O Banco Central confirmou que o Drex começa a operar em 2026 em versão reduzida, sem blockchain e sem tokenização, focado inicialmente no mercado de crédito e em processos internos do sistema financeiro.
O Banco Central prevê colocar o Drex em operação em 2026, numa versão inicial mais enxuta e voltada a processos internos do sistema financeiro, sem blockchain e sem tokenização na largada.
A avaliação e os alertas que circulam nas redes foram reavivados por um vídeo recente do economista Fernando Ulrich, publicado em seu canal no YouTube Fernando Ulrich.
Segundo ele, a mudança de rota reduz o escopo de riscos associados a uma CBDC de varejo e aproxima o projeto de uma solução de infraestrutura para crédito, não de uma “moeda digital para o público”.
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O que muda no lançamento de 2026
De acordo com Ulrich, a autoridade monetária decidiu priorizar uma entrega menor e mais prática para 2026, com foco na reconciliação de gravames — a checagem, entre diferentes instituições, de garantias dadas em operações de crédito.
Conforme explicou no vídeo, essa escolha adia a ambição de tokenizar um amplo conjunto de ativos e também coloca em espera a tecnologia de registro distribuído testada no piloto, como o Hyperledger Besu.
Ainda segundo o economista, a guinada decorre de entraves técnicos, sobretudo de privacidade e escalabilidade, mapeados durante os testes.
Ele cita declarações públicas do presidente do BC, Gabriel Galípolo, e do coordenador do projeto, Fábio Araújo, para sustentar que, neste momento, a prioridade é resolver um “problema de bastidor” do mercado de crédito antes de avançar para funcionalidades mais ambiciosas.
“Não é uma CBDC de varejo”: o que o Drex é — e o que não é
Conforme reforçou Fernando Ulrich, o Drex não deve ser confundido com uma CBDC de varejo — modelo em que cada cidadão teria uma carteira diretamente no Banco Central.
“O Drex não rompe o elo de intermediação com os bancos comerciais”, resume o economista no vídeo, ao explicar que a iniciativa se aproxima de uma CBDC de atacado ou de uma plataforma de tokenização a serviço do sistema financeiro.
Em vários trechos, Ulrich recupera a fala de Galípolo no Blockchain Rio 2025, evento no qual o presidente do BC destacou que o projeto brasileiro não segue o “formato clássico” de CBDC para uso direto pela população.
Como destacou o economista, o desenho atual preserva a lógica da moeda endógena — na qual a oferta de meios de pagamento responde, principalmente, à decisão dos bancos de conceder crédito — e evita um salto institucional que colocaria o Banco Central em contato direto com o público final.
Pix como peça-chave e o que permanece em discussão
Ulrich afirmou que “soluções como o Pix já resolvem boa parte dos problemas que muitas CBDCs tentam atacar”, ao lembrar que o sistema de pagamentos instantâneos oferece conveniência, custo baixo e disponibilidade contínua.
De acordo com ele, esse reconhecimento apareceu também nas falas de Galípolo.
Em linhas gerais, o Pix cumpre as funções de pagamento do dia a dia, enquanto o Drex mira fricções de infraestrutura no mercado de crédito e no mercado de capitais.
O economista observa, porém, que a evolução tecnológica seguirá sendo debatida.
Ele ressalta que o BC não descartou definitivamente o uso de DLT nem a programabilidade para casos de uso futuros, mas condicionou avanços a soluções robustas de privacidade e governança.
Riscos, liberdades civis e o debate internacional
No vídeo, Fernando Ulrich volta a registrar suas preocupações históricas com CBDCs de varejo.
Segundo ele, projetos desse tipo podem ampliar poderes do Estado sobre o dinheiro das pessoas, com funcionalidades como rastreabilidade total, juros negativos ou bloqueios automáticos.
Como pondera, esse é o cerne do debate em países que avançaram no desenho de carteiras diretas para a população.
A discussão se entrelaça com a política nos Estados Unidos.
Ulrich lembrou que estados como a Flórida aprovaram leis que restringem o reconhecimento de uma eventual CBDC como “dinheiro” em seu ordenamento comercial.
Ele mencionou também que, em janeiro de 2025, o então presidente Donald Trump assinou um decreto proibindo o desenvolvimento e o uso de uma CBDC no país.
Na leitura do economista, o ambiente externo ajuda a explicar a cautela brasileira com o modelo de varejo e reforça a escolha por uma entrega incremental.
E os BRICS e a “desdolarização”?
O título deste conteúdo remete a expectativas de integração aos BRICS e de redução da dependência do dólar.
Ulrich reconhece que essas narrativas ganharam força em parte da imprensa e nas redes, mas destaca que o Banco Central do Brasil vem descrevendo o Drex como um projeto de modernização doméstica da infraestrutura financeira.
Como ele frisou, o BC participa de fóruns internacionais sobre pagamentos transfronteiriços e acompanha testes de plataformas multicentrais, porém não há confirmação oficial de que o Drex, nesta fase, será ferramenta direta de integração dos BRICS nem de política ativa de “desdolarização”.
Segundo o economista, associar o lançamento de 2026 a uma guinada geopolítica imediata seria extrapolar o que está documentado.
A etapa anunciada pelo BC tem escopo delimitado e não envolve o público em geral, tampouco a circulação internacional de uma “moeda digital brasileira” em substituição ao real físico.
“Como se proteger?”: o que disse Fernando Ulrich
A pergunta que mais chegou ao economista, segundo relatou no vídeo, foi se “já é hora de sair do Brasil” ou tomar medidas defensivas urgentes por causa do Drex.
Conforme Ulrich, “não há, por ora, necessidade de proteção extraordinária” ligada ao início operacional do projeto em 2026, justamente porque a entrega prevista é técnica e voltada a bastidores, sem carteiras do BC para o cidadão.
Ele acrescenta que o debate sobre privacidade deve continuar, pois alterações futuras de escopo — especialmente se o país um dia cogitar uma CBDC de varejo — exigiriam escrutínio público e salvaguardas legais.
Enquanto isso, o economista aconselha a acompanhar as comunicações oficiais do Banco Central e a distinguir a atual fase, de infraestrutura para garantias e reconciliação, de propostas que envolveriam a moeda do dia a dia.
Como destacou, “Drex não é o ‘real digital’ de uso popular” e, no curto prazo, o Pix segue como a principal ferramenta de pagamentos do país.
Em que ponto estamos e o que observar a seguir
De acordo com Fernando Ulrich, os próximos marcos incluem detalhamento técnico da solução de reconciliação de gravames, definição da arquitetura substituta ao DLT do piloto e novas orientações do BC sobre tokenização.
Ele lembra que a comunicação oficial vem evoluindo para reduzir confusões com a ideia de “moeda digital para pessoas físicas”, enquanto o projeto se firma como infraestrutura para crédito e mercado de capitais.
Com esse mapa, a orientação do economista é clara: separar o que está efetivamente anunciado do que permanece apenas como hipótese — e cobrar transparência sobre privacidade, governança e limites de uso em qualquer expansão futura.
Diante dessas mudanças, que dúvidas ainda precisam ser respondidas para que a sociedade acompanhe o Drex com segurança e senso crítico?