Deixar o carro ligado no ponto morto para “aquecer o motor” é um erro que pode causar desgaste e consumo excessivo. Entenda por que os especialistas e montadoras desaconselham essa prática.
Por décadas, motoristas foram ensinados que deixar o carro ligado por alguns minutos antes de sair era uma boa prática para “aquecer o motor”. Essa ideia, herdada dos tempos dos carburadores, ainda é comum entre milhões de pessoas, especialmente nas manhãs frias. Mas segundo especialistas e montadoras, manter o carro parado no ponto morto para aquecer pode causar mais danos do que benefícios, reduzindo a vida útil do motor e aumentando o consumo de combustível de forma desnecessária.
Estudos e manuais de fabricantes modernos são unânimes: os motores atuais não precisam ser aquecidos parados, e esse hábito está longe de ser inofensivo. O erro, além de desperdiçar combustível, pode causar acúmulo de resíduos e desgaste prematuro de componentes internos.
O mito do aquecimento parado: de onde ele veio
Nos carros antigos com carburador, o aquecimento parado era necessário para estabilizar a mistura de ar e combustível e evitar falhas na marcha lenta. Naqueles motores, o combustível precisava de temperatura ideal para vaporizar corretamente e sair dirigindo logo após ligar o carro podia causar engasgos, falta de potência e até apagões.
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Com o avanço da tecnologia, essa realidade mudou completamente. Os motores modernos utilizam injeção eletrônica, sensores de temperatura e módulos de controle (ECU) que ajustam automaticamente a mistura de combustível e o tempo de ignição desde o momento em que o motor é ligado. Isso significa que o veículo está pronto para rodar em segundos, mesmo em dias frios.
Apesar disso, o hábito de “aquecer o carro parado” ainda sobrevive, transmitido de geração em geração. Mas o que parece cuidado, na verdade, pode estar encurtando a vida útil do motor.
O que acontece com o motor quando ele fica parado em marcha lenta
Quando o motor trabalha por longos períodos no ponto morto, há lubrificação incompleta e combustão irregular. Isso acontece porque, com o carro parado, a rotação é muito baixa e o óleo não circula com pressão suficiente para lubrificar todas as partes móveis de forma ideal.
Além disso, o combustível injetado em excesso durante o funcionamento a frio pode lavar o filme de óleo que protege os pistões e as paredes dos cilindros, gerando atrito e desgaste prematuro. O resultado é o chamado “desgaste invisível” — aquele que não causa falhas imediatas, mas deteriora o motor ao longo do tempo.
Especialistas afirmam que o ideal é ligar o carro, esperar de 10 a 20 segundos para o óleo circular e, em seguida, sair dirigindo normalmente, mantendo o giro baixo até o motor atingir a temperatura de operação. É a movimentação leve, e não o tempo parado, que aquece o motor de forma eficiente e segura.
O impacto no consumo e nas emissões
Deixar o carro ligado parado também tem impacto direto no bolso e no meio ambiente. Um estudo da Environmental Protection Agency (EPA) dos Estados Unidos mostra que ficar apenas 10 minutos em marcha lenta consome entre 150 e 300 ml de combustível, dependendo do motor. Em um mês, isso pode representar até 3 litros de gasolina desperdiçados apenas com o carro parado.
Além do desperdício, o motor em marcha lenta libera gases poluentes mais concentrados, já que o catalisador ainda não atingiu a temperatura ideal para funcionar.
Por isso, além do desgaste interno, o hábito aumenta as emissões de monóxido de carbono e hidrocarbonetos, prejudicando o desempenho do sistema de controle de emissões.
O que dizem as montadoras e os engenheiros
Marcas como Toyota, Honda, Volkswagen e Chevrolet incluem em seus manuais recomendações explícitas contra deixar o motor ligado por longos períodos no ponto morto. O motivo é simples: os motores modernos foram projetados para se aquecer em movimento.
Segundo engenheiros da Toyota, “o tempo ideal de aquecimento é o necessário para colocar o cinto e ajustar o retrovisor”. Após isso, o veículo já pode ser conduzido suavemente, respeitando os giros baixos até atingir a temperatura normal.
A Honda reforça que o movimento natural do carro ajuda o óleo e o líquido de arrefecimento a atingirem a temperatura ideal mais rapidamente, evitando o desgaste causado pela queima irregular de combustível.
Em dias frios, o que realmente deve ser feito
Em vez de deixar o carro parado por vários minutos, a recomendação é simples:
- Ligue o motor e aguarde cerca de 20 segundos;
- Evite acelerações bruscas ou rotações altas nos primeiros minutos;
- Use combustível de qualidade para garantir a lubrificação correta durante a fase fria;
- Faça revisões regulares do óleo e do sistema de injeção eletrônica.
Seguindo essas práticas, o motor aquece de forma natural e segura, com lubrificação plena e sem desgaste adicional.
A conclusão dos especialistas
O hábito de aquecer o carro no ponto morto pode parecer uma forma de cuidado, mas na prática é um dos erros mais comuns e caros cometidos pelos motoristas. Ele gasta combustível, aumenta a emissão de poluentes e acelera o desgaste interno do motor.
Em motores modernos, aquecimento eficiente significa movimento leve e progressivo, e não tempo de espera. Em outras palavras: ligar, esperar poucos segundos e seguir viagem, essa é a receita correta para garantir que o motor viva muito mais.