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Descoberta uma fonte de energia ilimitada que pode ser aplicada no Brasil

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 04/06/2025 às 16:59
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Descoberta uma fonte de energia ilimitada que pode ser aplicada no Brasil
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Onda por onda: como a energia dos mares pode abastecer o futuro do Brasil

Imagine um país onde o mar, além de fonte de beleza e biodiversidade, também se transforma em eletricidade limpa e constante. Essa é a proposta da energia das ondas — também chamada de energia ondomotriz — que tem conquistado espaço no cenário internacional. E o Brasil, com um dos maiores litorais do mundo, pode estar diante de uma oportunidade energética gigantesca.

A seguir, mergulhamos nessa tecnologia e mostramos como ela pode ser aproveitada no Brasil, quais são os desafios, as experiências já realizadas e o que ainda falta para transformar as ondas em uma fonte elétrica nacional estratégica.

O que é energia ondomotriz e como ela funciona

A energia ondomotriz é gerada a partir do movimento natural das ondas do mar. Diferente da energia das marés, que depende das variações do nível do mar entre maré alta e maré baixa, a energia das ondas aproveita o movimento contínuo das ondulações na superfície da água. Esses movimentos são convertidos em energia mecânica por equipamentos específicos, que por sua vez geram eletricidade.

Uma das tecnologias mais promissoras nesse campo é o WaveRoller, desenvolvido pela empresa finlandesa AW-Energy. O dispositivo funciona submerso, entre 8 e 20 metros de profundidade, e se move para frente e para trás com o balanço das ondas. Esse movimento aciona um sistema hidráulico que gera eletricidade. O projeto foi testado com sucesso na costa de Portugal, um dos países líderes no uso desse tipo de energia.

Além do apoio da União Europeia por meio do projeto WaveFarm, a tecnologia da AW-Energy está sendo adaptada para produção em escala industrial, visando criar verdadeiras “fazendas submarinas” de geração elétrica.

O dispositivo funciona submerso, entre 8 e 20 metros de profundidade, e se move para frente e para trás com o balanço das ondas. Fonte: Aw-energy

O Brasil já testou essa ideia?

Sim, o Brasil já teve experiências com a energia das ondas. Um dos projetos mais relevantes foi a Usina de Ondas do Porto de Pecém, no Ceará, criada pela COPPE/UFRJ em parceria com o governo estadual e a Tractebel Energia. Lançada em 2012, essa usina pioneira gerou cerca de 100 kW, energia suficiente para abastecer 60 casas.

Apesar da proposta inovadora, o projeto enfrentou dificuldades técnicas e financeiras, o que levou à interrupção de suas operações em 2016. Em 2017, a COPPE retomou a pesquisa com novos parceiros, incluindo a empresa Seahorse Wave Energy, e com o apoio de Furnas, iniciou a construção de um novo modelo no litoral do Rio de Janeiro. A proposta é testar novas formas de converter o movimento das ondas em energia elétrica de forma mais eficiente e durável.

Mais informações sobre o projeto podem ser lidas neste artigo da ASMETRO-SN.

O potencial brasileiro é gigantesco — e ainda pouco explorado

Com mais de 8.500 km de litoral, o Brasil tem uma posição privilegiada para explorar esse tipo de tecnologia. De acordo com um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o país tem regiões costeiras com alto potencial energético, especialmente o litoral norte, onde a intensidade das ondas é mais regular.

Segundo a CNN Brasil, o litoral do Amapá é uma das áreas mais promissoras para a instalação de dispositivos como o WaveRoller. Isso se deve à constância e força das ondas, que garantem melhor aproveitamento da energia.

Um levantamento da consultoria B2Finance aponta que o Brasil teria capacidade para gerar até 87 gigawatts de energia por meio de fontes marinhas — o que representa mais do que toda a capacidade instalada de hidrelétricas como Itaipu. O estudo pode ser conferido neste link.

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Mas por que ainda não avançamos?

O principal entrave é o custo. Apesar de ser limpa e renovável, a energia das ondas ainda enfrenta desafios de engenharia e manutenção. O ambiente marinho é hostil para equipamentos: a água salgada corrói metais, a fauna pode interferir no funcionamento das máquinas, e as tempestades podem danificar os sistemas. Isso tudo encarece os projetos e exige tecnologia altamente resistente.

Outro fator é a falta de políticas públicas e investimentos contínuos. Enquanto países europeus têm apoio governamental estruturado, no Brasil a maior parte dos projetos depende de universidades, centros de pesquisa e empresas privadas.

Além disso, a legislação ambiental e marítima brasileira ainda precisa se adaptar para facilitar a instalação de estruturas no mar, garantindo segurança jurídica para investidores e proteção ao ecossistema.

Uma oportunidade estratégica para o futuro

Mesmo com todos esses desafios, especialistas do setor defendem que o Brasil deveria apostar com mais força nessa tecnologia. O país já é líder em hidrelétricas, tem crescido no setor solar e eólico, e agora poderia também se tornar um polo de inovação em energia marítima.

A descentralização da geração elétrica por meio de usinas costeiras também favoreceria comunidades isoladas e reduziria perdas na distribuição. E num mundo onde a descarbonização se tornou meta global, toda alternativa que substitui fontes fósseis é bem-vinda — especialmente se ela estiver literalmente batendo na nossa porta em forma de onda.

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Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, baseado no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Busco traduzir assuntos complexos em conteúdos acessíveis, com rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico.

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