Entenda porque dezenas de empresas brasileiras estão transferindo suas operações para o Paraguai atraídas por carga tributária simplificada e mão de obra mais barata
Durante anos, a ideia de empresários brasileiros atravessarem a fronteira e instalarem suas fábricas no Paraguai soava como algo improvável, quase uma anedota. Mas reportagens recentes do Jornal Empresas & Negócios (2023) mostram que o fenômeno deixou de ser exceção e se transformou em tendência consolidada.
Segundo essas fontes, centenas de empresas brasileiras já migraram para o Paraguai em busca de uma carga tributária muito mais leve, energia abundante e barata, legislação trabalhista menos complexa e um regime especial de incentivos para exportadores conhecido como Lei de Maquila. O resultado é um verdadeiro êxodo corporativo que impacta tanto a economia brasileira, que perde empregos e arrecadação, quanto a paraguaia, que ganha um dinamismo industrial inédito em sua história.
Carga tributária baixa no Paraguai atrai empresas brasileiras
Um dos principais fatores por trás dessa mudança é a carga tributária enxuta. Enquanto no Brasil a tributação corporativa média ultrapassa os 34% sobre o lucro, segundo dados da OCDE, no Paraguai as empresas convivem com um sistema simples e previsível:
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- Imposto de Renda Corporativo (IRACIS): 10%
- IVA (Imposto sobre Valor Agregado): 10%
- Imposto sobre dividendos: 5% a 10%
Reportagem do Jornal Empresas & Negócios (2023) destaca que esse modelo já é visto como um “sonho paraguaio” por empresários brasileiros, cansados da complexidade do sistema tributário nacional, que soma mais de 90 tributos diferentes.
Com isso, empresas que se instalam em território paraguaio conseguem economizar até 40% nos custos de produção, especialmente em setores como confecção, móveis, calçados e metalurgia — altamente intensivos em mão de obra e energia.
Energia elétrica barata e abundante: a força de Itaipu
Outro atrativo poderoso é o custo da energia elétrica. O Paraguai é dono de uma das maiores usinas hidrelétricas do mundo, Itaipu Binacional, construída em parceria com o Brasil, além de outras como Yacyretá.
Graças a essa capacidade de geração, o Paraguai oferece uma das tarifas de eletricidade mais baratas da América do Sul. Segundo dados da ANDE (Administración Nacional de Electricidad), o custo médio para indústrias é 60% inferior ao praticado no Brasil.
Para empresas brasileiras, acostumadas a conviver com bandeiras tarifárias, reajustes constantes e riscos de racionamento, essa diferença é um fator determinante para a competitividade. Setores que consomem muita energia, como alimentos processados, refrigeração e metalurgia, veem no Paraguai uma chance de reduzir drasticamente a conta de luz.
Lei de Maquila: o regime que mudou a indústria paraguaia
Além da carga tributária simplificada, o Paraguai implementou a Lei de Maquila, que concede benefícios especiais para empresas que exportam sua produção. Nesse regime, a tributação cai para 1% sobre o valor agregado em território paraguaio, um dos incentivos mais agressivos do mundo.
Segundo levantamento da Rediex (Rede de Investimentos e Exportações do Paraguai), esse regime atraiu mais de 250 empresas estrangeiras desde sua implementação, das quais uma parte significativa é brasileira.
Isso explica porque setores inteiros de confecção e manufatura já instalaram fábricas em cidades como Ciudad del Este e Hernandarias.
Mão de obra mais barata e legislação trabalhista simples
Outro diferencial está na mão de obra. O salário mínimo paraguaio é inferior ao brasileiro, e os encargos sociais também são menores.
Segundo dados do Banco Mundial (2023), o custo total de contratação de um trabalhador no Paraguai pode ser até 30% mais baixo que no Brasil.
Além disso, a legislação trabalhista paraguaia é considerada mais simples e menos burocrática. Para empresários que reclamam da rigidez da CLT no Brasil, esse aspecto se torna um fator de alívio, permitindo maior flexibilidade na gestão de equipes.
Fluxo crescente de empresas brasileiras para o Paraguai
Relatórios da Federação de Câmaras de Comércio do Mercosul indicam que mais de 800 empresas brasileiras já operam no Paraguai sob diferentes modalidades, especialmente dentro do regime maquila.
- Setor têxtil: empresas transferem linhas inteiras de confecção para aproveitar os custos menores.
- Setor automotivo: fornecedores de peças instalam filiais em território paraguaio para atender montadoras do Mercosul.
- Agroindústria: produtores de óleos, soja e milho encontram logística e energia mais baratas.
Esse movimento já é visível em regiões fronteiriças, mas também avança em Assunção e outras cidades do interior paraguaio, consolidando o país como um novo polo de produção regional.
O Brasil perde enquanto o Paraguai cresce
Para o Brasil, esse fenômeno significa perda de empregos industriais, arrecadação de impostos e capacidade produtiva.
Segundo economistas da Fundação Getulio Vargas (FGV), a desindustrialização brasileira é acelerada quando empresas optam por transferir suas plantas para o exterior.
Já para o Paraguai, o ganho é evidente. O país, historicamente dependente de exportações agrícolas e de energia, passa a diversificar sua economia, gerar milhares de empregos formais e consolidar-se como destino atrativo para investimentos estrangeiros.
Críticas e desafios do modelo paraguaio
Nem tudo, porém, é perfeito. Especialistas alertam que o Paraguai ainda enfrenta infraestrutura logística limitada, instituições mais frágeis e um mercado consumidor interno pequeno.
Entretanto, como destacou reportagem do Empresas & Negócios (2023), esses desafios são compensados pelo acesso direto ao Mercosul, que permite às empresas produzir no Paraguai e vender para países vizinhos com tarifas reduzidas.
O que antes parecia piada virou realidade: cada vez mais empresas brasileiras atravessam a fronteira para produzir no Paraguai.
O país vizinho oferece uma combinação rara de impostos baixos, energia barata, incentivos fiscais e mão de obra acessível, o que o transforma em refúgio fiscal e produtivo em plena América do Sul.
Para o Brasil, fica o alerta: enquanto a reforma tributária segue em debate sem avanços concretos, o Paraguai já se apresenta como alternativa competitiva e, na prática, conquista indústrias inteiras que antes garantiam empregos e arrecadação em território nacional.