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Do ferro-velho para o futuro: empresa transforma sucata de veículos em alumínio de alta resistência em somente 24 horas

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 06/09/2025 às 19:38
Pesquisadores desenvolveram técnica que recicla até 9 milhões de toneladas de alumínio de carros, criando material mais forte que o virgem.
Foto: Reprodução
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Novo método austríaco derrete sucata automotiva sem separar ligas e cria alumínio mais resistente, com potencial de economizar energia e reduzir emissões

A transição para os carros elétricos trouxe avanços importantes, mas também abriu novos problemas. Um deles está escondido nos pátios de ferro-velho: toneladas de alumínio que perderam a função. Antes, as sucatas de motores de combustão eram reaproveitadas de forma direta, criando um ciclo previsível.

Com a queda desses motores, esse processo se rompeu. O resultado é preocupante porque milhões de toneladas de alumínio correm o risco de virar materiais de baixa qualidade, num processo conhecido como downcycling. Enquanto isso, o alumínio primário continua sendo extraído, com altos custos ambientais e energéticos.

Na Europa, estima-se que entre 7 e 9 milhões de toneladas de alumínio automotivo se acumulem todos os anos. Se nada mudar, esse volume pode se transformar em um obstáculo para as metas climáticas do continente.

Uma abordagem inédita

Foi nesse contexto que pesquisadores da Universidade de Leoben, liderados por Stefan Pogatscher, desenvolveram um novo caminho. A proposta é simples no conceito, mas ousada na prática: derreter toda a sucata automotiva de alumínio sem separar as diferentes ligas. Isso rompe um princípio que dominou a reciclagem por décadas.

Até hoje, separar cada liga era visto como indispensável para manter propriedades mecânicas confiáveis. Porém, carros modernos podem ter até 40 tipos diferentes de ligas, o que torna a triagem quase inviável.

Com o novo método, todo o alumínio de um veículo é fundido em um único bloco. O material inicial, frágil e quebradiço, passa por um tratamento térmico a 500 °C durante 24 horas.

Esse processo altera sua estrutura interna e o transforma em uma liga forte, dúctil e pronta para aplicações exigentes.

Um material superior

O que surpreendeu até os próprios pesquisadores foi o resultado. Em alguns casos, as novas ligas recicladas demonstraram resistência até maior do que a do alumínio virgem.

Isso significa que poderiam ser usadas em peças de alta exigência, como chassis e armações, antes restritas a materiais primários. Além disso, todo o processo é compatível com as fundições e equipamentos já usados pela indústria, o que facilita a implementação.

Essa compatibilidade é essencial porque reduz barreiras de custo e infraestrutura. Em setores conservadores, como o automotivo, essa adaptação rápida pode acelerar a aceitação.

Resistências e dúvidas

Apesar da promessa, há obstáculos a enfrentar. Geoffrey Scamans, da Universidade Brunel, alerta que peças de veículos precisam atender a padrões de segurança muito rígidos.

Portanto, cada lote reciclado deve mostrar resultados consistentes. O problema é que nem todo carro tem a mesma combinação de ligas, o que pode gerar variações imprevisíveis.

Mark Schlesinger, da Universidade de Ciência e Tecnologia do Missouri, reforça a preocupação. Ele lembra que a química não pode ser deixada ao acaso. Conhecer a composição de cada fusão é essencial para a confiabilidade. Isso pode exigir custos adicionais com monitoramento e padronização em larga escala.

O impacto ambiental

Mesmo com desafios, os ganhos potenciais para o meio ambiente são imensos. A produção primária de alumínio está entre os processos industriais mais intensivos em energia do planeta. Além do consumo elétrico, emite grandes quantidades de CO₂ e gera resíduos.

A reciclagem, por outro lado, pode consumir até 95% menos energia. Transformar milhões de toneladas de sucata em material nobre evitaria emissões massivas e reduziria a pressão sobre minas de bauxita, muitas delas localizadas em áreas frágeis.

Além disso, a solução fortalece a economia circular. Em vez de exportar resíduos sem valor, países podem gerar empregos locais em reciclagem avançada, criando cadeias produtivas mais limpas e sustentáveis.

Testes e próximos passos

A ideia já saiu do papel e começa a ser testada. Países como Alemanha, Suécia e França investem em linhas-piloto para validar tecnologias de reciclagem.

Na Áustria, a equipe de Pogatscher negocia com fabricantes a realização de testes em ambientes reais, avaliando se o alumínio reciclado pode ser integrado à produção de veículos de grande escala.

Os próximos passos envolvem padronizar processos, ampliar o controle de qualidade e convencer a indústria de que a solução é viável. A confiança será determinante para que o método se torne parte da produção global.

Mais que uma inovação técnica

O que está em jogo não é apenas uma descoberta científica, mas uma mudança de paradigma. Se adotado em larga escala, o processo pode ser replicado em outros setores, como aeronáutica, construção e eletrônica, todos grandes consumidores de alumínio. A inovação oferece ainda benefícios adicionais:

  • Reduz custos energéticos de fabricação.
  • Protege habitats naturais ao diminuir a mineração.
  • Melhora a eficiência energética dos produtos finais.
  • Incentiva materiais mais limpos e leves.

Portanto, o impacto vai além dos carros elétricos. Ele atinge a maneira como as sociedades produzem e reutilizam os recursos que sustentam a vida moderna.

Uma revolução silenciosa

O método desenvolvido na Áustria mostra que reciclagem não precisa ser sinônimo de perda de qualidade. Pelo contrário, pode gerar materiais mais fortes, úteis e valiosos. O que parecia um problema sem solução pode se transformar em vantagem competitiva para a indústria europeia. Além disso, abre caminho para reduzir emissões e economizar energia em escala global.

Porque, no fim das contas, essa inovação não trata apenas de sucata. Trata-se de redesenhar nossa relação com os recursos e dar um novo significado ao que chamamos de reciclagem.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor.

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