Modelos que já foram símbolo de inovação no Brasil acabaram marcados por falhas recorrentes, altos custos de manutenção e perda de confiança entre motoristas, mudando a trajetória de vendas e a percepção no mercado automotivo nacional.
O mercado de carros no Brasil costuma rever a própria história com o passar dos anos. Modelos que chegaram a liderar conversas de oficina e conquistar compradores viram a maré mudar quando defeitos recorrentes se tornaram conhecidos.
À medida que mecânicos e proprietários identificam falhas de projeto, manutenção cara ou recomendações inadequadas, a confiança diminui e, em muitos casos, as vendas cedem.
Sob esse pano de fundo, alguns veículos passaram do entusiasmo inicial à resistência no pós-venda.
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Em comum, eles reuniram críticas de profissionais, reclamações de donos e um custo de reparo considerado alto para a categoria.
A seguir, um panorama que reorganiza os principais pontos citados por quem conviveu com esses modelos.
Fiat Marea: desempenho, refinamento e manutenção sensível
Quando desembarcou no fim dos anos 1990, o Fiat Marea tentava combinar tecnologia com um apelo de performance.
As versões equipadas com o motor 2.4 20V simbolizavam esse pacote, mas também concentraram a má fama que se espalhou depois.
A manutenção exigia conhecimento específico, as trocas de óleo recomendadas a cada 15 mil km mostraram-se inadequadas para a realidade brasileira e o preço de peças pesou no bolso.
Houve ainda um componente de desinformação. Parte das oficinas não dominava o procedimento correto e, somado à estratégia de manutenção estendida, o erro se expandiu.
Com o passar do tempo, o que era diferencial virou estigma e o modelo, fabricado no país entre 1998 e 2007, entrou no alvo de quem buscava evitar dor de cabeça.
Peugeot 206: sucesso de estreia e percalços mecânicos
Lançado no Brasil em 1998, o Peugeot 206 chegou com desenho moderno e boa aceitação.
A trajetória, no entanto, enfrentou obstáculos que mexeram com a percepção do público.
Relatos sobre o sistema de arrefecimento pouco adequado às condições locais ganharam força, assim como a ocorrência de bicos injetores que podiam se partir durante a remoção.
Na parte traseira, surgiram casos de quebra de eixo e desgaste precoce na suspensão, o que elevou o custo de conservação. Enquanto isso, proprietários se queixavam da frequência das idas à oficina.
O quadro contaminou a imagem do 206 e afetou até sua evolução comercial, já que problemas similares acompanharam a linha que ficou conhecida como Peugeot 207, cuja vida por aqui foi mais curta do que o esperado.
Ford Focus com Powershift: câmbio sob escrutínio
A confiabilidade do câmbio Powershift marcou a experiência de parte dos donos de Ford Focus, além de Fiesta e EcoSport que receberam o mesmo conjunto.
Em oficinas e comunidades de proprietários, multiplicaram-se os relatos de retentores que permitiam a passagem de óleo para a embreagem, comprometendo o funcionamento do sistema. O assunto arranhou a imagem da marca no país.
Sem uma campanha de recall amplamente reconhecida para resolver de forma definitiva o conjunto problemático, ficou a sensação de que o custo e a complexidade do reparo recairiam sobre o consumidor.
Na prática, o período de maior presença do Powershift nos modelos nacionais se concentrou entre 2013 e 2017, e a desconfiança consolidou-se na etapa de revenda, quando as perguntas sobre a manutenção do câmbio se tornaram inevitáveis.
Volkswagen Golf e DSG DQ200: promessa de esportividade, custo de conserto alto
O DSG DQ200, câmbio de dupla embreagem a seco e sete marchas, chegou cercado de expectativa por oferecer trocas rápidas e sensação esportiva.
Ele equipou o Volkswagen Golf e apareceu em outros modelos da marca, como Tiguan, Passat e Jetta, além de integrar a gama de veículos da Audi, a exemplo de A1 e A3. O pacote técnico impressionava no papel e na condução em condições ideais.
Com o uso cotidiano, porém, cresceram as reclamações de falhas e, principalmente, a percepção de que o custo de reparo era elevado para o padrão do segmento.
Consumidores passaram a associar o DQ200 a um risco orçamentário, o que afetou a atratividade dos modelos equipados com essa transmissão.
A solução, com o tempo, foi descontinuar a aplicação do conjunto em diversas versões, mas o desgaste de reputação já havia atingido o histórico de vendas e a liquidez desses carros no mercado de usados.
Chevrolet Onix: correia banhada a óleo e manutenção fora do prazo
A geração lançada em 2019 levou o Chevrolet Onix a um novo patamar de projeto, com motor três cilindros Ecotec e sistema de correia banhada a óleo. O desenho técnico prometia eficiência e baixo ruído, mas a prática cobrou disciplina.
Onde houve troca de óleo fora do prazo ou com especificação errada, multiplicaram-se os problemas associados ao conjunto.
Esse cenário atingiu a imagem do carro, ainda que o modelo permanecesse entre os mais vendidos.
A General Motors reagiu ampliando a garantia para cinco anos e iniciando campanhas de substituição da correia, inclusive para veículos usados, numa tentativa de reduzir a exposição dos clientes ao risco e conter o efeito reputacional.
O recado que ficou é direto: sistemas com maior sofisticação dependem de rotina de manutenção rigorosa para entregar o que prometem.
Por que alguns carros perdem a confiança do público
Há um fio condutor entre esses casos.
Muitas vezes, o problema não nasce na garagem do consumidor, mas em intervalos de manutenção mal dimensionados para as condições brasileiras, em componentes sensíveis a uso severo ou em procedimentos de oficina que exigem técnica e ferramental adequados.
Quando o custo do conserto se torna alto e as falhas aparecem de forma recorrente, a recomendação de especialistas muda, e as vendas respondem.
Além disso, a falta de informação padronizada amplia a sensação de risco. Proprietários recebem orientações contraditórias, peças demoram a chegar e o orçamento salta de patamar.
Nesse ambiente, a opinião dos mecânicos pesa: a cada relato negativo que se repete, o carro perde um pouco da adesão no mercado, mesmo quando a base técnica do projeto tem méritos.
Ainda assim, é possível aprender com o histórico. Aderir à especificação de óleo correta, respeitar prazos de revisão e procurar oficinas especializadas reduz a probabilidade de panes e aumenta a chance de um pós-venda mais previsível.
Marcas que identificam cedo o problema e oferecem respaldo tendem a mitigar danos e reconquistar parte da confiança perdida.
Por fim, a decisão de compra precisa considerar mais do que preço e equipamentos. Histórico de confiabilidade, custo real de manutenção e disponibilidade de assistência técnica fazem diferença no longo prazo e podem derrubar a conta de quem só olha a etiqueta da vitrine.
Diante desse panorama, qual fator pesa mais para você na hora de comprar um usado que já passou por um desses episódios: o preço atrativo, a garantia oferecida ou o custo potencial de uma falha conhecida?