Nem com o dólar despencando o preço da gasolina e do diesel da um alívio no bolso dos brasileiros. Sem contar o etanol que atingiu a casa dos R$ 6 e o GNV R$ 5 em algumas regiões brasileiras, deixando o consumidor de mãos e pés atados.
O dólar vem se desvalorizando em relação ao real e acumula perdas abaixo dos R$ 5 – uma marca que não era atingida há praticamente um ano. A moeda americana fechou cotada a R$ 4,96 na última quarta-feira (23/6), valor próximo do que havia sido registrado em junho do ano passado. Porém, os brasileiros que contaram com um alívio no bolso referente aos gastos com combustíveis, já que a moeda norte-americana influencia o preço do petróleo e de seus derivados, acabou se frustrando na hora de abastecer com a gasolina ou diesel. Sem contar, que atualmente, o etanol atingiu a casa dos R$ 6 e o GNV R$ 5 em algumas regiões brasileiras, deixando o consumidor de mãos e pés atados.
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A alta da moeda americana frente ao real beneficia exportadores brasileiros, mas também causa prejuízos à economia. A taxa de câmbio é apontada como um dos fatores que farão o Brasil ultrapassar a meta de inflação do Banco Central (BC) neste ano. Com o dólar mais caro, insumos importados ficam também mais caros para o consumidor brasileiro, provocando um aumento no custo de vida.
Para quem espera uma redução nos preços, com base apenas na variação do dólar, Rafael Schiozer, professor de finanças da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas (EAESP/FGV), diz que a variação do preço do combustível costuma ser em torno da metade da do câmbio. “Se o dólar cair 5%, vai cair aproximadamente metade (2,5%) disso na bomba”, diz Schiozer.
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Por que os preços da gasolina e do diesel não acompanham o dólar?
O preço da gasolina vem aumentando nos postos de combustíveis, semana a semana desde a metade de abril, e o preço do diesel sobe sem pausas desde o início de maio. Realidade bem diferente da previsão do governo, que projetou que o preço dos combustíveis no país iria “baixar de novo”, devido à queda do dólar.
O litro da gasolina comum nas bombas avançou 28,24%, passando de R$ 4,426 na semana de 11 a 17 de abril para R$ 5,676 na semana passada (2 a 6 de junho). Nesse mesmo período, o dólar recuou 9,73%, dizem os dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis).
Já o óleo diesel sofreu alta de 7,05%, indo de R$ 4,196 (semana de 25 de abril a 1º de maio) para R$ 4,492 na última semana. A queda do dólar nesse intervalo foi de 6,8%.
Para especialistas no assunto, o preço da gasolina e do diesel não acompanha o dólar, porque depende de vários fatores de toda a cadeia de produção dos combustíveis. “Além da cotação internacional do petróleo, que também depende do câmbio em função de ele ser negociado em dólar, estão incluídos no preço final os custos com frete, distribuição do produto e também uma margem [de lucro] para remunerar a operação”, explica Carla Ferreira, pesquisadora do Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis).
Outro fator importante: internacionalmente, o preço do barril de petróleo está em rota de alta, tocando a faixa dos US$ 70, devido à alta procura. Como o Brasil é um importador de combustíveis, essa cotação tende a pesar nos preços internos.
“O custo internacional das commodities sofreu elevada valorização, seguindo o direcionamento dos preços do petróleo. No caso da gasolina, a elevação do custo dolarizado foi de 46%, enquanto para o óleo diesel a elevação foi de 38% neste ano. Adicionalmente, os custos logísticos internacionais apresentaram-se voláteis e superam em 1% os custos da abertura do ano”, afirma Sérgio Araújo, presidente executivo da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis).
Petrobras ficou 40 dias sem reajuste nas refinarias e por que o valor não caiu?
Mesmo que no exterior o preço do petróleo esteja mais caro, a Petrobras tem evitado fazer reajustes recorrentes na sua política de Preço de Paridade Internacional (PPI). A estatal ficou 40 dias sem mudanças, até o mais recente, anunciado no dia 11 de junho.
A petroleira brasileira reduziu em 1,9% o valor da gasolina nas refinarias e manteve o do diesel. Se a Petrobras não aumentou os preços nas refinarias, por que o valor não cai?
Especialistas dizem, que além da cotação internacional, existem diversos custos que impactam no preço final ao consumidor, como impostos federais e estaduais e logística.
