Após anos de impasse, o governo federal retoma terreno bilionário do Exército em Brasília e viabiliza um pacote de projetos ferroviários, com modelo de concessão que une transporte e desenvolvimento urbano
Depois de mais de uma década de impasse, o governo federal e o Exército chegaram a um acordo sobre a área avaliada em R$ 40 bilhões, localizada a nove quilômetros do Congresso Nacional. O terreno, conhecido como Pátio Ferroviário de Brasília, será retomado pela União e vinculado a novos projetos ferroviários, abrindo espaço para leilões de concessão e parcerias público-privadas.
O entendimento foi selado em reunião no Palácio do Planalto, com a presença dos ministros Rui Costa (Casa Civil), José Múcio (Defesa), Renan Filho (Transportes) e Esther Dweck (Gestão e Inovação), além do comandante do Exército, general Tomás Paiva. O acordo encerra uma disputa iniciada ainda no governo Bolsonaro e destrava a criação de um modelo nacional de integração entre infraestrutura ferroviária e desenvolvimento imobiliário.
Exército fica com R$ 3 bilhões e governo retoma área total
Pelo acerto, o Exército permanecerá com cerca de R$ 3 bilhões, valor que será direcionado à construção da nova Escola de Sargentos em Recife e do Hospital Militar de Área de Brasília.
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Em contrapartida, a área de 4,2 milhões de metros quadrados voltará integralmente ao patrimônio da União, sob gestão do Ministério da Gestão e Inovação.
A conciliação encerra um impasse que bloqueava o uso estratégico de um dos terrenos mais valorizados da capital federal.
A negociação evita o loteamento da área para empreiteiras, projeto que estava em fase de planejamento junto ao Governo do Distrito Federal, e devolve o controle ao governo central, que pretende usar o espaço como fonte de financiamento cruzado para os projetos ferroviários.
Como o acordo destrava projetos ferroviários
O Ministério dos Transportes deverá usar o terreno como lastro para concessões dentro de um modelo conhecido como “real estate ferroviário”, amplamente adotado em cidades como Seul, Hong Kong e Tóquio.
A proposta combina construção de infraestrutura ferroviária com exploração imobiliária planejada no entorno das estações, de forma a gerar receitas que sustentem os investimentos públicos.
O plano inicial prevê o VLT Brasília–Luziânia, uma linha de 62 km de extensão, como projeto âncora.
O trajeto ligará o Distrito Federal ao Entorno Sul de Goiás e está na lista de prioridades estratégicas do PAC.
A exploração da área bilionária permitirá financiar parte das obras sem impacto direto no orçamento, segundo interlocutores do governo.
Além disso, a estrutura de leilões incluirá cinco novos trajetos de passageiros: Londrina–Maringá (PR), Rio Grande–Pelotas (RS), Fortaleza–Sobral (CE), São Luís–Itapecuru Mirim (MA) e Salvador–Camaçari–Feira de Santana (BA).
A previsão é que os editais sejam publicados em 2026, com participação de BNDES e Caixa na modelagem técnica e financeira.
O histórico do terreno e a disputa com os militares
A área do Pátio Ferroviário de Brasília foi transferida ao Exército em 2006, com a responsabilidade de conservação e vigilância, mas sem autorização para exploração imobiliária.
Anos depois, o comando militar iniciou tratativas com o Governo do Distrito Federal para desenvolver um novo bairro residencial e comercial, projeto que previa a construção de cerca de 20 mil imóveis.
O contrato original, porém, não permitia edificações civis e a Advocacia-Geral da União se posicionou a favor da retomada da posse pela União.
O parecer técnico destacou que o terreno deve ser destinado a serviços públicos de transporte ferroviário e exploração planejada, como forma de gerar receitas e impulsionar os projetos ferroviários estratégicos.
Com o parecer em mãos e o aval do presidente, o governo decidiu encerrar o impasse por meio de negociação direta com a cúpula militar, preservando os investimentos das Forças Armadas e liberando o espaço para fins logísticos e urbanos.
Impacto econômico e planejamento urbano
A reconfiguração do Pátio Ferroviário representa uma das maiores operações imobiliárias públicas já realizadas em Brasília.
O valor potencial de R$ 40 bilhões será diluído em fases de concessão, com aproveitamento de áreas comerciais e habitacionais próximas às futuras estações do VLT e do terminal ferroviário.
Estudos de impacto urbano e ambiental serão conduzidos pelo BNDES e pela Caixa Econômica Federal para definir o cronograma e o formato dos leilões.
A expectativa do Ministério dos Transportes é que as primeiras licitações ocorram entre 2026 e 2027, permitindo captação privada para obras ferroviárias e urbanísticas.
O modelo pretende reaproveitar infraestruturas ociosas e atrair capital privado para um plano integrado de mobilidade, que combine trens regionais, VLTs e polos de adensamento urbano.
A medida também reforça o papel da ferrovia como eixo de integração econômica, em linha com a política de logística verde e de redução de emissões de transporte rodoviário.
O acordo entre o governo federal e o Exército encerra um conflito histórico e reposiciona Brasília no centro da agenda nacional de projetos ferroviários.
A devolução da área bilionária abre espaço para leilões que combinam infraestrutura, habitação e mobilidade, reforçando o potencial de financiamento cruzado e inovação urbanística.
Você acredita que o modelo de concessão imobiliária pode ser uma solução eficiente para financiar os novos projetos ferroviários do país, ou o governo deveria buscar alternativas tradicionais de investimento público?



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