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Descoberta de cobre e ouro em volume recorde promete mudar o eixo da mineração sul-americana

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 29/07/2025 às 17:45
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Cobre estratégico e bilhões em ouro revelam potencial oculto na América do Sul — mas os riscos ecológicos preocupam especialistas

Uma descoberta mineral que promete sacudir os rumos da mineração global acaba de ser anunciada por duas gigantes do setor. Em plena Cordilheira dos Andes, na fronteira entre o Chile e a Argentina, a Lundin Mining Corporation, do Canadá, e a australiana BHP, revelaram a existência de um dos maiores depósitos de cobre, ouro e prata já encontrados na América do Sul. A região, batizada de Recurso Mineral Vicuña, pode se tornar um divisor de águas para a economia e o meio ambiente em todo o continente.

Um núcleo bilionário nas montanhas andinas

Segundo o comunicado oficial das empresas, o núcleo de alta concentração mineral abriga 13 milhões de toneladas de cobre, além de 907 mil quilos de ouro e impressionantes 18,6 milhões de quilos de prata. O volume é tão expressivo que o projeto vem sendo classificado por analistas como um possível empreendimento de classe mundial, com potencial para rivalizar com as maiores minas já conhecidas do planeta.

O depósito faz parte do projeto Filo del Sol, localizado em uma das regiões mais remotas e geologicamente ativas dos Andes. Ali, processos naturais formaram ao longo de milhões de anos bolsões subterrâneos ricos em metais preciosos — um verdadeiro tesouro mineral que agora começa a ser explorado.

Vista da formação geológica do Recurso Mineral Vicuña, localizado na Cordilheira dos Andes, onde foram identificadas cerca de 13 milhões de toneladas de cobre, 907 mil quilos de ouro e 18,6 milhões de quilos de prata. A jazida, considerada uma das maiores da América do Sul, é explorada por consórcio internacional e pode movimentar bilhões de dólares em investimentos nas próximas décadas.

Ambição econômica e impacto geopolítico

A ambição das mineradoras é clara: transformar a América do Sul em um novo polo global de mineração. Para isso, estão sendo planejados investimentos que podem ultrapassar bilhões de dólares, embora os valores exatos ainda não tenham sido divulgados. O CEO da Lundin Mining, Jack Lundin, afirmou à imprensa que o projeto pode colocar a empresa em outro patamar no mercado internacional, além de gerar empregos e desenvolvimento para comunidades locais.

Se confirmadas as projeções, o impacto se estenderá para além da mineração. O cobre, por exemplo, é essencial para setores como energia limpa, carros elétricos, telecomunicações e aviação. Já o ouro e a prata continuam sendo altamente valorizados tanto na indústria tecnológica quanto como reservas estratégicas em momentos de instabilidade econômica. Com isso, o projeto poderá reposicionar o Chile e a Argentina como peças-chave nas cadeias globais de suprimento.

Segundo especialistas da Mining Technology, o relatório técnico completo sobre o Recurso Mineral Vicuña deverá ser publicado até o primeiro trimestre de 2026, com estimativas de início das operações logo após a finalização dos estudos de impacto e licenciamento ambiental.

Pressão ambiental e riscos à biodiversidade

Mas nem tudo são aplausos. A revelação de um depósito dessa magnitude reacendeu um debate antigo, mas sempre urgente: qual o custo ambiental do desenvolvimento mineral?

A mineração em grande escala é frequentemente associada a desmatamento, perda de biodiversidade, alterações drásticas na paisagem e contaminação de recursos hídricos. Isso sem contar a pressão sobre as comunidades tradicionais e a geração de gases de efeito estufa. A região do projeto está situada em ecossistemas frágeis dos Andes, que abrigam espécies endêmicas e zonas de recarga hídrica importantes para ambos os países.

O jornal argentino Clarín repercutiu a preocupação de grupos ambientalistas que alertam para os possíveis danos permanentes ao equilíbrio natural da região. No Chile, debates públicos já estão em curso, e organizações como o Observatório Latino-Americano de Conflitos Ambientais (OLCA) afirmam que o projeto “pode repetir os erros de megaminas anteriores, cujas promessas econômicas não compensaram os prejuízos sociais e ecológicos”.

Um dilema sul-americano: progresso ou preservação?

A descoberta do Recurso Mineral Vicuña levanta uma pergunta difícil para os governos da região: como equilibrar crescimento econômico com proteção ambiental em um mundo cada vez mais sedento por minerais estratégicos?

Para o professor Luis Carvajal, geólogo da Universidade do Chile, “não há dúvida de que o projeto é uma oportunidade única para dinamizar a economia local, mas ele precisa ser conduzido com total transparência e rigor técnico, respeitando os limites ecológicos da região”. Em entrevista ao El Mercurio, ele lembrou que os Andes já sofrem os efeitos da crise climática, o que exige ainda mais cautela em operações de larga escala.

Nas redes sociais, o tema vem gerando discussões intensas. De um lado, entusiastas apontam os benefícios em geração de emprego, exportações e arrecadação tributária. De outro, ativistas e comunidades locais alertam para o risco de uma nova corrida pelo ouro que pode deixar para trás destruição e abandono.

Por enquanto, as mineradoras seguem em fase de estudos e mapeamento da jazida. Mas o futuro desse tesouro escondido sob as montanhas do Cone Sul dependerá de decisões políticas, acordos internacionais e — sobretudo — da pressão da sociedade civil.

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Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, baseado no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Busco traduzir assuntos complexos em conteúdos acessíveis, com rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico.

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