redes sociais perderam o brilho que um dia encantou os usuários. Antes vendidas como espaços de conexão, essas plataformas se transformaram em vitrines frenéticas de conteúdo, anúncios e estímulos.

Em abril, durante um depoimento à FTC, Mark Zuckerberg admitiu a mudança: Facebook e Instagram deixaram de ser sobre amigos. Hoje, priorizam entretenimento, influenciadores e conteúdo curado.

Essa mudança tem impacto real. O modelo de design que surgiu nas redes sociais se espalhou para todos os aplicativos.

Carrinhos de compra atualizam em tempo real, apps de meditação criam desafios diários, e notificações pipocam o tempo todo. O resultado? Uma competição agressiva pela atenção do usuário.

O mais importante é que essa dinâmica cobra um preço. Nada respeita os limites cognitivos. O foco está sempre no movimento, não na pausa. E como diz um ditado popular da internet: “Se você não está à mesa, provavelmente está no cardápio.”

O cansaço vira reação

Diante disso, jovens começam a buscar alternativas. Eles percebem os danos do uso excessivo de tecnologia: dificuldade de concentração, desgaste emocional e perda de vida social fora da tela.

A resposta vem em forma de nostalgia e minimalismo digital.

Entram em cena os “dumbphones” — celulares antigos, com funções básicas, que não acessam redes sociais.

Ao restringir as opções, esses aparelhos devolvem ao usuário o controle do tempo e da mente. Papel, canetas, celulares de botão e agendas físicas voltam à moda como forma de resistência.

A máquina por trás das notificações

Por trás de cada alerta visual existe um sistema faminto por dados. As plataformas coletam tudo: toques, pausas, gostos musicais.

Em seguida, devolvem esse conteúdo personalizado para manter o ciclo funcionando. O usuário vira peça de uma grande máquina de processamento de informação.

Zuckerberg revelou uma queda no consumo de conteúdo de amigos: de 22% para 17% no Facebook e de 11% para 7% no Instagram.

A revista The New Yorker resumiu o momento com uma frase provocadora: “Mark Zuckerberg diz que as redes sociais acabaram.”

A frase pode parecer exagerada, mas muitos já sentem isso na pele. A rolagem infinita, repleta de anúncios e vídeos descartáveis, causa mais ansiedade do que conexão. E os números confirmam. Segundo o Pew Research Center, quase metade dos adolescentes está online “quase o tempo todo” — o dobro de dez anos atrás.

Mas o mesmo grupo também lidera uma reação silenciosa. Pesquisas do GWI mostram que a Geração Z é a única faixa etária que reduziu o tempo nas redes sociais desde 2021. Um em cada cinco consumidores busca algum tipo de “detox” digital. Os mais jovens puxam essa mudança.

O renascimento do retrô

É nesse cenário que surge o “retrotech”. O que começou como brincadeira estética com referências aos anos 2000 virou um movimento consciente por simplicidade.

Celulares com teclado físico, telas e-ink e bateria que dura uma semana reaparecem em fóruns como o r/EDC (Everyday Carry).

O jornal New York Post resume bem: “Por algumas centenas de dólares, esses jovens cansados de tecnologia compram tranquilidade.

A febre chegou ao TikTok. Milhares de usuários mostram seus BlackBerrys antigos comprados no eBay, enfeitados com adesivos e correntes, resgatando o prazer dos teclados barulhentos.

O colunista canadense Pascal Forget sintetizou o momento: “O smartphone deixou de ser divertido. Agora virou vício. Por isso, as pessoas querem voltar para algo mais simples.

Volta ao papel e à matéria

A tendência vai além das chamadas. Câmeras digitais antigas, tocadores de MP3, calculadoras de bolso e até relógios despertadores ressurgem no cotidiano. Agendas físicas tomam o lugar dos aplicativos de calendário. Consoles de videogame clássicos e CDs voltam às estantes.

Mais do que nostalgia, isso representa uma estratégia de sobrevivência. Serve para recuperar o foco, reduzir a sobrecarga de notificações e reconectar o usuário com o mundo físico. É uma forma de viver com mais intenção e menos automatismo.

Há também uma motivação por privacidade. Muitos adotam sistemas operacionais alternativos, como /e/OS ou GrapheneOS, que permitem controle mais rigoroso sobre o acesso à internet. Alguns preferem guardar arquivos em HDs físicos, longe da nuvem, e manter blogs próprios em vez de redes sociais.

O movimento não rejeita a tecnologia. Ele exige uma relação mais respeitosa com ela. Os consumidores querem atenção plena, não distração contínua.

A dificuldade de abandonar o “smart”

Apesar do apelo emocional, a transição para os “dumbphones” não é tão simples. Em algum momento, todos precisam de alguma conveniência moderna. GPS, pagamentos digitais, mensagens em grupo ou fotos em boa qualidade ainda são importantes.

Como explicou um membro do fórum r/dumbphones, “muita gente aqui quer um smartphone com funções limitadas. O problema é que cada um quer limitar uma coisa diferente.”

Para resolver isso, alguns optam por celulares Android mais lentos e sem redes sociais. Outros combinam um telefone básico com um tablet em casa. O importante é encontrar um meio-termo que funcione para o dia a dia.

Um comentário popular resume bem: “Na verdade, muitos aqui não querem um dumbphone. Eles querem um celular comum, sem distrações.” Outro usuário reforça: “Ter um dumbphone não é uma competição de força de vontade. É só uma forma de usar algo que respeita aquilo que você valoriza.”

Uma escolha por mais liberdade

No fundo, o movimento não é sobre tecnologia antiga. É sobre recuperar autonomia. Os usuários estão dispostos a aceitar menos praticidade em troca de mais tranquilidade. E mais do que isso, transformar essa escolha em identidade.

A estética dos aparelhos antigos, o brilho suave de uma tela e-ink, o barulho das teclas ou o clique de uma câmera dos anos 90 — tudo isso cria conforto e expressão pessoal.

O movimento é real. Seja com desconexões totais ou pequenos ajustes no uso, as pessoas estão recuperando tempo e silêncio. Estão redescobrindo o valor do tédio, da pausa e da atenção plena. Mesmo que não consigam mudar toda a lógica da economia da atenção, já conseguem desafiar sua inevitabilidade.

Na era em que tudo é “smart”, talvez a decisão mais inteligente seja escolher algo propositalmente simples.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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