Cientistas dão o primeiro passo para construir o DNA humano do zero. Projeto ousado com potencial para curar doenças e criar vida sintética.
Em um marco científico inédito, um grupo de pesquisadores britânicos iniciou um projeto ambicioso para criar, do zero, partes do DNA humano em laboratório.
A iniciativa, anunciada em julho de 2025, está sendo liderada pelo Laboratório de Biologia Molecular do Conselho de Pesquisa Médica (MRC), em Cambridge, com financiamento inicial de £10 milhões (cerca de R$ 75 milhões) da Wellcome Trust, maior instituição beneficente de saúde do mundo.
A ideia é desenvolver formas de sintetizar blocos completos de DNA para desvendar os mistérios da vida humana, melhorar tratamentos médicos e, futuramente, reescrever os caminhos da saúde global.
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A pesquisa, considerada um “salto revolucionário” pela comunidade científica, será conduzida em etapas, respeitando diretrizes éticas e científicas rigorosas. Ela ocorre 25 anos após o fim do Projeto Genoma Humano, que mapeou todos os genes do ser humano, e promete inaugurar uma nova era na biologia artificial.
DNA artificial: o novo capítulo da biologia moderna
O DNA, principal código genético que compõe a vida humana, é formado por quatro letras químicas — A, T, C e G — repetidas em sequências que moldam tudo o que somos fisicamente.
O novo projeto, chamado de “Genoma Humano Sintético”, quer ir além de ler esse código: pretende construí-lo do zero, molécula por molécula.
Segundo Julian Sale, pesquisador do MRC, essa iniciativa “é o próximo grande salto da biologia”. A equipe pretende, em um primeiro momento, fabricar cromossomos sintéticos, que poderão ser testados e manipulados em laboratório.
Com isso, os cientistas esperam compreender como os genes atuam em processos vitais e como mutações específicas estão ligadas a doenças.
Da leitura à criação: o poder de montar a vida do início
O Projeto Genoma Humano, concluído em 2001, permitiu que os cientistas lessem o código genético completo. Agora, a proposta é construir, como peças de Lego, trechos desse código para experimentar combinações, estudar funções genéticas e, com o tempo, propor soluções para doenças raras ou incuráveis.
Matthew Hurles, diretor do Wellcome Sanger Institute, explica: “Construir o DNA a partir do zero nos permite testar como ele realmente funciona e validar novas teorias. Hoje, só conseguimos isso ajustando o DNA que já existe nos organismos vivos.”
Essa capacidade abre portas para terapias genéticas mais eficazes, novos medicamentos e até a prevenção de doenças genéticas hereditárias, o que pode transformar a forma como cuidamos da saúde.
Entre promessas e dilemas: a ética da criação artificial
Embora inovadora, a pesquisa também levanta alertas éticos. Críticos temem que a engenharia genética avance em direção à criação de “bebês projetados” ou alterações hereditárias irreversíveis.
Pat Thomas, diretora do grupo Beyond GM, alerta: “Gostamos de pensar que todos os cientistas estão aqui para o bem, mas a ciência pode ser reaproveitada para causar danos ou até ser usada como arma.”
A Wellcome Trust, no entanto, afirma que o objetivo é o benefício coletivo, com foco em descobertas científicas que respeitem princípios éticos e humanos. Segundo a entidade, “há mais potencial de fazer o bem do que o mal”.
O futuro da saúde passa pelo DNA sintético
À medida que o projeto avança, o impacto na vida humana pode ser profundo. Se os cientistas conseguirem montar cromossomos funcionais e testá-los em células, será possível analisar mutações causadoras de câncer, doenças autoimunes, distúrbios neurológicos e genéticos com uma precisão inédita.
Além disso, o projeto abre portas para entender melhor como nossos corpos funcionam em nível celular, o que representa um salto não apenas para a medicina, mas também para a compreensão da natureza biológica da vida.
O DNA artificial, longe de ser um conceito futurista, está se tornando uma realidade que pode transformar a forma como encaramos o corpo humano, a doença e o próprio conceito de existir. E, embora o caminho seja complexo, o que está em jogo é nada menos do que o futuro da nossa espécie.