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DNA antigo revela presença humana no Saara há 7 mil anos, quando a região ainda possuía vegetação abundante

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 17/04/2025 às 09:53
DNA antigo revela presença humana no Saara há 7 mil anos, quando a região ainda possuía vegetação abundante
Foto: DNA antigo revela presença humana no Saara há 7 mil anos, quando a região ainda possuía vegetação abundante – IA
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Pesquisadores decifram genomas de mulheres enterradas no Saara e revelam que o deserto já foi uma savana verde habitada por pastores e repleta de lagos e animais selvagens.

Pesquisadores descobriram que o deserto do Saara, hoje uma das regiões mais áridas e inóspitas do planeta, já foi o lar de comunidades humanas organizadas há cerca de 7.000 anos. A conclusão veio após o sequenciamento completo do DNA antigo no Saara, extraído de dois esqueletos femininos encontrados no sítio arqueológico de Takarkori, no sudoeste da Líbia.

A região, hoje coberta por areia e pedras sob um sol escaldante, foi no passado uma vasta área verde, com lagos, rios e fauna abundante — cenário ideal para a sobrevivência humana. Os estudos genéticos, considerados pioneiros, revelam detalhes surpreendentes sobre a vida no chamado Saara verde, desafiando o que se sabia até então sobre ocupações humanas em áreas desérticas.

DNA antigo no Saara revela linhagem isolada

A análise dos genomas completos dos dois indivíduos mostrou que eles pertenciam a uma população geneticamente isolada, sem qualquer ligação com grupos contemporâneos da África Subsaariana. Essa separação sugere que o deserto do Saara, mesmo em sua fase verde, não era uma rota comum de migração ou contato entre povos.

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As duas mulheres cujos restos mortais foram analisados viviam em uma sociedade aparentemente pequena e estável, com pouco contato genético externo. O DNA antigo no Saara representa a primeira vez que cientistas conseguem recuperar e sequenciar DNA humano completo de uma região tão quente e seca quanto o Saara, um feito que levou mais de duas décadas desde a escavação inicial.

Vida no Saara verde: pastores e pescadores

Os dados arqueológicos e genéticos apontam que as comunidades de Takarkori, no período em questão, tinham hábitos que combinavam pecuária e pesca. Evidências no sítio revelam o consumo de peixes e a criação de cabras e ovelhas, o que sugere um estilo de vida parcialmente nômade.

Além dos dois esqueletos analisados, pesquisadores localizaram ao menos 15 corpos, entre mulheres e crianças, enterrados na região. A presença de tantos indivíduos reforça a hipótese de uma ocupação contínua e estruturada, com organização social e práticas culturais estabelecidas.

Vegetação e clima favorável sustentavam grandes animais

Sete milênios atrás, o clima no Saara era radicalmente diferente do que se vê hoje. Registros geológicos indicam a presença de lagos permanentes, rios volumosos e vegetação de savana, cenário capaz de abrigar animais como hipopótamos e elefantes. Esses elementos criavam um ecossistema ideal para a instalação de comunidades humanas, atraídas pela fartura de recursos naturais.

Esse ambiente propício começou a mudar cerca de 5.000 anos atrás, quando alterações climáticas intensas deram início ao processo de desertificação da região. O avanço do deserto acabou por isolar ainda mais os povos que ali viviam, contribuindo para a manutenção da identidade genética preservada nos restos mortais descobertos.

Estudo com descoberta de DNA antigo no Saara foi publicado em revista científica internacional

A pesquisa, coordenada por cientistas da Universidade Sapienza de Roma, foi publicada na conceituada revista Nature. Os autores destacam que a obtenção do genoma pré-histórico em condições tão adversas é uma conquista rara na arqueogenética, principalmente devido à deterioração acelerada de materiais biológicos em ambientes áridos.

Os esqueletos analisados foram descobertos ainda em 2003, mas apenas agora, 22 anos depois, a tecnologia permitiu o sequenciamento genético completo, graças ao bom estado de preservação dos tecidos, pele e ligamentos. O estudo abre novas possibilidades para entender o passado genético da África e as rotas humanas em períodos anteriores à desertificação do Saara.

Intercâmbio cultural sem mistura genética

Mesmo sem traços genéticos de contato com outros povos, os habitantes de Takarkori parecem ter adotado práticas comuns em outras regiões da África, como o pastoreio. Isso sugere que houve intercâmbio cultural, ainda que sem cruzamentos genéticos significativos.

A adoção de hábitos como domesticação de animais pode ter ocorrido por observação, troca de conhecimento em encontros esporádicos ou por migração de pequenos grupos. A combinação desses fatores ajudou a moldar uma sociedade com características próprias, adaptada ao ambiente e com forte autonomia cultural.

Um novo olhar sobre a história humana no deserto

A revelação de que o Saara já foi habitado por comunidades humanas organizadas e tecnologicamente avançadas para seu tempo desafia as ideias convencionais sobre a ocupação de desertos. Antes visto apenas como uma barreira natural à dispersão humana, o deserto do Saara se apresenta agora como uma região viva e dinâmica na história do continente africano.

A descoberta também amplia o conhecimento sobre as migrações humanas pré-históricas e sobre as adaptações ao ambiente. O estudo reforça a ideia de que a história do Saara não é feita apenas de areia e calor, mas também de pessoas, culturas e paisagens verdes que marcaram a trajetória da humanidade.

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Valdemar Medeiros

Jornalista em formação, especialista na criação de conteúdos com foco em ações de SEO. Escreve sobre Indústria Automotiva, Energias Renováveis e Ciência e Tecnologia

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