BrasPine anuncia cortes e layoff em duas cidades do Paraná após sobretaxa dos Estados Unidos, impactando diretamente trabalhadores e produção do setor de madeiras. A medida atinge centenas de famílias e expõe a dependência das exportações brasileiras.
A BrasPine, indústria de produtos de madeira com unidades em Jaguariaíva e Telêmaco Borba, nos Campos Gerais do Paraná, confirmou o desligamento de cerca de 400 funcionários nesta quarta-feira (03).
Segundo a empresa, a decisão tem relação direta com a tarifa de 50% aplicada pelos Estados Unidos às importações de produtos brasileiros, principal mercado consumidor da companhia.
Demissões e layoff nas unidades do Paraná
De acordo com nota enviada pela BrasPine, o corte de pessoal ocorreu nas duas plantas.
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Em complemento, aproximadamente 1,1 mil trabalhadores entrarão em regime de layoff, com suspensão temporária do contrato e realização de cursos de qualificação.
A empresa informou que os vínculos empregatícios e os benefícios serão mantidos durante o período de capacitação.
Em Jaguariaíva, a companhia declarou que seguirá operando em dois turnos, ainda que com capacidade reduzida.
O que diz a BrasPine
No comunicado, a direção atribuiu a medida à queda abrupta de pedidos após a sobretaxa norte-americana.
A empresa afirmou que, “em razão das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos e da ausência de avanços nas negociações setoriais, enfrenta uma retração significativa na demanda, com impacto direto na viabilidade da operação”.
O texto também menciona a necessidade de “preservar a sustentabilidade financeira e a capacidade de retomada futura”, motivo pelo qual foram adotadas ações combinadas: desligamentos, layoff com qualificação profissional para cerca de 1.100 colaboradores e manutenção parcial da produção.
Tarifa de 50% e efeito sobre exportações brasileiras
A tarifa de 50% sobre parte relevante das exportações brasileiras para os Estados Unidos entrou em vigor em 6 de agosto de 2025, após decreto presidencial assinado em 9 de julho.
O aumento elevou a alíquota geral aplicada a produtos do Brasil e, segundo o setor, reduziu a competitividade de itens industrializados de madeira no mercado norte-americano.
A BrasPine tinha os EUA como destino prioritário de vendas, o que deixou a empresa mais exposta à mudança de cenário.
Férias coletivas já sinalizavam redução de produção
O movimento de ajuste operacional começou antes das demissões.
Em julho, a companhia comunicou férias coletivas a uma parcela significativa do quadro.
A primeira etapa atingiu cerca de 700 trabalhadores e, dias depois, o alcance foi ampliado para 1,5 mil dos 2,5 mil funcionários diretos, distribuídos entre as unidades de Jaguariaíva e Telêmaco Borba.
À época, a BrasPine informou que o objetivo era alinhar a produção à demanda e aguardar uma definição sobre o ambiente comercial externo.
Impacto local e resposta do poder público
A notícia das demissões repercutiu em Jaguariaíva, município com pouco mais de 35 mil habitantes segundo o Censo 2022 do IBGE.
A indústria integra a cadeia florestal que sustenta postos de trabalho diretos e indiretos na região.
Autoridades locais reconheceram o impacto econômico imediato e afirmaram acompanhar o caso, enquanto a empresa disse manter diálogo com órgãos governamentais e entidades setoriais para buscar alternativas.
Apoio aos trabalhadores e recolocação
No mesmo comunicado, a BrasPine declarou compromisso com transparência e respeito às pessoas, com oferta de extensão de benefícios e suporte à recolocação profissional.
A capacitação prevista no layoff busca, segundo a empresa, preparar os colaboradores para a retomada das operações quando as condições de mercado permitirem.
Não foram divulgados prazos para o término do programa ou para novas avaliações do quadro.
Como a tarifa mudou o dia a dia da fábrica
A imposição da tarifa encareceu o produto brasileiro nos Estados Unidos, pressionando margens e reduzindo a competitividade frente a concorrentes de países que continuam sujeitos a alíquotas menores.
Na prática, contratos foram revistos ou cancelados por compradores estrangeiros, o que levou à reprogramação de turnos, férias coletivas e, por fim, à demissão de parte dos funcionários.
A empresa afirma monitorar continuamente o mercado internacional e aguardar eventuais negociações comerciais que possam aliviar os custos de exportação.
Perspectivas e próximos passos
Sem mudanças imediatas no ambiente externo, a orientação da companhia é manter as medidas de contenção e o treinamento dos trabalhadores em layoff, preservando a possibilidade de retomada.
A empresa não apresentou estimativas de produção nem prometeu reversão de quadros, limitando-se a dizer que continuará “monitorando o mercado e mantendo o diálogo aberto” com autoridades e representantes do setor.
Contexto do setor florestal
A cadeia de base florestal paranaense tem alta dependência de encomendas internacionais, sobretudo da construção civil e do varejo norte-americanos.
Em momentos de elevação de tarifas ou de desaceleração nesses mercados, o efeito costuma ser rápido sobre fábricas locais.
Além da BrasPine, outras indústrias do ramo adotaram férias coletivas, redução de turnos ou suspensão temporária de linhas nos últimos meses, reforçando que se trata de um movimento setorial e não de um caso isolado.
Transparência e limites das informações
A BrasPine não detalhou a distribuição das demissões por unidade e não informou a duração do layoff.
Também não divulgou, até o momento, novas etapas de medidas além das já comunicadas.
Enquanto não houver retomada dos pedidos, o cenário segue condicionado à evolução das negociações comerciais e a eventuais ajustes de tarifas que possam restaurar a competitividade das exportações brasileiras.
Diante de um quadro que afeta empregos, renda e arrecadação em cidades médias do interior, qual deveria ser a prioridade agora: negociar a reversão da tarifa, ampliar o apoio à recolocação dos demitidos ou acelerar a diversificação de mercados para reduzir a dependência de um único destino?