Minas abandonadas podem virar baterias gravitacionais para armazenar energia, segundo estudo. A tecnologia pode reduzir custos e criar novas oportunidades
Minas abandonadas costumam ser vistas como estruturas sem utilidade. No entanto, um estudo publicado em 2023 sugere que esses espaços podem ter uma nova função: servir como baterias gravitacionais para armazenamento de energia.
A proposta vem de cientistas do Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicados (IIASA), na Áustria.
Como funciona uma bateria gravitacional
Baterias gravitacionais são sistemas que geram eletricidade ao liberar uma carga pesada, permitindo que ela caia. Quando há excesso de energia na rede elétrica, o sistema usa parte dessa energia para levantar a carga novamente, armazenando eletricidade para uso futuro.
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O exemplo mais comum desse tipo de tecnologia é o sistema hidrelétrico de armazenamento bombeado. Ele funciona liberando água de um reservatório elevado, acionando turbinas para gerar eletricidade. Quando há energia sobrando, essa água é bombeada de volta ao reservatório para ser usada depois.
Os pesquisadores do IIASA propuseram uma alternativa para esse sistema. Em 2022, eles sugeriram o uso de elevadores em prédios altos para mover cargas pesadas entre andares.
A descida geraria eletricidade por meio de um sistema de frenagem regenerativa. Robôs independentes ajudariam a carregar e descarregar os pesos conforme necessário.
O uso de minas abandonadas
A nova proposta do IIASA adapta esse conceito para minas abandonadas. O sistema, chamado Underground Gravity Energy Storage (UGES), usaria elevadores nos poços dessas minas para mover grandes quantidades de areia.
O movimento de descida geraria energia, enquanto a energia excedente da rede seria usada para levantar a carga novamente.
Cada elevador contaria com motores e geradores elétricos nas laterais do poço. Esses equipamentos capturariam a energia liberada durante a descida e transformariam em eletricidade. Quando fosse necessário armazenar energia, o mesmo sistema gastaria parte dela para levantar a carga de volta.
Para manter a operação contínua, os elevadores descarregariam a areia na parte inferior do poço e retornariam vazios à superfície. Com o tempo, a areia se acumularia no fundo.
Para evitar esse problema, quando havia sobra de energia na rede, parte da areia seria levada de volta à superfície por meio de correias transportadoras e trens basculantes.
Potencial global do sistema
Os cientistas estimam que o UGES poderia armazenar entre 7 e 70 terawatts-hora (TWh) de energia em todo o mundo. A tecnologia seria mais viável em países com muitas minas desativadas, como China, Índia, Rússia e Estados Unidos.
Além da questão energética, os pesquisadores destacam um impacto econômico positivo. O fechamento de uma mina geralmente resulta na perda de milhares de empregos.
A UGES poderia amenizar esse problema, criando novas oportunidades de trabalho e aproveitando a infraestrutura já existente nas minas. Como muitas dessas instalações já estão conectadas à rede elétrica, o custo de implementação do sistema seria reduzido.
“Quando uma mina fecha, ela demite milhares de trabalhadores […] A UGES criaria algumas vagas, pois a mina forneceria serviços de armazenamento de energia após interromper as operações“, disse Julian Hunt, do IIASA, autor principal de um artigo sobre o estudo. “As minas já têm a infraestrutura básica e estão conectadas à rede elétrica, o que reduz significativamente o custo e facilita a implementação de usinas UGES.“
Desde a publicação do estudo, Hunt afirma ter sido procurado por diversas partes da tecnologia. Entre eles, três proprietários de minas, dois investidores e três desenvolvedores de projetos manifestaram interesse na implementação do sistema em minas abandonadas.
Além disso, o pesquisador afirma que está desenvolvendo novos conceitos de armazenamento de energia gravitacional. Esses projetos deverão ser apresentados ao público até o final de 2025.
Com informações de New Atlas.