A valorização do real ajuda, mas o risco fiscal impede aceleração na redução dos juros.
Segundo André Lion, sócio e CIO de ações da Ibiuna Investimentos, o dólar fraco tem colaborado para aliviar pressões inflacionárias no Brasil, mas não é suficiente para justificar cortes acelerados da taxa Selic. A autoridade monetária ainda observa riscos fiscais que podem comprometer a estabilidade do cenário.
Já Jerson Zanlorenzi, idealizador do Morning Call e head da mesa de ações e derivativos, reforça que, embora o real mais forte seja positivo, o Banco Central precisa manter prudência.
Reduzir juros rápido demais poderia obrigar uma reversão futura, com custos ainda maiores para a economia.
-
Lei antidesmatamento da UE é adiada, mas mantém rastreabilidade total e o agro brasileiro aposta em seguro de custódia para evitar bloqueios
-
Nova lei cria ‘auxílio’ para quem vai ao trabalho de bicicleta e garante até 50% do valor do transporte no bolso do trabalhador
-
Banco do Brasil, Caixa, Bradesco e outros devem emitir mensagem de bloqueio em várias chaves Pix nos próximos dias com base na Resolução 501 e novo sistema automático de alerta do Banco Central
-
Na ONU, Donald Trump afirma que Brasil fracassará sem apoio dos Estados Unidos e critica tarifas consideradas injustas no passado
O impacto do dólar fraco na inflação
O enfraquecimento do dólar no mercado internacional favorece o Brasil por dois canais: queda nos preços de commodities importadas e valorização do real frente à moeda americana.
Esse movimento reduz a pressão sobre os preços domésticos, especialmente alimentos e combustíveis.
No entanto, como lembra Lion, o efeito cambial é apenas uma parte da equação.
A política monetária precisa considerar também a trajetória fiscal do país, que continua como fonte de incerteza para investidores e pode limitar os efeitos positivos do câmbio.
Por que o Banco Central mantém a cautela
O Banco Central não quer repetir erros do passado, quando cortou juros de forma prematura e precisou reverter a trajetória pouco tempo depois.
Zanlorenzi ressalta que a comunicação da autoridade monetária é tão importante quanto a decisão em si, pois orienta expectativas do mercado.
Assim, mesmo com o dólar fraco, a prioridade é garantir que a inflação esteja de fato convergindo para a meta, sem abrir espaço para novos choques de credibilidade.
O risco fiscal segue como a principal trava para cortes mais agressivos.
O fator externo: Fed e produtividade americana
Outro elemento citado pelos especialistas é a política monetária dos Estados Unidos. O Federal Reserve equilibra inflação e emprego, e sua comunicação afeta diretamente o fluxo global de capitais.
Se o Fed sinalizar cortes, o Brasil pode ganhar espaço para reduzir juros sem pressionar o câmbio.
Ao mesmo tempo, discute-se se ganhos futuros de produtividade com inteligência artificial podem aliviar o fiscal americano.
Mas, para Lion, esse efeito é de longo prazo e não resolve os dilemas atuais da economia global.
Brasil versus Estados Unidos no radar fiscal
Enquanto os EUA contam com o privilégio de emitir a moeda global e sustentar déficits por mais tempo, o Brasil precisa dar respostas rápidas para manter a confiança.
A diferença de percepção entre investidores estrangeiros e locais sobre o risco fiscal brasileiro reforça a necessidade de disciplina.
Nesse contexto, o dólar fraco é um alívio temporário, mas não substitui reformas estruturais ou ajustes fiscais que sustentem um ciclo mais longo de cortes na Selic.
O debate entre André Lion e Jerson Zanlorenzi mostra que o dólar fraco anima o mercado, mas não basta para mudar a estratégia do Banco Central.
A política monetária precisa ser firme, mesmo sob pressão, para não perder a confiança conquistada a duras penas.
E você, acredita que o Banco Central deveria aproveitar o dólar fraco para acelerar os cortes da Selic, ou a cautela é o caminho certo diante do risco fiscal?
Deixe sua opinião nos comentários e participe do debate.