Modelos populares como Onix, Pulse e Dolphin trazem nova tecnologia, mas donos se assustam com os custos de reparo que podem superar o valor do veículo quando a proteção de fábrica acaba.
O mercado automotivo brasileiro mudou. Carros de grande volume agora usam tecnologias antes vistas apenas em modelos de luxo. A popularização de motores turbo e a chegada de veículos elétricos redesenham o conceito de ter um carro. Contudo, essa modernização traz um novo medo para o consumidor: o que acontece quando a garantia acaba? Relatos de falhas críticas e orçamentos altíssimos para carros turbo e elétricos alimentam uma ansiedade crescente sobre os custos de manutenção.
Chevrolet Onix Turbo: o risco caro da correia banhada a óleo
O motor 1.0 turbo do Chevrolet Onix se destaca pela eficiência. No entanto, uma escolha de engenharia virou motivo de grande preocupação: a correia de sincronismo banhada a óleo. Projetada para reduzir o atrito, ela se mostrou muito sensível às condições brasileiras.
O uso de óleo fora da especificação ou a contaminação por combustível ruim pode causar a degradação da correia. Seus fragmentos podem obstruir a bomba de óleo, levando a uma falha catastrófica do motor. Proprietários relatam quebras com apenas 40.000 km. Outros problemas incluem falhas na turbina, com custos de troca que chegam a R$ 12.000, e defeitos no atuador de embreagem.
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O verdadeiro susto está nos reparos fora da garantia. A retífica do motor, em caso de quebra da correia, pode custar entre R$ 5.000 e R$ 18.000. Diante das reclamações, a Chevrolet estendeu a garantia da correia para 240.000 km ou 15 anos. A marca também lançou uma campanha para que donos que perderam a garantia possam reativá-la, mediante inspeção e troca de óleo e filtro, a um custo que pode chegar a R$ 3.000. Na prática, a GM transformou uma crise em uma forma de fidelizar o cliente à sua rede.
Fiat Pulse Turbo: inovação acompanhada por defeitos de juventude
O Fiat Pulse inovou ao trazer o motor T200, que utiliza uma corrente de comando. Esse sistema é mais durável e elimina o risco de quebra visto no concorrente. A manutenção rigorosa do óleo correto (Mopar MaxPro Synthetic 0W30) é crucial para a saúde do turbocompressor.
Por ser um projeto novo, o Pulse sofre com “defeitos de juventude”. A principal fonte de queixas é o câmbio CVT, com relatos de travamento e falhas completas. Problemas na bomba de óleo, motor que desliga subitamente, engasgos e falhas de acabamento também são comuns. Um defeito de projeto no bocal de abastecimento, que dificulta o travamento da bomba de combustível, foi reconhecido e corrigido pela Fiat.
A Fiat é transparente com os preços das revisões programadas, que vão de R$ 746 a R$ 918 nos primeiros 50.000 km. Para mitigar o medo pós-garantia, a montadora vende uma proteção adicional, a Garantia FlexCare. O consumidor pode escolher entre planos que cobrem motor e câmbio ou uma cobertura mais ampla. A estratégia da Fiat é diferente: ela monetiza a tranquilidade, transferindo para o cliente o custo de gerenciar o risco de um reparo caro.
BYD Dolphin: a economia diária diante do risco catastrófico da bateria
O principal atrativo do BYD Dolphin é seu baixo custo operacional. O gasto com energia é uma fração do custo de combustíveis, e as revisões programadas são baratas: a primeira custa R$ 400 e a segunda R$ 1.040, alternando esses valores. Em 100.000 km, o custo acumulado de revisões é de R$ 3.280, contra cerca de R$ 5.645 do Pulse.
O grande medo, porém, é a bateria. O custo de uma substituição fora da garantia é assustador. Uma cotação de concessionária para a troca chegou a R$ 213.000. No mercado paralelo, a peça pode ser encontrada por valores a partir de R$ 35.000. A bateria Blade é um componente estrutural, e suas células são coladas, tornando reparos parciais quase inviáveis. Um dano físico por uma batida pode condenar todo o pack.
Além da bateria, donos relatam problemas como a falta de peças de reposição, uma suspensão traseira muito macia no modelo Mini e falhas na bateria auxiliar de 12V. Para dar segurança, a BYD oferece uma garantia longa: 6 anos para o veículo e 8 anos para a bateria. Contudo, essa proteção é altamente condicional. O manual detalha cláusulas que anulam a cobertura, como não fazer revisões na rede, usar carregadores não homologados ou deixar a bateria com carga baixa por muito tempo.
Como escolher o melhor carro para o seu bolso?
A escolha entre carros turbo e elétricos é uma avaliação de risco financeiro. Cada modelo apresenta um cenário diferente no pós-garantia:
- Chevrolet Onix: Risco concentrado no motor. A falha da correia tem custo alto, mas o risco é mitigado pela garantia estendida da fábrica, que em troca exige fidelidade à rede autorizada.
- Fiat Pulse: Risco pulverizado. Os problemas se espalham por câmbio, eletrônica e motor. A tranquilidade não é padrão e precisa ser comprada através de uma garantia adicional.
- BYD Dolphin: Risco “tudo ou nada”. Custos diários baixíssimos contra a possibilidade de um prejuízo catastrófico com a bateria. A garantia longa exige disciplina e conformidade rigorosa do proprietário.
Para o futuro comprador, a decisão exige uma autoavaliação sincera sobre sua tolerância ao risco. A nova era automotiva demanda um consumidor mais informado, que entende que a manutenção preventiva e a leitura atenta do manual de garantia são as ferramentas mais importantes para evitar um pesadelo financeiro.
Na verdade sempre foi assim com qualquer veículo. Essa questão da garantia sempre exige atenção, pois as montadoras sempre querem se isentar ao máximo da garantia, seja qualquer tipo de veículo.
Brasileiro não aprende mesmo.