Projeto do Banco Central promete modernizar o sistema financeiro brasileiro, enquanto o ministro da Fazenda defende que a nova moeda digital não foi criada para controle social, mas para aumentar a transparência das operações.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o Drex permite mecanismos de rastreabilidade, mas rejeitou a ideia de que o projeto do Banco Central tenha sido concebido para vigilância.
Em entrevista publicada em 27 de setembro, ele disse que “dá para ter controle com o Drex, mas não é para isso que ele serve”, associando a iniciativa à transparência do sistema financeiro.
O ministro também chamou o Pix de “moeda digital soberana”, ao defender o arranjo de pagamentos instantâneos criado no Brasil.
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O que disse Haddad sobre controle e transparência
Ao ser questionado sobre receios de parte do público em relação a suposto “controle social”, Haddad respondeu que não há um “mecanismo de controle” embutido no desenho do Drex.
Segundo ele, a tecnologia amplia a transparência das transações, o que costuma ser confundido com fiscalização direta do cidadão.
O ministro reforçou que o objetivo do projeto é modernizar infraestruturas financeiras e não monitorar comportamentos individuais.
Indagado se apoiava o Drex, Haddad respondeu de forma objetiva e atribuiu a condução do cronograma ao Banco Central.
Em sua avaliação, o projeto faz parte de um conjunto de ferramentas para tornar o crédito mais eficiente e o mercado financeiro mais integrado a plataformas digitais, preservando regras de sigilo e proteção de dados.
Cronograma do Drex
A agenda de desenvolvimento do Drex é definida pelo BC, que conduz pilotos e testes com instituições autorizadas.
Não há data oficial de lançamento ao público.
Comunicados e entrevistas recentes da autoridade monetária apontam que a estreia ao usuário final foi adiada em relação às expectativas iniciais e que uma implementação restrita — voltada a serviços de bastidor do sistema financeiro — passou a ser considerada para 2026.
O foco, nessa primeira etapa, tende a ser a reconciliação de garantias e a integração de registros entre instituições, sem funcionalidades amplas para o varejo.
Em termos práticos, isso significa que o Drex não deve surgir, numa primeira versão, como um “novo aplicativo” para a população.
A prioridade é infraestrutura: padronizar e automatizar processos hoje fragmentados, reduzir custos operacionais e aumentar a segurança jurídica de operações que usam garantias financeiras.
Pix e soberania digital
Durante a entrevista, Haddad afirmou que o Pix é uma “moeda digital soberana” e defendeu que o sistema ganhou tração, a ponto de gerar incômodo em setores tradicionais do mercado.
Tecnicamente, o Pix é um sistema de pagamentos instantâneos operado pelo Banco Central e não uma moeda.
A observação do ministro foi feita no contexto de soberania tecnológica: trata-se de uma infraestrutura nacional que reduz custos e disputa espaço com meios de pagamento privados.
O chefe da Fazenda também comentou reações internacionais ao avanço do Pix, mencionando questionamentos de autoridades estrangeiras.
Ele sustentou que o arranjo brasileiro é legítimo, competitivo e beneficia o usuário final com eficiência e gratuidade nas transferências entre pessoas físicas.
Ciberataques e impacto na agenda
Haddad vinculou parte dos atrasos do projeto do Drex à necessidade de o BC lidar com ataques cibernéticos recentes que afetaram instituições conectadas ao ecossistema de pagamentos.
De acordo com o ministro, episódios envolvendo fraudes e invasões levaram a autoridade monetária a redirecionar esforços para reforçar a segurança do arranjo — incluindo medidas cautelares e ajustes regulatórios.
Relatos públicos indicam que, nos últimos meses, ocorreram incidentes relevantes contra prestadores de serviço de tecnologia e instituições participantes do sistema, com impactos financeiros bilionários reportados pelo setor.
O Banco Central adotou ações emergenciais, como suspensões temporárias de participantes sob investigação, enquanto avança em diagnósticos de vulnerabilidades e aperfeiçoamentos de supervisão.
Para o Ministério da Fazenda, a priorização da segurança do Pix e do SPB é condição para que novas camadas digitais — entre elas o Drex — avancem com resiliência e confiabilidade.
O que é e o que não é o Drex
O Drex é o nome do projeto de moeda digital do Banco Central que pretende criar uma infraestrutura oficial para liquidação e registro de ativos em ambiente digital, com governança do Estado e participação do sistema financeiro regulado.
Na fase atual, o BC indica que a ênfase está em aplicações interbancárias e na automatização de processos de crédito.
Há, contudo, pontos já esclarecidos pelas autoridades.
O Drex não substitui o dinheiro em espécie.
O BC e a Secretaria de Comunicação do governo federal vêm reiterando que cédulas e moedas continuarão em circulação, e que o Drex não foi concebido para monitorar a população.
Também não se trata de criptomoeda: o projeto é uma moeda digital oficial, com emissão e controle pela autoridade monetária, sujeita às mesmas diretrizes do Real.
Outra frente de dúvidas envolve a tecnologia.
A comunicação recente do Banco Central e de dirigentes ligados ao projeto tem sinalizado ajustes na arquitetura inicialmente testada, com mudança de escopo e “desidratações” na primeira entrega.
O objetivo declarado é superar gargalos de privacidade, escalabilidade e compliance, ao mesmo tempo em que se busca manter ganhos de eficiência para o sistema.
Próximos passos do Drex
O avanço do Drex depende de três frentes: entregas técnicas do piloto, aperfeiçoamentos regulatórios e robustez cibernética do ecossistema.
Enquanto o BC organiza a agenda de testes, o Ministério da Fazenda mantém apoio institucional, mas reitera que a decisão sobre ritmo e desenho da implementação cabe ao Banco Central.
Nesse meio-tempo, o Pix continua a expandir funcionalidades, e o debate público sobre soberania, privacidade e competição no setor de pagamentos permanece no centro da discussão sobre o futuro digital do Real.
Diante da combinação de expectativas e receios, qual deve ser a prioridade na primeira versão do Drex: resolver os bastidores do crédito com mais segurança ou acelerar a chegada de benefícios diretos ao usuário comum?