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De frota de 120 navios e R$ 8 bilhões em contratos à falência: como Eike Batista perdeu o império OGX e OSX que prometia dominar o petróleo brasileiro

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 12/08/2025 às 09:07
De frota de 120 navios e R$ 8 bilhões em contratos à falência: como Eike Batista perdeu o império OGX e OSX que prometia dominar o petróleo brasileiro
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De frota de 120 navios e R$ 8 bilhões em contratos à falência: a história da OGX e OSX, o império de Eike Batista que prometia dominar o petróleo brasileiro e colapsou.

Poucos nomes na história recente do Brasil despertaram tanto fascínio e controvérsia quanto Eike Fuhrken Batista. Filho do ex-ministro de Minas e Energia Eliezer Batista, Eike construiu uma imagem pública de “homem mais rico do Brasil” e de visionário capaz de transformar setores inteiros da economia. No auge, era o oitavo homem mais rico do mundo, com fortuna estimada pela Forbes em US$ 30 bilhões. Entre seus empreendimentos mais ousados estavam a OGX, voltada para exploração de petróleo e gás, e a OSX, focada em construção naval e offshore.

O projeto era grandioso: criar um ecossistema de empresas brasileiras capazes de disputar espaço com gigantes internacionais, produzir navios e plataformas no país e explorar megacampos de petróleo na costa brasileira. Mas, em poucos anos, o que parecia ser o prenúncio de um novo ciclo de prosperidade virou um dos maiores colapsos corporativos da história nacional.

O nascimento do império X no petróleo e na construção naval

A OGX foi fundada em 2007 com uma promessa clara: transformar o Brasil em um polo global de exploração petrolífera privada. Eike aproveitou o momento favorável — alta do preço do barril, descoberta do pré-sal e um mercado financeiro otimista — para levantar capital recorde. O IPO da empresa, em 2008, arrecadou impressionantes R$ 6,7 bilhões, o maior da história da B3 até então.

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Paralelamente, nasceu a OSX, voltada à construção de sondas, plataformas e navios para atender às demandas da própria OGX e de outras petroleiras. Inspirado em modelos asiáticos, Eike decidiu construir um gigantesco estaleiro no Açu, litoral do Rio de Janeiro, como parte de um complexo industrial bilionário.

A estratégia parecia perfeita no papel: a OGX exploraria petróleo, a OSX fabricaria as estruturas necessárias, e outras empresas do grupo — como LLX (logística) e MPX (energia) — completariam o ciclo, garantindo independência e sinergia.

O otimismo que seduziu o mercado e multiplicou contratos

O carisma de Eike e sua habilidade de vender ideias cativaram investidores. Projeções otimistas apontavam que a OGX poderia produzir até 1,4 milhão de barris por dia em poucos anos — números que, se confirmados, colocariam a empresa no patamar das maiores petroleiras do mundo.

Com isso, contratos bilionários começaram a ser firmados. A frota planejada da OSX passava de 120 embarcações e plataformas entre navios-sonda, FPSOs (unidades flutuantes de produção, armazenamento e descarga) e petroleiros. Somente com a OGX, os contratos assinados somavam R$ 8 bilhões.

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O mercado, embalado por essa narrativa, elevou as ações da OGX a patamares históricos. Em 2010, cada papel chegou a valer R$ 23,27, tornando a empresa uma das mais valiosas da bolsa brasileira.

As primeiras fissuras no castelo de vidro

O que não estava claro para o grande público era que as estimativas de produção eram extremamente otimistas e pouco realistas. Testes de poços revelaram produtividade muito abaixo do esperado, e a logística para escoar petróleo era mais complexa e cara do que previsto.

Além disso, a OSX, criada para ser a engrenagem da infraestrutura, não conseguiu avançar no ritmo prometido. O estaleiro do Açu atrasou, custos dispararam e contratos dependiam quase exclusivamente da própria OGX, criando um risco de dependência fatal.

A partir de 2012, relatórios internos começaram a apontar problemas graves nos campos explorados. No mesmo ano, Eike admitiu que algumas áreas não teriam viabilidade econômica. A confiança do mercado começou a ruir.

O colapso financeiro e a fuga de investidores

O momento decisivo ocorreu em 2013, quando a OGX anunciou que sua produção seria muito inferior à prometida e que não conseguiria honrar obrigações financeiras. A queda nas ações foi vertiginosa: em poucos meses, passaram de mais de R$ 20 para centavos.

Com a OGX em crise, a OSX ficou sem sua principal cliente e também entrou em colapso. Em novembro de 2013, a OSX pediu recuperação judicial com dívidas superiores a R$ 4,5 bilhões. No mesmo mês, a OGX fez o mesmo, com um passivo de aproximadamente R$ 13 bilhões, o maior processo de recuperação judicial da história brasileira até então.

Investidores que acreditaram no projeto perderam praticamente tudo, e Eike, que havia ostentado o título de homem mais rico do Brasil, viu sua fortuna evaporar.

Impactos econômicos e sociais do colapso

O efeito cascata foi devastador. Milhares de trabalhadores perderam empregos nos estaleiros e plataformas. O Porto do Açu, que deveria ser a base de uma nova era industrial no norte fluminense, ficou marcado por estruturas inacabadas e áreas abandonadas.

O setor naval brasileiro, que vivia um ciclo de otimismo impulsionado pelo pré-sal, entrou em retração. A quebra de contratos afetou fornecedores, empresas terceirizadas e até prefeituras que contavam com royalties e ISS de grandes empreendimentos.

A queda de um símbolo e o julgamento público

O caso de Eike Batista se tornou um marco de como a superexposição e o excesso de promessas podem destruir uma reputação. Em 2017, ele foi preso preventivamente no âmbito da Operação Lava Jato, acusado de corrupção ativa e lavagem de dinheiro. Apesar de alegar inocência, foi condenado e passou a cumprir pena em regime domiciliar.

Para muitos analistas, Eike não foi apenas vítima de má sorte ou da volatilidade do petróleo, mas de um modelo de negócios baseado em expectativas irreais e marketing agressivo, sem a devida sustentação operacional.

O caso OGX e OSX deixou um legado de cautela no mercado brasileiro. O episódio mostrou a importância de due diligence rigorosa, análise técnica de projetos e diversificação de riscos. Também reforçou a necessidade de que empresas listadas mantenham transparência total sobre perspectivas de produção e finanças.

Hoje, o Porto do Açu opera sob nova administração e tenta se desvincular da imagem negativa do passado, mas o “império X” segue como exemplo de um sonho bilionário que desmoronou em tempo recorde.

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Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Reconhecido pela produção de conteúdo preciso e de alto impacto, já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Naval Porto Estaleiro, Agência Raccon, Mineração Brasil e Obras Construção Civil. Atua em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Curiosidades e Indústria, unindo análise aprofundada e linguagem clara para entregar informação relevante, atualizada e confiável. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com

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