Achado em Roraima revela rochas e argilas com alta concentração de minerais estratégicos, despertando atenção científica e política para o potencial econômico da região e possível papel do Brasil no mercado global de terras raras.
A identificação de rochas e argilas com altíssima concentração de elementos de terras raras em uma área privada de Caracaraí (RR) levou o senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR) a defender que o Brasil pode ganhar protagonismo na disputa por minerais estratégicos.
Em pronunciamento no dia 3 de setembro, ele afirmou que a área pesquisada tem mais de 100 mil hectares e índices de concentração até 50 vezes superiores aos de depósitos convencionais, quadro que, se confirmado, colocaria o país em posição central na cadeia global.
A investigação geológica é conduzida por pesquisadores do curso de Geologia da Universidade Federal de Roraima (UFRR), responsáveis por identificar o material e agora focados em verificar se há uma jazida economicamente viável dentro da propriedade rural.
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O que foi encontrado e por que importa
Segundo o senador, o chamado Complexo Minerário Barreira reúne três frentes de interesse para a indústria contemporânea: terras raras, metais do grupo da platina e minerais críticos.
Esses insumos são utilizados em celulares, turbinas eólicas, painéis solares, veículos elétricos e equipamentos de defesa, compondo a base de tecnologias consideradas estratégicas para a transição energética e para a segurança nacional.
Ainda de acordo com as informações divulgadas, a concentração incomum de elementos de terras raras identificada nas amostras coletadas em Caracaraí, caso se confirme em escala de jazida, alteraria o mapa da oferta desses materiais, hoje concentrada na Ásia.
Pesquisadores citados em publicações locais também mencionam a presença de PGMs e de outros minerais de interesse econômico, o que ampliaria o potencial do complexo.
Onde fica e quem pesquisa
O ponto analisado está em Caracaraí, município que fica a cerca de 140 quilômetros de Boa Vista por via rodoviária. A UFRR lidera a etapa de caracterização do material e de estudo geológico inicial.
Essa fase é determinante para confirmar se a ocorrência tem continuidade, volume e teor suficientes para ser classificada como jazida, e, portanto, avançar para licenciamento e eventual lavra.
Em discurso no Plenário, Mecias de Jesus sustentou que o governo federal deve tratar o tema como “prioridade de Estado”, com legislação adequada, fiscalização rigorosa e planejamento de longo prazo.
Ele também declarou que o local ficaria a mais de 60 quilômetros de terras indígenas e a mais de 50 quilômetros de unidades de preservação, argumento usado para minimizar riscos socioambientais durante um eventual projeto de mineração.
O que falta para virar jazida
A descoberta de teores elevados em amostras não equivale, por si só, à confirmação de uma jazida.
O caminho técnico exige mapeamento geológico detalhado, sondagens, testes metalúrgicos para definir processos de beneficiamento e estudos de viabilidade econômica.
Só depois, com licenciamento ambiental e autorização da Agência Nacional de Mineração (ANM), um projeto pode evoluir para produção.
Até lá, números de teor e extensão são estimativas preliminares e precisam de validação independente.
Na tribuna, o senador ressaltou o potencial transformador ao afirmar: “As terras raras são conhecidas como o ouro do século 21 (…). O Brasil ingressa no seleto grupo capaz de gerir com independência uma política de extração e gerenciamento de seus recursos voltada para a consolidação do desenvolvimento tecnológico.”
Em outra passagem, evocou um paralelo histórico: “Se o Nordeste teve o ciclo do pau-brasil e da cana, o Sudeste da mineração e da industrialização e o Centro-Oeste da agricultura, agora chegou a vez da Região Norte. Chegou a vez de Roraima e do Brasil.”
Impacto estratégico e usos industriais
As terras raras englobam 17 elementos químicos essenciais para ímãs permanentes de alto desempenho presentes em motores de carros elétricos e aerogeradores.
Elas também são utilizadas em displays, lasers, catalisadores e sistemas de defesa.
A presença associada de metais do grupo da platina e de minerais críticos amplia a relevância do achado, porque diversifica possíveis linhas de receita e reduz a dependência de um único produto, caso o projeto avance.
Publicações regionais relatam números de concentração e listam elementos específicos, reforçando o interesse da comunidade técnica e do mercado.
Salvaguardas ambientais e sociais
A eventual mineração de terras raras envolve rotas de processamento que podem utilizar reagentes e demandar gestão de rejeitos com padrões rígidos.
Por isso, órgãos reguladores e o próprio Congresso tendem a exigir estudos de impacto robustos, planos de mitigação e monitoramento de longo prazo.
Ao mencionar distâncias de terras indígenas e de unidades de conservação, o senador antecipa um dos principais vetores de escrutínio público.
Mas a análise socioambiental completa só ocorre com dados de projeto e audiências públicas previstas em lei.
Próximos passos e atenção à governança
Além da etapa técnica, um projeto dessa natureza depende de governança para garantir transparência, rastreabilidade e localismo de benefícios.
O senador defende que a União adote um planejamento integrado para formação de cadeias de valor, de insumos à manufatura, a fim de evitar a simples exportação de minérios brutos.
Em suas palavras: “Será necessário que o governo federal entenda que a questão das terras raras precisa ser tratada como uma prioridade estratégica (…), e não pode ser negociada como uma simples mercadoria primária.”
O que está confirmado até agora
De forma objetiva, há três pontos consensuais neste momento: a identificação de material com alto teor em área privada de Caracaraí; a liderança da UFRR na análise das amostras e no estudo da possível jazida; e a dimensão preliminar da área, apontada em cerca de 100 mil hectares, com teores relatados como muito acima da média.
Esses elementos explicam a repercussão nacional e a mobilização política, mas não substituem a confirmação técnico-regulatória que delimita volume, viabilidade e cronograma de um empreendimento minerário.
Enquanto os estudos seguem, a expectativa se volta à capacidade de o país estruturar políticas para transformar recursos naturais em valor industrial, com inovação, qualificação de mão de obra e proteção ambiental.
Em meio a esse cenário, uma pergunta permanece: como Brasil e Roraima pretendem transformar descoberta geológica em desenvolvimento com responsabilidade e valor agregado de longo prazo?