De Zona Franca a centro de inovação científica, Manaus (AM) se destaca como capital amazônica que comanda pesquisas de ponta em biotecnologia, movimentando bilhões com seu polo industrial e liderando a bioeconomia no Brasil.
Durante décadas, Manaus (AM) foi vista por muitos como uma cidade isolada no meio da floresta amazônica — um “fim de mundo” com pouca conexão com o resto do Brasil. Mas essa narrativa já não se sustenta. Hoje, a capital do Amazonas abriga um dos maiores polos industriais do país, amparado pela Zona Franca de Manaus (ZFM), movimentando bilhões de reais e gerando mais de meio milhão de empregos diretos e indiretos. Ao mesmo tempo, a cidade lidera um movimento silencioso e estratégico: tornar-se referência global em pesquisas de ponta em biotecnologia. Instituições como o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) e o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) transformaram Manaus em um polo científico da floresta, trabalhando com biofármacos, cosméticos sustentáveis e tecnologias que valorizam a biodiversidade amazônica.
Esse equilíbrio entre potência econômica e liderança científica faz de Manaus um modelo único no Brasil e no mundo.
A Zona Franca de Manaus: motor industrial da Amazônia gera empregos e inovação no setor de biotecnologia
Um modelo econômico que resistiu ao tempo
A criação da Zona Franca de Manaus, em 1967, marcou o início de uma revolução econômica na região Norte. O modelo foi desenhado para estimular o desenvolvimento regional, utilizando incentivos fiscais para atrair indústrias ao coração da floresta. Em 2024, o faturamento do Polo Industrial de Manaus superou R$ 180 bilhões, segundo a SUFRAMA.
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Diversidade industrial e geração de empregos
Atualmente, mais de 600 indústrias operam na ZFM, atuando nos setores de eletroeletrônicos, motocicletas, duas rodas, plásticos, bebidas e químicos. Empresas como Honda, Samsung, LG, Sony e Yamaha mantêm operações robustas na capital. O modelo sustenta mais de 500 mil empregos diretos e indiretos em Manaus e em outras cidades do estado.
Além disso, a ZFM responde por cerca de 70% do PIB industrial do Amazonas, tornando-se essencial para a arrecadação estadual e municipal.
A transição para a bioeconomia: ciência como novo vetor de crescimento
Do aço ao extrato vegetal
Nos últimos anos, o foco da Zona Franca começou a se expandir. O objetivo agora é combinar o potencial logístico e fiscal da ZFM com a bioeconomia, um modelo de produção baseado em recursos naturais renováveis, como plantas medicinais, frutos amazônicos e microrganismos.
Essa mudança de foco está ancorada em instituições como o CBA – Centro de Biotecnologia da Amazônia, que utiliza a biodiversidade local para gerar conhecimento, inovação e novos produtos industriais.
Bioindústria com DNA amazônico
Entre as inovações promovidas estão:
- Bioativos de açaí, cupuaçu e andiroba para cosméticos;
- Bioplásticos à base de curauá;
- Fertilizantes naturais;
- Substitutos de medicamentos sintéticos por fitoterápicos amazônicos.
Essas pesquisas não apenas geram produtos de alto valor agregado, como também envolvem comunidades locais, respeitam o conhecimento tradicional e ajudam a preservar a floresta.
Centro de Biotecnologia da Amazônia: ciência em tempo real
Estrutura de ponta
O CBA possui mais de 12 mil metros quadrados de laboratórios, planta-piloto e incubadoras, com 26 ambientes dedicados a P&D. A instituição trabalha com quatro eixos:
- Biotecnologia vegetal
- Biotecnologia microbiana
- Biotecnologia industrial
- Propriedade intelectual e inovação
Produtos já desenvolvidos
- Produção de enzimas para alimentos e cosméticos;
- Desenvolvimento de extratos antimicrobianos;
- Bebidas funcionais com bacaba, cupuaçu e camu-camu;
- Biopigmentos naturais para indústrias de tintas e cosméticos.
Em 2023, o CBA foi reformulado e passou a ser gerido por uma Organização Social (FUEA), em parceria com a UEA e o IPT-SP, trazendo mais agilidade para atrair startups e parcerias internacionais.
INPA: a inteligência científica por trás da floresta
O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), com sede em Manaus desde 1952, é uma das instituições científicas mais importantes do Brasil. Com uma biblioteca viva da floresta, mantém laboratórios de genética, zoologia, botânica e ecologia. O INPA é responsável por descobertas de novas espécies, monitoramento ambiental e fornecimento de dados para decisões públicas e privadas.
Além disso, lidera o INCT-CENBAM (Centro de Estudos da Biodiversidade Amazônica), uma rede que envolve 300 pesquisadores e centenas de projetos integrados com universidades e centros do mundo inteiro.
Sidia e UFAM: tecnologia e formação para a nova economia
Sidia Instituto de Ciência e Tecnologia
Fundado pela Samsung, o Sidia é um centro de inovação digital que trabalha com inteligência artificial, aplicativos, realidade aumentada e internet das coisas. Sua atuação se conecta com a biotecnologia por meio de bioinformática, rastreabilidade de ativos naturais e sensores ambientais aplicados à indústria verde.
Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
A UFAM oferece programas de pós-graduação em biotecnologia, biodiversidade e desenvolvimento sustentável. Forma mestres, doutores e técnicos que abastecem o CBA, o INPA e o ecossistema de inovação da cidade.
Financiamento e políticas públicas: o novo ciclo
Incentivos fiscais ligados à ciência
A reformulação da Lei da Informática na ZFM passou a exigir que parte dos investimentos das empresas em P&D seja aplicada na região, com prioridade para áreas como bioeconomia, biotecnologia e transição verde.
Somente em 2023, mais de R$ 850 milhões foram destinados a projetos estratégicos de inovação, segundo dados da SUFRAMA.
Projeto de Lei 411/25
Em tramitação no Congresso, o PL 411/25 prevê a criação do Programa Nacional de Fomento à Pesquisa em Biotecnologia na Amazônia Legal, com:
- Recursos federais diretos para institutos como o CBA;
- Incentivo à formação técnica e científica local;
- Mecanismos de repartição de benefícios com comunidades tradicionais.
Impacto socioambiental e cultural
Preservação da floresta
Estudo da Universidade de Stanford, em parceria com o governo brasileiro, apontou que a Zona Franca de Manaus ajudou a evitar o desmatamento de mais de 2 milhões de hectares desde sua criação. O novo ciclo baseado em bioeconomia promete fortalecer esse papel ambiental.
Geração de renda com base no conhecimento tradicional
Projetos de bioprospecção em parceria com o CBA têm garantido royalties para comunidades ribeirinhas e indígenas, respeitando os princípios do Protocolo de Nagoya, sobre acesso e repartição justa de benefícios.
Manaus (AM) já não é “fim de mundo”. É ponto de partida. Um dos maiores polos industriais da América Latina, que também desponta como referência internacional em biotecnologia aplicada à biodiversidade amazônica. Um território onde floresta, ciência e desenvolvimento econômico convergem para um futuro mais verde, justo e inovador.
Se a bioeconomia é o novo ouro do século XXI, Manaus está no centro da corrida — com conhecimento, estrutura e protagonismo.