Do beisebol americano às ruas brasileiras, o cachorro-quente conquistou gerações com sua mistura de praticidade e criatividade, transformando-se de simples lanche em símbolo cultural que reflete a diversidade e o sabor do Brasil
O cachorro-quente é um dos símbolos mais populares da culinária de rua no Brasil. A combinação de pão macio, salsicha e acompanhamentos variados conquistou paladares de norte a sul, ganhando versões que vão do simples ao extravagante. Além de ketchup, maionese, batata palha e milho, há quem adicione purê de batata, ovos de codorna e até passas.
Essa versatilidade explica por que o lanche se tornou um fenômeno cultural. A base, porém, é sempre a mesma: uma salsicha envolta por pão e criatividade.
Das arquibancadas ao cinema
A salsicha, antes de chegar ao Brasil, já era um sucesso nos Estados Unidos. No fim do século 19, ela começou a ser vendida nas ruas a preços acessíveis e se tornou um lanche prático para o público dos jogos de beisebol.
-
Jovem simula sequestro para extorquir pais e pagar dívidas de apostas
-
Ela pagou R$ 400 mil para trapacear no concurso e foi pega pela PF: entenda esquema de fraude no CNU
-
Garoto acha carteira com US$ 300 na rua, devolve ao dono e ganha “bicicleta elétrica dos sonhos” de US$ 4.000 de um estranho que se comoveu sua honestidade
-
Estados Unidos concentram 85% das vagas para brasileiros no exterior e pagam salários de até US$ 110 mil por ano, revela estudo da TechFX
A popularidade cresceu rapidamente porque o alimento era barato e fácil de comer.
No Brasil, o responsável por introduzir o cachorro-quente foi o empresário espanhol Francisco Serrador, figura importante na história do Rio de Janeiro.
Em 1926, ele lançou o lanche em seus cinemas, localizados na região que viria a ser conhecida como Cinelândia.
A novidade fez tanto sucesso que inspirou os compositores Lamartine Babo e Ary Barroso a criarem, em 1928, a marchinha “Cachorro-Quente”.
O que define um verdadeiro cachorro-quente
Segundo o pesquisador Bruce Kraig, autor do livro Hot Dog: A Global History, o que diferencia o cachorro-quente de outras salsichas tradicionais é a textura delicada da carne, resultado de tecnologias de processamento desenvolvidas no século 19.
Nos Estados Unidos, é comum chamar a salsicha sozinha de “hot dog”, mas especialistas fazem questão de destacar que ela só merece esse nome quando servida dentro do pão.
Essa distinção é importante porque mostra que o lanche é, acima de tudo, uma invenção cultural, não apenas culinária.
Desvendando a composição da salsicha
A salsicha é alvo de muitos mitos. Entre as fake news mais comuns estão as que afirmam que ela contém papelão ou produtos químicos perigosos.
No entanto, as principais autoridades sanitárias e a própria Organização Mundial da Saúde explicam que seu principal ingrediente é carne de verdade — ainda que não sejam os cortes nobres.
As salsichas são feitas com aparas de carne bovina, suína e de frango. Essas aparas incluem partes como bochecha e cabeça, que são moídas por máquinas industriais até virar uma massa homogênea.
Em alguns casos, utiliza-se também a CMS (Carne Mecanicamente Separada), obtida por um processo que separa mecanicamente a carne dos ossos.
A legislação brasileira permite o uso de até 60% de CMS na composição.
Ingredientes e processo industrial
Depois de trituradas, as carnes passam por uma máquina chamada cutter, que transforma o material em uma pasta.
A essa mistura, são adicionados antioxidantes, conservantes, sal, amido de milho e temperos. Entre os aditivos, está o nitrito de sódio, responsável por conservar a cor e o sabor da carne.
Ele é aprovado pela Anvisa, mas deve ser consumido com moderação, já que estudos indicam relação entre nitratos e risco de câncer quando ingeridos em excesso.
No total, a massa da salsicha é composta por cerca de 55% de carne e 45% de outros ingredientes. Em seguida, ela é moldada em invólucros no formato de tubo, que podem ser de celulose, plástico ou, mais raramente, tripa natural.
As salsichas são então cozidas a cerca de 80 °C por meia hora. Essa etapa garante a eliminação de bactérias e confere firmeza à textura.
Algumas ainda passam por um processo de defumação com essência de madeira, que dá o sabor característico.
Cor, resfriamento e embalagem
Após o cozimento, as salsichas recebem uma ducha de água fria, o que ajuda a desprender o invólucro e estabilizar o produto. Nessa fase, as proteínas coagulam, garantindo que o alimento mantenha sua forma.
Para alcançar a cor avermelhada tradicional, as fábricas utilizam urucum, um corante natural extraído do urucuzeiro.
O produto é mergulhado em uma solução por dois minutos e, em seguida, recebe um banho de ácido fosfórico para fixar o tom.
A última etapa é a embalagem. As salsichas são seladas a vácuo, o que impede o contato com o ar e preserva o sabor por mais tempo.
Como preparar corretamente em casa
Mesmo sendo pré-cozida, a salsicha deve ser fervida antes do consumo. Esse cuidado ajuda a eliminar possíveis microrganismos remanescentes.
O ideal é cozinhar por até três minutos — tempo suficiente para aquecer sem que o alimento inche ou perca textura.
Simples, versátil e presente em todas as regiões do país, o cachorro-quente brasileiro continua a se reinventar.
Ele é mais do que um lanche: é um retrato saboroso da mistura de culturas que formam o Brasil.
Com informações de Revista Galileu.