De protagonista em obras de infraestrutura no Brasil a oito anos de recuperação judicial, a Inepar caiu após rompimento de contratos e dívidas bilionárias.
Por décadas, a Inepar foi sinônimo de grandes obras no Brasil. Atuando em setores estratégicos como energia, óleo e gás, transporte metroferroviário e industrial, a empresa construiu parte de algumas das maiores hidrelétricas do país, participou de projetos de transmissão de energia de grande porte e esteve presente em contratos emblemáticos com a Petrobras. Seu nome figurava entre os principais da engenharia nacional, competindo com gigantes multinacionais e ocupando espaço de destaque no fornecimento de equipamentos e serviços de alta complexidade.
No entanto, o que começou como uma história de expansão e sucesso técnico acabou se transformando em um dos maiores casos de colapso empresarial da engenharia brasileira. Em agosto de 2014, a Inepar entrou com pedido de recuperação judicial, com dívidas de centenas de milhões e um fluxo de caixa em colapso. O processo se arrastou por oito anos, sendo concluído apenas em novembro de 2022.
A ascensão da Inepar no cenário nacional
Fundada em 1966, em São Paulo, a Inepar começou como uma empresa de equipamentos industriais. Ao longo das décadas seguintes, diversificou sua atuação e passou a integrar projetos de engenharia pesada em energia elétrica, petróleo e gás, transporte e telecomunicações.
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O grande salto veio nas décadas de 1980 e 1990, quando a empresa passou a fornecer turbinas, geradores, transformadores e estruturas metálicas para grandes hidrelétricas brasileiras e sul-americanas. Obras como Itaipu Binacional e o complexo de Paulo Afonso contaram com equipamentos fornecidos ou montados pela Inepar.
A capacidade técnica e a flexibilidade para atuar em diferentes frentes — desde fabricação de peças até a execução de obras — fizeram a empresa conquistar contratos em diversos estados, consolidando presença nacional.
A diversificação e o apetite por grandes contratos
No início dos anos 2000, a Inepar buscava se firmar como um grupo integrado de engenharia, capaz de competir em licitações bilionárias. Além do setor elétrico, passou a fornecer para o setor de petróleo e gás, em especial para a Petrobras, que vivia um ciclo de expansão com as descobertas no pré-sal.
A companhia se envolveu na construção de plataformas, módulos de refino e sistemas de transmissão de energia. Também atuou em projetos metroferroviários, como a fabricação e fornecimento de trens e sistemas elétricos para metrôs em capitais brasileiras.
No auge, a Inepar chegou a registrar receitas superiores a R$ 2 bilhões e manteve carteira de pedidos expressiva, com contratos de longo prazo e atuação simultânea em diversos estados.
O início da crise: contratos suspensos e fluxo de caixa comprometido
O cenário começou a mudar por volta de 2013, quando a empresa sofreu com atrasos e cancelamentos de contratos importantes. O golpe mais duro veio com o rompimento de um contrato relevante com a Petrobras, que impactou diretamente a receita e gerou disputas judiciais.
Além disso, a desaceleração econômica no Brasil e a redução de investimentos em infraestrutura, agravada pelas investigações da Operação Lava Jato, paralisaram projetos e dificultaram a assinatura de novos contratos.
A exposição da Inepar a contratos de grande porte — que exigem investimentos elevados antes do recebimento — pressionou seu caixa. Com prazos de pagamento longos e custos crescentes, a empresa passou a acumular dívidas.
A recuperação judicial em 2014
Em 29 de agosto de 2014, a Inepar protocolou o pedido de recuperação judicial, alegando impossibilidade de honrar compromissos sem uma reestruturação ampla. O processo foi aprovado em 2015 e se estendeu por anos, com renegociações de prazos, venda de ativos e redução drástica das operações.
A recuperação envolveu não apenas a holding, mas também subsidiárias importantes, como a Inepar Equipamentos e Montagens. A prioridade passou a ser a conclusão de contratos em andamento e a preservação mínima da estrutura produtiva.
O longo caminho até a conclusão da reestruturação
O processo judicial se estendeu por oito anos, sendo um dos mais longos no setor de engenharia pesada no Brasil. Ao longo desse período, a empresa reduziu drasticamente seu quadro de funcionários, vendeu unidades industriais e deixou de participar de grandes licitações.
Em novembro de 2022, a 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo declarou cumpridas as obrigações previstas no plano de recuperação, encerrando formalmente o processo. A Inepar saiu da recuperação com uma estrutura muito menor e atuação restrita, mas sem as dívidas que a sufocavam.
O que restou da gigante
Hoje, a Inepar mantém atividades em menor escala, focando em nichos específicos de engenharia e fornecimento de equipamentos. Sua presença em obras de grande porte praticamente desapareceu, e a empresa tenta se reerguer em um mercado mais competitivo e dominado por multinacionais.
O caso da Inepar serve como exemplo de como empresas de engenharia pesada, altamente dependentes de grandes contratos públicos e de ciclos de investimento, podem sofrer colapsos quando o cenário econômico e político muda de forma brusca.