Carros elétricos chineses de baixo custo estão mudando o cenário da indústria automotiva, impulsionando a entrada de novos concorrentes, desafiando marcas tradicionais e provocando medidas de proteção em mercados estratégicos.
O avanço dos carros elétricos chineses, especialmente modelos de baixo custo, está transformando a indústria automobilística global e desencadeando respostas em países tradicionais do setor.
Na China, o BYD Seagull, que chegou à Europa como Dolphin Surf, representa o fenômeno dos compactos elétricos que combinam tecnologia, preço reduzido e grande apelo de mercado.
Lançado em 2023, o veículo rapidamente conquistou consumidores chineses e, ao ser apresentado ao público europeu, chamou atenção por seu valor inicial de aproximadamente £18 mil, equivalente a R$ 135 mil, um patamar considerado acessível para padrões ocidentais.
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Este movimento elevou o nível da disputa entre fabricantes globais e abriu espaço para discussões sobre competitividade, segurança e futuro da mobilidade elétrica.
BYD lidera vendas globais de carros elétricos
Segundo reportagem publicada pelo g1, a BYD, fabricante responsável pelo Dolphin Surf, se consolidou como líder em vendas de veículos elétricos em 2024, ultrapassando marcas de renome como a Tesla e expandindo operações para o continente europeu.
Esse crescimento acompanha a ascensão de outras empresas chinesas, como Nio, Xpeng, Zeekr e Omoda, além de nomes já conhecidos do público brasileiro e europeu, como MG, Volvo e Lotus, que atualmente pertencem a grupos chineses.
A participação dessas companhias se estende de modelos compactos urbanos até supercarros tecnológicos, evidenciando a amplitude de atuação das marcas da China.
Números que evidenciam a ofensiva comercial chinesa
O impacto dessa ofensiva comercial pode ser observado em números recentes do setor.
De acordo com apuração do portal g1, dados da consultoria Rho Motion apontam que, em 2024, foram vendidos 17 milhões de veículos movidos a bateria e híbridos plug-in em todo o mundo, dos quais 11 milhões apenas na China.
As marcas chinesas já representam cerca de 10% das vendas globais de veículos elétricos e híbridos fora de seu país de origem, porcentagem que tende a crescer diante do interesse por alternativas de alta tecnologia e baixo custo.
Políticas industriais e competitividade tecnológica
O desenvolvimento acelerado das montadoras chinesas resulta de políticas industriais robustas e planejamento de longo prazo.
O setor automotivo chinês deu um salto expressivo após o país ingressar na Organização Mundial do Comércio em 2001.
O crescimento foi intensificado a partir de 2015, quando o governo lançou a estratégia “Made in China 2025”, um plano nacional para impulsionar setores de tecnologia avançada, entre eles o segmento de veículos elétricos.
Subsídios estatais, incentivos à pesquisa, além de uma cadeia de suprimentos nacional integrada, permitiram que empresas como BYD e Geely assumissem posições de destaque no mercado internacional.
Vantagem de custo e domínio sobre baterias
A competitividade chinesa é explicada ainda pelos custos reduzidos de mão de obra e pelo domínio sobre a tecnologia das baterias, componente central dos veículos elétricos.
Conforme destacou o g1, análise do banco UBS indica que a BYD consegue produzir automóveis até 25% mais baratos que rivais ocidentais, vantagem que favorece sua expansão fora da China.
Apesar de alegações de concorrência desleal por parte de governos e associações internacionais, representantes das montadoras chinesas afirmam que o diferencial está em inovação e produtividade, resultado da intensa competição interna e da busca contínua por eficiência.
Reação global: tarifas e proteção de mercados
No contexto global, o avanço chinês tem provocado respostas rápidas.
Em 2024, os Estados Unidos elevaram as tarifas de importação de veículos elétricos chineses de 25% para 100%, dificultando a entrada desses produtos no mercado americano.
A União Europeia adotou medidas similares, impondo tarifas extras de até 35,3% para carros elétricos fabricados na China, argumentando que subsídios governamentais distorcem a concorrência.
Enquanto isso, o Reino Unido não aplicou restrições, tornando-se um destino estratégico para as fabricantes asiáticas.
Europeus aceleram inovação em elétricos acessíveis
O jornal também apontou que a crescente pressão sobre marcas tradicionais levou montadoras europeias a acelerar o desenvolvimento de elétricos acessíveis.
A francesa Renault exemplifica a nova fase, ao investir em automação e digitalização em sua fábrica em Douai, no norte da França.
Ali, são fabricados veículos como o Renault 5 E-Tech, que combina a identidade visual de um clássico com tecnologias atuais de eletrificação e montagem.
O objetivo é disputar diretamente com os modelos chineses, mantendo empregos e tecnologia dentro do continente.
Segurança cibernética e desafios regulatórios
Apesar do avanço, preocupações sobre segurança cibernética e proteção de dados se intensificaram.
Veículos elétricos modernos são cada vez mais conectados à internet, oferecendo funcionalidades como navegação por satélite, integração com smartphones e atualizações de software remotas.
Autoridades do Reino Unido chegaram a restringir o uso de automóveis chineses em áreas militares e órgãos de segurança, citando riscos de espionagem e controle remoto de sistemas, cenário que ganhou visibilidade após declarações de ex-diretores do serviço secreto britânico.
Resposta das autoridades chinesas e integração global
Em nova referência do g1, autoridades chinesas negam categoricamente qualquer envolvimento em espionagem ou ameaça à segurança internacional.
Até o momento, não existem evidências públicas que confirmem essas suspeitas, e empresas chinesas argumentam que seguem rigorosamente as legislações dos países onde atuam.
Especialistas consultados pelo portal defendem que os riscos cibernéticos podem ser mitigados por regulamentações e monitoramento de órgãos nacionais, mas reconhecem a importância da vigilância constante diante do avanço das novas tecnologias.
Interdependência da cadeia produtiva automotiva
Além das preocupações regulatórias, destaca-se a integração de componentes chineses nas cadeias produtivas globais.
Mesmo veículos fabricados na Europa frequentemente utilizam peças, baterias ou módulos de software produzidos na China, o que ilustra o grau de interdependência do setor automotivo mundial.
Para alcançar metas ambientais e reduzir emissões, países europeus e asiáticos continuam dependentes de tecnologias desenvolvidas na Ásia, especialmente nas áreas de baterias, motores elétricos e conectividade embarcada.
Carros elétricos chineses e os desafios para fabricantes tradicionais
Enquanto isso, consumidores de diversos mercados avaliam os benefícios dos carros elétricos chineses, que incluem menor custo de aquisição, bom desempenho urbano e crescente oferta de modelos compactos, SUVs e utilitários.
A adoção dessas tecnologias pode acelerar a popularização dos veículos elétricos, tornando-os mais acessíveis em países emergentes e desenvolvidos.
Ainda assim, o cenário permanece incerto para fabricantes tradicionais, que correm para adaptar seus processos e produtos frente à nova concorrência.
A presença dos carros elétricos chineses nas ruas do Brasil e do mundo levanta um novo questionamento: a indústria nacional conseguirá se adaptar à velocidade das mudanças impostas por essa transformação global?