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Crise na energia eólica se agrava: prejuízo da Aeris mais que dobra em um ano e expõe fragilidade do setor renovável no Brasil

Escrito por Rannyson Moura
Publicado em 06/11/2025 às 09:13
A Aeris Energy registrou prejuízo de R$ 144,4 milhões no terceiro trimestre de 2025, em meio à crise da energia eólica. Queda nas receitas, desemprego no Ceará e gargalos na infraestrutura ampliam os desafios do setor.
A Aeris Energy registrou prejuízo de R$ 144,4 milhões no terceiro trimestre de 2025, em meio à crise da energia eólica. Queda nas receitas, desemprego no Ceará e gargalos na infraestrutura ampliam os desafios do setor.
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A Aeris Energy registrou prejuízo de R$ 144,4 milhões no terceiro trimestre de 2025, em meio à crise da energia eólica. Queda nas receitas, desemprego no Ceará e gargalos na infraestrutura ampliam os desafios do setor.

O cenário da energia eólica no Brasil vive um dos momentos mais delicados da última década. A fabricante de pás eólicas Aeris Energy (AERI3) divulgou, nesta quarta-feira (5), um prejuízo líquido de R$ 144,4 milhões no terceiro trimestre de 2025. O número representa um aumento de 169% em comparação com o mesmo período de 2024, quando as perdas foram de R$ 53,68 milhões.

O resultado negativo ocorre em meio a uma desaceleração generalizada do setor de energias renováveis e a uma forte redução na demanda por equipamentos eólicos. Mesmo assim, a companhia afirma manter o foco em um processo de reestruturação e busca por eficiência operacional.

Queda nas receitas e retração no faturamento da Aeris

A crise tem afetado diretamente o desempenho financeiro da Aeris. A receita líquida da empresa no terceiro trimestre foi de R$ 179,07 milhões, o que representa uma queda de 26,1% em relação ao trimestre anterior e de 51,3% frente ao mesmo período de 2024.

O Ebitda, indicador que mede o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, também apresentou retração expressiva: ficou negativo em R$ 48,44 milhões, enquanto no trimestre anterior o índice havia sido de R$ 18 milhões negativos. Um ano antes, o Ebitda era positivo em R$ 27,39 milhões — o que mostra a rápida deterioração dos resultados.

Ainda assim, o prejuízo líquido da Aeris no trimestre foi 17% menor que o do segundo trimestre de 2025, quando as perdas somaram R$ 174,02 milhões, um pequeno alívio dentro de uma trajetória de resultados negativos.

Empresa aposta em reestruturação e diversificação de receitas

Apesar das dificuldades, a Aeris destacou avanços relevantes em seu plano de reestruturação financeira. A companhia conseguiu reduzir as despesas gerais e administrativas em 50,6% frente ao trimestre anterior, totalizando R$ 33,9 milhões.

Outro ponto positivo foi o reperfilamento da dívida, que alcançou 90% do passivo total, concluído em maio. Essa renegociação é considerada essencial para dar fôlego à empresa e garantir liquidez no curto prazo.

A Aeris também tem apostado na diversificação de receitas. A divisão Aeris Services, dedicada à manutenção e operação de pás eólicas, cresceu 21,6% no trimestre e já responde por 29,3% da receita consolidada. Além disso, as exportações atingiram 51,6% da receita total, com expansão nas vendas para a América do Norte e Europa, o que reforça o movimento de internacionalização da companhia.

Setor eólico sofre com cortes na geração e aumento do desemprego

A crise da energia eólica não atinge apenas as empresas, mas também milhares de trabalhadores. Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Ceará, Francisco Silveira, até 6 mil demissões ocorreram entre 2024 e 2025 apenas no estado.

Os cortes atingem desde profissionais de chão de fábrica até cargos administrativos. “A redução das operações nas indústrias eólicas afetou toda a cadeia produtiva”, afirmou Silveira.

O consultor em energias renováveis Adão Linhares estima que o setor de energia eólica no estado sofreu perdas de até R$ 20 milhões neste ano. Já em âmbito nacional, um levantamento da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) aponta a perda de 10 mil empregos diretos entre 2024 e 2025, com previsão de agravamento em 2026.

Gargalos na infraestrutura agravam a crise eólica e solar

Especialistas afirmam que o problema central da crise é o chamado “curtailment”, termo usado para descrever os cortes na geração de energia devido à falta de infraestrutura de transmissão.

No Ceará, onde 72% da geração de energia vem de fontes renováveis, o sistema de transmissão é insuficiente para escoar toda a produção de vento e sol. Isso força o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a reduzir a oferta, comprometendo o faturamento das empresas e diminuindo o ritmo de novos investimentos.

Além da energia eólica, o setor solar também sente os efeitos da retração. O vice-presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Nelson Falcão, afirmou que houve uma redução significativa nos negócios solares no Nordeste, o que resultou em demissões e suspensão de contratações.

Ceará é o epicentro da crise da energia eólica no Brasil

O estado do Ceará, que já foi referência nacional em geração eólica e solar, agora enfrenta o desafio de equilibrar a expansão das renováveis com a limitação estrutural do sistema elétrico. A combinação de altos ventos, elevada irradiação solar e infraestrutura precária coloca a região no centro do debate sobre o futuro da energia limpa no país.

Com as empresas acumulando prejuízos, o governo e o setor privado buscam soluções para evitar um colapso mais profundo. A retomada da confiança dos investidores dependerá de políticas públicas consistentes, novos investimentos em transmissão e incentivos para a modernização da cadeia produtiva.

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Rannyson Moura

Graduado em Publicidade e Propaganda pela UERN; mestre em Comunicação Social pela UFMG e doutorando em Estudos de Linguagens pelo CEFET-MG. Atua como redator freelancer desde 2019, com textos publicados em sites como Baixaki, MinhaSérie e Letras.mus.br. Academicamente, tem trabalhos publicados em livros e apresentados em eventos da área. Entre os temas de pesquisa, destaca-se o interesse pelo mercado editorial a partir de um olhar que considera diferentes marcadores sociais.

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