Com tarifas dos EUA em vigor, Brasil aposta no crescimento acelerado do consumo chinês para diversificar exportações e manter a força do café
O café, atrás apenas da água como bebida mais consumida no mundo, é vital para milhões de consumidores e produtores. Nos últimos meses, o setor enfrentou uma série de desafios que afetaram diretamente a oferta e o preço.
O mais importante é que eventos climáticos, como tempestades e secas, reduziram a produção. Além disso, problemas logísticos complicaram o transporte e a distribuição.
Somando-se a isso, veio um golpe político-comercial: a imposição de tarifas pelos Estados Unidos. Como informou a Reuters, uma taxa de 50% sobre determinados produtos brasileiros passou a valer em 6 de agosto.
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Entre eles, está o café. Atualmente, o Brasil exporta cerca de oito milhões de sacas por ano para o mercado americano, volume que representa um terço da demanda anual dos EUA. Esse comércio movimenta aproximadamente US$ 4,4 bilhões.
Com as tarifas em vigor, a principal questão agora é como o mercado americano vai reagir. Comprar café brasileiro ficará mais caro, o que pode reduzir pedidos e abrir espaço para mudanças nas rotas comerciais do Brasil.
Aproximação com a China
O Brasil não exporta apenas café para os Estados Unidos. Entre os produtos enviados, estão também suco de laranja e grandes volumes de carne bovina.
Porém, a China já se consolidou como o maior parceiro comercial brasileiro, com uma relação ampla que envolve soja, minério de ferro, petróleo, carne, celulose, açúcar, madeira e algodão.
Quando se compara o volume de café, a diferença ainda é grande. Em junho, foram 440.034 sacas enviadas aos EUA, contra apenas 56.000 para a China.
Mas esse cenário começa a mudar. A Reuters confirmou que a China autorizou a entrada de 183 novas empresas brasileiras de café em seu mercado.
Mercado chinês em expansão
A decisão é estratégica para o Brasil, mas também acompanha um fenômeno interno na China. Desde 2010, o consumo de café no país cresce a taxas de dois dígitos, superando em muito a média global de 2% ao ano. O avanço médio anual é superior a 20%.
Em 2023, o consumo chinês alcançou 5,8 milhões de sacas. As projeções indicam que, até 2025, o número subirá para 6,3 milhões, o dobro do registrado em 2019.
Embora a quantidade consumida por pessoa ainda seja menor do que em outros países, cerca de 400 milhões de chineses já bebem café regularmente. E a tendência é de crescimento.
Perfil do novo consumidor
Grande parte desse aumento vem dos jovens adultos, entre 25 e 44 anos. Eles vivem em grandes centros urbanos, têm alta escolaridade e boa renda. Outro fator decisivo é o aumento expressivo no número de cafeterias.
O setor registrou crescimento de mais de 50% no número de lojas em apenas dois anos. Xangai, por exemplo, é hoje a cidade com mais cafeterias no mundo, somando cerca de 9.500 estabelecimentos.
Esse cenário impulsiona um mercado que saltou de US$ 38 bilhões em 2023 para US$ 43 bilhões em 2024.
Mudanças culturais e no paladar
O avanço da urbanização, a consolidação da classe média e a influência ocidental — com marcas como Starbucks e redes nacionais como Luckin Coffee — ajudaram a transformar o café em uma tendência.
Hoje, o café instantâneo ainda lidera o consumo, muitas vezes combinado com outras bebidas. No entanto, o segmento de cafés especiais e bebidas preparadas com grãos moídos na hora já representa mais de 40% do mercado chinês.
Essa mudança mostra que, além de crescer em volume, o consumo está se sofisticando. Consumidores mais exigentes e interessados em qualidade criam novas oportunidades para produtores que buscam vender cafés diferenciados.
Perspectivas para o Brasil
Para o produtor brasileiro, a ampliação do acesso ao mercado chinês pode compensar, ao menos em parte, as perdas nos EUA.
A diversificação de destinos é uma forma de reduzir a dependência de um único comprador, especialmente em um contexto de instabilidade comercial.
O mais importante é que a demanda chinesa continua em expansão e com potencial para absorver mais produto, principalmente de qualidade superior.
Esse cenário coloca o Brasil em posição estratégica, tanto como fornecedor de volume quanto como exportador de cafés especiais.
Desafios no horizonte
Mesmo com essa perspectiva positiva, o mercado de café segue vulnerável a fatores climáticos e logísticos.
A oferta mundial ainda sofre com eventos extremos que afetam a produção e encarecem o transporte.
Portanto, embora a China se mostre uma alternativa viável e promissora, a indústria do café brasileiro precisa manter atenção às oscilações de preços e à concorrência de outros produtores.
No curto prazo, a pressão sobre os consumidores americanos, que já reclamam do valor de uma xícara, pode redirecionar o comércio global.
Ao final, a “sede por café” da China surge como uma oportunidade concreta para o Brasil em um cenário internacional turbulento.
Resta ver se essa aproximação conseguirá não apenas equilibrar as contas, mas também abrir uma nova fase para o café brasileiro no mercado global.
Com informações de Xataka.