Dívida pública é maior do que estão dizendo. Novo cálculo, apresentado pelo economista Fernando Ulrich, mostra que valor real da dívida do Brasil pode estar perto de 100% do PIB, acima do número oficialmente divulgado
A dívida pública brasileira já preocupa economistas, mas dados mais completos indicam que a situação pode ser ainda mais grave do que o informado oficialmente. Segundo análises de mercado, ao incluir os títulos emitidos e hoje mantidos na carteira do Banco Central, o total da dívida se aproxima de 99% do PIB — quase 22 pontos percentuais acima do número usado pelo governo.
O dado revela que a trajetória de endividamento segue piorando, com crescimento mais rápido que a economia e custo elevado para o Tesouro Nacional. O especialista econômico Fernando Ulrich alerta que, sem ajuste fiscal, a dívida tende a se tornar insustentável nos próximos anos.
O que os números oficiais não mostram
O cálculo tradicional da dívida pública considera apenas os títulos em circulação fora do Banco Central. Com isso, o percentual divulgado no fim de 2024 foi de 76,5% do PIB. No entanto, quando se incluem os títulos que estão no balanço da autoridade monetária — emitidos para cobrir déficits e usados em operações de política monetária — o índice salta para quase 100%.
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Essa diferença metodológica faz com que o Brasil pareça menos endividado do que realmente está. Para comparação, os EUA têm dívida equivalente a 124% do PIB, mas usando a mesma metodologia aplicada internacionalmente, a brasileira ficaria muito mais próxima desse patamar.
Por que a dívida cresce mais que a economia
Entre 2015 e 2024, a relação dívida/PIB subiu de 65,5% para 76,5%. Houve um pico de quase 87% na pandemia, uma queda até 2022 e, desde então, uma nova alta. Nos últimos anos, a dívida cresceu até 15% ao ano, enquanto o PIB avançou em média 8%.
O crescimento é agravado pelo déficit nominal, que já passa de R$ 900 bilhões considerando o pagamento de juros. Mesmo com superávits primários pontuais, eles não são sustentáveis e tendem a desaparecer com despesas represadas, como os precatórios.
Estrutura da dívida favorece custo alto
Outro problema é o perfil dos títulos emitidos. Ainda conforme o economista Fernando Ulrich, quase metade da dívida é atrelada à taxa Selic, o que encarece automaticamente o serviço da dívida quando os juros sobem. Apenas 21,6% é prefixada — o formato mais estável e usado por economias avançadas, que chegam a ter mais de 85% da dívida nesse tipo.
Além disso, o prazo médio dos títulos brasileiros é de apenas 4 anos na dívida interna, contra mais de 10 anos em países como Japão e Reino Unido. Isso obriga o Tesouro a refinanciar a dívida com frequência, aumentando a pressão sobre as contas públicas.
O papel do Banco Central no financiamento
Embora pouco discutido, o Banco Central vem absorvendo uma parcela crescente da dívida pública. Hoje, mais de 20% dos títulos emitidos estão em seu balanço — proporção maior que nos EUA. Isso significa que, indiretamente, a autoridade monetária ajuda a financiar o governo, ampliando o risco de pressões inflacionárias e reduzindo a credibilidade fiscal.
Esse acúmulo aumentou especialmente após 2014 e voltou a acelerar nos últimos dois anos, reforçando a percepção de que a dívida já está em um patamar crítico.
Ajuste fiscal como única saída
Economistas são unânimes: não há solução sustentável para a dívida pública sem controle de gastos. Cortar despesas, revisar o arcabouço fiscal e ampliar receitas de forma responsável são passos essenciais para retomar a confiança dos investidores e permitir queda consistente nos juros.
Se nada for feito, o Brasil pode enfrentar nova crise de confiança, encarecendo ainda mais o crédito e limitando a capacidade de crescimento econômico.
E você, acredita que o governo está sendo transparente sobre o tamanho da dívida pública? Acha que o ajuste fiscal é viável no cenário atual? Deixe sua opinião nos comentários.