Veja o que compõe o preço da gasolina:
- Remuneração da Petrobras
- Tributos federais e estaduais
- Adição de etanol
- Distribuição e revenda
O que compõe o preço do diesel:
- Remuneração da Petrobras
- Tributos federais e estaduais
- Adição de biodiesel
- Distribuição e revenda
É justamente na parte da revenda onde pode estar a explicação para esse cenário atual, em que os consumidores não sentem um alívio no bolso na hora de abastecer.
“Muitas vezes os postos de gasolina têm uma ‘autonomia’ em relação ao preço, o que faz com que uma queda do câmbio ou, por exemplo, do preço internacional do petróleo não reflita imediatamente no preço da gasolina e do diesel”, diz Rosemarie Bröker Bone, coordenadora do Laboratório de Economia do Petróleo da Escola Politécnica da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Mesmo com a redução do PIS/Cofins para o diesel, os preços nos postos ficaram mais altos
Nesse ponto, a pesquisadora do Ineep lembra que mesmo com a redução do PIS/Cofins para o diesel, no começo deste ano, pelo governo federal, os preços nos postos ficaram mais altos.
“Se pegar a última semana de fevereiro (anterior à implementação da medida) e a última semana de abril (a última da vigência), e comparar os preços, teve um aumento de R$ 0,01 no diesel”, diz Ferreira.
A adição de biocombustíveis é outro fator que poderia favorecer a elevação de preços. Segundo o presidente da Abicom, os biocombustíveis tiveram reajustes neste ano e isso resultou em impacto direto na composição dos preços finais dos produtos.
“O biodiesel adicionado ao óleo diesel fóssil foi negociado no leilão 79 (entrega para maio e junho) a um preço médio de R$ 5,50 (+6,4%). Para o leilão 80, que está em curso, o preço máximo de referência calculado pela ANP foi de R$ 8 por litro na média. Esse valor corresponde a uma elevação de 70% no preço do biocombustível”, afirma Araújo.
As consequências do dólar abaixo de R$ 5 no Brasil
Mas o que está por trás da recente valorização do real, que se fortaleceu frente ao dólar cerca de 15% em apenas três meses? — O dólar enfraqueceu por mudança nos juros americanos.
O aumento na atividade econômica – que começa a ser observado em alguns países onde a pandemia se enfraqueceu – traz um risco para todo o sistema: o do aumento da inflação, ou seja, que a maior demanda por bens e serviços provoque um aumento generalizado de preços. Inflação demais pode ser um problema para a economia, pois a alta dos preços reduz o padrão de vida dos consumidores, se não houver um aumento salarial em linha com a inflação.
Outro grande fator: o Brasil já vinha aumentando a sua taxa básica de juros desde março deste ano. A taxa Selic (o juro básico) subiu de 2% para 4,5%. Na última terça-feira (22/06), dia que o real fechou abaixo de R$ 5 pela primeira vez no ano, o Copom (órgão responsável pela decisão sobre os juros) havia divulgado sua ata detalhando os motivos da mais recente alta da taxa.
O motivo para essa alta dos juros é tentar conter a inflação brasileira, que vem se acelerando fortemente e deve fechar acima da meta estipulada pelo Banco Central. Nos últimos 12 meses até maio, a inflação brasileira já é maior que 8%. Uma das preocupações atuais das autoridades monetárias é o aumento de preços de energia, diante da seca que vive o país, que pode provocar ainda mais inflação – pressionando ainda mais os juros para cima.
Juros maiores prejudicam o consumo e o empreendimento no Brasil, mas podem ter um efeito no curto prazo de valorização da moeda nacional. A alta dos juros brasileiros serve para atrair capital estrangeiro e aumentar a demanda por reais – com investidores em busca de retornos maiores para seu capital.
Com toda essa “confusão” será que dólar deve se manter nesse patamar? Ou voltará a ficar abaixo de R$ 4 como antes da pandemia?
Acertar previsões sobre a taxa de câmbio é notoriamente um dos exercícios mais difíceis a serem feitos por economistas, investidores, políticos e empresários. Com a queda recente da cotação da moeda, as previsões voltaram a apontar para baixo. Porém segundo o mais recente Boletim Focus, estima que o dólar vai terminar 2021 cotado a R$ 5,10. Na semana anterior, os mesmos analistas previam R$ 5,18.
“Desta forma, somos cautelosos em projetar a taxa de câmbio muito abaixo dos patamares atuais. Projetamos R$ 5,10 para o final deste ano e do próximo. Não descartamos, no entanto, que no curto prazo a taxa de câmbio possa vir abaixo deste patamar.” diz o relatório assinado por seis economistas da XP.