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De exportação à merenda: tarifas inviabilizam vendas aos EUA e Ceará negocia compra de mel por preço muito superior

Publicado em 19/08/2025 às 12:36
Mel, Exportações, Estados Unidos, Tarifas
Imagem: Wikimedea Commons
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Após sobretaxa dos EUA, governo do Ceará negocia compra de mel para a merenda escolar, pagando valores muito superiores aos praticados nas exportações

As próximas safras de mel produzidas no Ceará terão destino diferente do habitual. O produto, que seria exportado para os Estados Unidos, será direcionado para a merenda da rede estadual de ensino. A decisão busca reduzir os impactos do tarifaço imposto pelo governo de Donald Trump, que afetou diretamente o setor. Atualmente, 95% do mel cearense é exportado para o mercado norte-americano.

Diferença de preços

Segundo o presidente da Federação dos Apicultores do Estado (Fecap), Joventino Neto, o governo deve seguir a tabela da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Essa tabela fixa o preço médio do mel em sachê em R$ 61,50 por quilo.

O valor é bem mais alto do que os R$ 16 pagos pelos Estados Unidos pelo mel in natura, vendido sem beneficiamento.

Na prática, o Ceará poderá pagar quase 3,84 vezes mais que os importadores. É importante destacar que os produtos não são os mesmos: para exportação, o mel vai in natura, enquanto no mercado interno é entregue beneficiado, já embalado e rotulado.

Governo confirma negociação

Em entrevista por telefone, o secretário-executivo da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), Marcos Jacinto, confirmou que o Estado deve seguir os valores médios praticados pela Conab. Ele explicou, porém, que a negociação ainda está em andamento entre a pasta e os produtores.

Está em construção uma estratégia de compra pelo Governo do Ceará. Quando for efetivada, o preço será definido pelo devido processo licitatório”, afirmou.

Joventino Neto pondera que, mesmo com uma renegociação, o valor por quilo deve ficar entre R$ 40 e R$ 45. Essa faixa é mais que o dobro do valor médio pago nas exportações.

Esclarecimento da SDA

Após a divulgação das informações, a SDA reforçou que o valor exato ainda não está definido. Em nota, a pasta informou que seguirá dialogando com representantes da cadeia produtiva para definir um preço justo para a compra do mel e de outros gêneros afetados pelo tarifaço.

A secretaria destacou ainda que há diferença natural entre o valor do mel in natura e o beneficiado, porque o segundo passa por fracionamento, embalagem e rotulagem certificada.

O Governo do Estado, ciente das perdas enfrentadas pelos produtores após o tarifário imposto pelos Estados Unidos, informa que, nos próximos dias, continuará a dialogar com representantes da cadeia produtiva para negociar e definir um preço médio justo para a aquisição do mel e de outros gêneros alimentícios afetados pelo tarifaço”, concluiu a nota.

Safras anteriores continuam exportadas

A negociação com o governo estadual inclui apenas as próximas safras. Os lotes já vendidos continuam sendo enviados aos Estados Unidos.

Com o tarifaço, o valor do quilo exportado caiu de R$ 16 para R$ 14, redução de 12,5%. Em alguns casos, segundo Joventino, o preço chegou a R$ 12, o que representa queda de 25% nos lucros.

Quando o mel baixa o preço, os apicultores mais organizados param de vender”, relatou o presidente da Fecap. Apesar disso, os contratos antigos seguem ativos, mesmo com a queda da margem.

Segundo o secretário-executivo da SDA, o Estado deverá comprar ao menos 16 mil toneladas mensais de mel. O produto será fornecido em sachês e distribuído diretamente das indústrias para as escolas da rede pública.

A medida valerá para as safras de setembro e outubro, quando ocorre a nova florada das abelhas no Ceará.

Impacto do tarifaço

Joventino Neto destacou que os Estados Unidos deixaram de comprar mel do Ceará desde 7 de agosto, quando a sobretaxa entrou em vigor.

Os importadores buscam agora alternativas em outros países, como o Japão, mas pagando menos pelo produto.

Reforço ao mercado interno

Apesar das perdas externas, o presidente da Fecap acredita que a mudança pode ser positiva. Ele avalia que, se a compra do governo se tornar permanente, os preços locais ficarão mais vantajosos do que os pagos pelos importadores.

Se conseguirmos colocar mel pelo menos um dia na semana na merenda escolar, em um ano vamos absorver quase toda a produção do Ceará. Isso vai obrigar os atravessadores a pagar melhor para os pequenos apicultores”, defendeu.

O secretário Marcos Jacinto, no entanto, lembra que a medida é emergencial e terá prazo limitado. “Se conseguirmos reequilibrar a relação com os EUA, o próprio mercado retoma a condução das relações”, afirmou.

Edital deve sair nos próximos dias

A compra do mel será incluída em um edital de licitação que o Governo do Ceará deve publicar na próxima semana.

Segundo Chagas Vieira, secretário-executivo da Casa Civil, a proposta é apoiar as empresas exportadoras que foram prejudicadas pela nova tarifa.

Produção de mel no Ceará

De acordo com os últimos dados do IBGE, o Ceará produziu pouco mais de 5,7 mil toneladas de mel em 2023, sendo o quinto maior produtor do País.

Desse total, 1,8 mil toneladas foram exportadas para os Estados Unidos, o que corresponde a 31,8% da produção estadual. O restante já tinha como destino o mercado interno.

Segundo Joventino Neto, antes mesmo do tarifaço, a venda interna para a Conab já pagava muito mais que as exportações. O valor girava em torno de R$ 60/kg, contra os R$ 16 oferecidos pelos norte-americanos.

Com a mudança no mercado e a entrada do governo estadual como comprador, os produtores esperam agora garantir preços mais vantajosos e estabilidade diante da crise aberta pelo tarifaço.

Com informações de Diário do Nordeste.

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Romário Pereira de Carvalho

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