Indenização bilionária, impacto regional e futuro da indústria na Bahia movimentam debates após fechamento da fábrica da Ford e chegada de nova montadora chinesa.
A Justiça do Trabalho condenou a Ford Motor Company Brasil Ltda. a pagar uma indenização de R$ 30 milhões por danos morais coletivos, decisão que impacta diretamente os trabalhadores da antiga fábrica de automóveis de Camaçari, localizada na Região Metropolitana de Salvador, Bahia.
O julgamento, realizado pela Primeira Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (TRT-5), foi concluído em 31 de julho de 2025 e divulgado oficialmente pelo Ministério Público do Trabalho da Bahia (MPT-BA) nesta terça-feira, 5 de agosto.
Ainda cabe recurso por parte da montadora.
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A sentença foi motivada pelo encerramento abrupto das atividades da Ford em Camaçari, em janeiro de 2021, sem qualquer negociação prévia com o sindicato dos trabalhadores.
O MPT-BA afirmou que “a empresa encerrou a produção de forma unilateral, sem diálogo com o sindicato dos trabalhadores, desrespeitando direitos coletivos”.
Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos da Bahia, o fechamento atingiu cerca de 60 mil postos de trabalho, incluindo funcionários diretos e indiretos ligados à cadeia produtiva do setor automotivo local.
Danos morais coletivos: execução e destinação da indenização
De acordo com a decisão, o valor de R$ 30 milhões será destinado à reparação dos danos coletivos causados pelo encerramento das operações industriais em Camaçari.
No entanto, o repasse só ocorrerá após o esgotamento dos prazos para a apresentação de recursos.
O processo seguirá para execução na 3ª Vara do Trabalho de Camaçari, instância de origem da ação, onde serão discutidos os critérios para a destinação dos recursos e os procedimentos para eventual compensação aos trabalhadores prejudicados.
Até o momento, não há informações oficiais sobre prazos exatos para a conclusão dos recursos ou início dos pagamentos.
O Ministério Público do Trabalho da Bahia (MPT-BA) destacou que o objetivo central é “reparar os danos coletivos causados à comunidade trabalhadora e à região, gravemente impactada pelo encerramento da produção”.
Impacto das demissões na indústria automobilística brasileira
O anúncio do fechamento da fábrica, feito em janeiro de 2021, marcou o fim de uma das maiores operações industriais do setor automobilístico no Nordeste brasileiro.
A Ford confirmou o encerramento da produção de veículos no Brasil, determinando o fechamento das fábricas de Camaçari (BA), Taubaté (SP) e Horizonte (CE), esta última dedicada à produção dos jipes da marca Troller.
A decisão provocou forte reação entre os trabalhadores e a sociedade baiana.
Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos da Bahia, “cerca de 60 mil empregos foram extintos, somando trabalhadores diretos e indiretos envolvidos nas atividades industriais, logísticas e de fornecedores”.
Manifestantes chegaram a ocupar as áreas próximas à fábrica de Camaçari em protesto contra a medida.
Em nota divulgada à época, a Ford atribuiu o encerramento das operações à crise econômica agravada pela pandemia da Covid-19, que teria causado uma queda expressiva nas vendas.
A companhia declarou que aproximadamente cinco mil postos de trabalho foram encerrados no Brasil e na Argentina, número que considera apenas funcionários contratados diretamente pela montadora, sem contemplar os empregos indiretos.
Apesar do fechamento da linha de montagem, a Ford manteve o funcionamento do Centro de Desenvolvimento e Tecnologia em Camaçari, empregando cerca de 1,5 mil profissionais dedicados à pesquisa, inovação e desenvolvimento de novos produtos para o mercado global.
Essa unidade segue operando e colaborando com outras subsidiárias da empresa no mundo.
Efeitos econômicos e sociais na Bahia após saída da Ford
O encerramento das operações da Ford em Camaçari teve impacto profundo na economia regional.
O parque industrial da cidade, inaugurado em 2001, tornou-se um dos principais polos automotivos do Brasil e foi responsável por impulsionar o desenvolvimento econômico e social da Região Metropolitana de Salvador.
Com o fechamento, houve queda de arrecadação, aumento do desemprego e retração de diversos setores ligados à cadeia automotiva.
Dois anos após a saída da Ford, a fábrica foi oficialmente adquirida pelo Governo do Estado da Bahia.
A gestão estadual anunciou que, futuramente, pagaria indenizações à montadora, em valores compatíveis com o mercado, pela estrutura industrial e ativos existentes no complexo de Camaçari.
Nova fase industrial: chegada da BYD e expectativa de retomada
Em 2023, o cenário começou a mudar com a confirmação do investimento da empresa chinesa Build Your Dreams (BYD) na Bahia.
Especializada em veículos híbridos e elétricos, a BYD assumiu parte das instalações da antiga Ford e confirmou a aplicação de R$ 3 bilhões para a instalação de três fábricas no local.
Segundo a empresa, as unidades produzirão chassis de ônibus e caminhões elétricos, além de veículos de passeio elétricos e híbridos, processando lítio e ferro fosfato para baterias.
A BYD já apresentou os primeiros carros montados em solo baiano em julho de 2025, durante cerimônia realizada no complexo industrial.
A perspectiva da empresa é de que, até 2030, 80% dos componentes dos veículos sejam nacionalizados, impulsionando novamente a cadeia produtiva e gerando empregos diretos e indiretos na região.
Indenização por danos coletivos e os próximos passos
Com a decisão judicial, a Ford terá de arcar com a indenização bilionária por danos morais coletivos, enquanto a retomada das atividades industriais pela BYD oferece uma alternativa de recuperação para a economia baiana.
No entanto, a cicatriz deixada pelo fechamento abrupto da Ford ainda é sentida por milhares de famílias impactadas, que aguardam definições sobre eventuais compensações financeiras.
Diante desse cenário, a expectativa recai sobre o desfecho dos recursos judiciais e os próximos passos do setor automotivo na Bahia.
A decisão de condenar a Ford a pagar R$ 30 milhões por danos morais coletivos pode abrir precedente para outras ações similares em casos de demissões em massa no Brasil?