Azul enfrenta crise inédita com evasão acelerada de pilotos, impacto nas escalas, salários reduzidos e falta de progressão que alimentam insatisfação crescente
Um relatório interno da Azul Linhas Aéreas mostra que a empresa está enfrentando uma saída acelerada de pilotos. O documento aponta que mais de 14 profissionais por mês deixam a companhia, estabelecendo números inéditos.
A situação acontece enquanto a empresa passa por reestruturação nos Estados Unidos, dentro do processo conhecido como Chapter 11.
Desde o fim de 2023, mudanças na escala e nas condições de trabalho têm gerado insatisfação entre pilotos e comissários.
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Escalas de voo são foco de tensão
Pilotos relatam que a alteração de horários no fim da jornada tem causado forte estresse.
Atividades familiares e sociais acabam prejudicadas porque a empresa modifica a chave de descanso.
Embora esteja dentro da lei, a prática é criticada como incorreta e se tornou recorrente.
Segundo relatos, apenas a Azul adota com tanta frequência esse tipo de medida, em nível nacional e até internacional.
Salários e benefícios em queda
Outro ponto central é a remuneração. Os salários menores antes eram equilibrados por benefícios, mas agora esses extras também vêm sendo reduzidos.
Além disso, a companhia criou bases virtuais em cidades menores, prometendo maior quantidade de voos e renda proporcionalmente maior. Na prática, pilotos afirmam que a expectativa de ganhos não se cumpre, gerando frustração.
Pressão sobre os comissários
Os comissários enfrentam outro desafio: manter três habilitações válidas ao mesmo tempo, nos modelos ATR, Embraer e Airbus A320. O acúmulo exige estudo e renovação simultânea, sobrecarregando o aprendizado.
Apesar disso, a empresa ainda não registra grande evasão desse grupo. Mesmo assim, muitos profissionais já consideram migrar para outros setores fora da aviação.
Redução de pernoites e mais cansaço
A Azul adotou a política de reduzir pernoites para cortar custos de hospedagem. Isso faz com que os tripulantes retornem para casa mais tarde, perto do limite mínimo de descanso exigido por lei.
A medida economiza recursos, mas aumenta o desgaste físico e psicológico. Pilotos relatam dificuldade em manter o ritmo de voos consecutivos com tão pouco intervalo.
Estagnação de carreira após a pandemia
Outro fator é a falta de progressão. Antes da pandemia, havia maior clareza sobre promoções internas.
Após 2023, a Azul passou a contratar muitos pilotos externos para aviões maiores, como o Airbus A320.
Enquanto isso, veteranos que voavam ATR 72 e Embraer E195 esperam há anos por promoção.
Promoções diretas e descontentamento
Em uma tentativa de ajuste, a companhia promoveu alguns pilotos diretamente para o A330, usado em rotas internacionais. A decisão desagradou quem voava o A320 e aguardava sua vez na hierarquia.
Esse tipo de movimentação gerou sensação de injustiça entre os tripulantes, alimentando ainda mais a insatisfação.
Números de 2024 e 2025
O relatório obtido pelo portal AEROIN mostra que, em 2024, houve a saída de 113 pilotos.
Desses, 83 pediram demissão voluntária e o restante foi desligado pela empresa.
Já em 2025, até a primeira semana de setembro, 128 pilotos saíram da Azul. O número já supera o do ano anterior e representa uma média de 14,2 desligamentos por mês.
Entre os 128, 92 foram pedidos de desligamento e 36 cortes da companhia.
Foram 92 comandantes e 36 copilotos.
Perfil dos desligados
A maior parte dos comandantes tinha mais de 10 anos de empresa e voava A320 ou A330. Já entre os copilotos, quase metade tinha menos de dois anos de casa.
As principais razões entre comandantes foram: salários (41%), progressão de carreira (24%), qualidade de vida (19%) e escalas (13%).
Nos copilotos, os motivos ficaram mais equilibrados: 28% citaram qualidade de vida, 27% salário, 22% progressão e 11% escala.
Destino dos pilotos
A maioria dos profissionais foi absorvida por concorrentes. A LATAM contratou 45 deles, enquanto 9 seguiram para a aviação executiva, 4 para a GOL, 3 para a Etihad e 2 para a Avion Express.
Outros 10 não informaram seus próximos passos. O fluxo mostra que o mercado de trabalho ainda absorve rapidamente esses profissionais.
Relato direto de ex-piloto
Um dos pilotos que saiu contou sua experiência ao portal AEROIN. Ele disse que ingressou pela Azul Conecta e esperava evoluir até o Airbus.
Entretanto, os cancelamentos frequentes e a falta de clareza sobre promoções o fizeram aceitar proposta de concorrente. Segundo ele, a Conecta funciona como uma “escolinha”, sem perspectiva real de crescimento.
Motivos de contratações externas
A Azul justifica as contratações externas como forma de reduzir custos de treinamento. Promover um piloto interno exige pagar dois cursos de habilitação, enquanto trazer alguém de fora implica apenas em arcar com uma nova licença.
Com isso, a empresa gasta menos, mas gera atrito interno entre veteranos e novatos.
Taxa de demissões preocupa
Em 2025, a taxa geral de desligamentos da Azul está em 6,4%. Para pilotos, o índice é de 5,2%, superando o recorde de 2023 e revertendo a queda de 2024.
A tendência mostra um desgaste contínuo e ameaça a estabilidade da operação.
Voz do RH
Um funcionário do setor de RH afirmou que tentou alertar a diretoria sobre o problema. Ele comparou a relação dos pilotos com a empresa a um namoro que perde a confiança no meio do caminho.
Segundo ele, a falta de clareza em promoções e a divisão entre grupos geram um clima de descontentamento. O resultado são escalas desfalcadas e necessidade de remanejar voos.
Desafios da Azul à frente
O relatório conclui que os maiores problemas estão nas pontas: reter copilotos novos e segurar comandantes veteranos. Até agora, nenhuma medida efetiva foi tomada para resolver a situação.
A Azul estima que pode perder mais 36 pilotos até dezembro, totalizando 164 desligamentos em 2025.
A crise só não é maior porque a reestruturação do Chapter 11 prevê devolução de aeronaves e corte de rotas, reduzindo a necessidade imediata de tripulantes.
As informações do artigo são do Portal AEROIN.