Cientistas perfuraram o fundo do Atlântico na costa nordeste dos EUA e confirmaram um vasto aquífero de água doce submarino. O achado pode aliviar a crise hídrica global se desafios técnicos forem vencidos.
Cientistas passaram três meses perfurando o leito marinho e coletando amostras entre 300 e 400 metros abaixo do fundo do mar, ao largo da Nova Inglaterra. Encontraram água com salinidade muito inferior à do mar e próxima de padrões recomendados para potabilidade por agências dos EUA e internacionais. O material segue para análises laboratoriais.
O esforço mobilizou dezenas de pesquisadores de vários países e perfurações 20 a 50 km da costa, segundo reportagens de veículos nacionais dos EUA. O objetivo é amostrar diretamente o aquífero mapeado desde 2019 e testar sua extensão, composição e idade.
A campanha integrou a Expedição 501 – New England Shelf Hydrogeology, conduzida pelo consórcio europeu ECORD no âmbito do IODP³, com operações offshore entre 19 de maio e 1º de agosto de 2025 e partida do porto de Bridgeport (Connecticut). A fase onshore está prevista para começar em 14 de janeiro de 2026 no repositório de Bremen, na Alemanha.
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Por que há água doce sob o mar
A existência desse reservatório já era conhecida, mas pouco explorada. Em 2019, equipes da Woods Hole Oceanographic Institution e da Universidade de Columbia mapearam por métodos eletromagnéticos uma faixa gigante de água doce sob o Atlântico, de Massachusetts a Nova Jersey, possivelmente além, num total próximo de 500 km. Foi descrita como a maior formação do tipo já identificada.
Como essa água chegou lá? Duas hipóteses principais guiam os testes, infiltração antiga durante períodos com nível do mar mais baixo ou contribuição de derretimento glacial e chuva. A professora Holly Michael (Universidade de Delaware) afirma que o cenário de nível do mar reduzido pode explicar a recarga passada desses aquíferos costeiros offshore.
Saber a idade da água é importante porque águas jovens indicariam recarga ativa, já águas antigas sugerem um recurso finito. Os líderes da expedição estimam divulgar a idade aproximada das amostras em cerca de seis meses após as análises.
Água doce offshore com baixa salinidade pode abastecer metrópoles
As perfurações recuperaram sedimentos e amostras de água doce profunda em múltiplos pontos, com teores de sal próximos do limite recomendado para potabilidade. Isso encurta o caminho de tratamento em comparação com a dessalinização convencional, o que pode reduzir custos energéticos de produção de água potável para cidades costeiras.
Para o geofísico Brandon Dugan (Colorado School of Mines), co–chefe da campanha, a resposta sobre origem, idade e segurança sanitária definirá a viabilidade de uso em larga escala. O pesquisador vê potencial operacional em até 10 anos, caso a ciência e a engenharia confirmem o caminho.
O pesquisador Eric Attias (Universidade do Texas em Austin), não envolvido no projeto, avalia que o aquífero é vasto e pode “abastecer uma metrópole do tamanho de Nova York por centenas de anos”, ainda que com cautela quanto a impactos e limites. É uma esperança para populações costeiras.
Impacto potencial na crise hídrica global
Quase metade da população mundial vive a até 96 km do litoral e depende de aquíferos continentais, hoje sob pressão por superbombeamento e intrusão salina ligada à elevação do nível do mar. Reservatórios submarinos podem funcionar como fonte alternativa em locais com estresse hídrico e infraestrutura próxima.
A descoberta reaquece o debate sobre segurança hídrica e resiliência climática. Em cenários de seca extrema, cidades poderiam complementar o abastecimento com água doce subterrânea no mar, reduzindo a dependência de obras de dessalinização mais intensivas em energia.
Mas especialistas ressaltam que não é solução única. Sem gestão da demanda, perdas na rede e proteção de aquíferos em terra, o ganho pode ser temporário. O planejamento integrado de recursos hídricos permanece a prioridade.
Custos, riscos e marcos regulatórios
Trazer água pesada do leito marinho até a superfície e transportá-la à costa exige energia e logística. Há propostas de usar energia eólica para reduzir emissões, mas a viabilidade econômica dependerá de cada projeto. Quem paga e quem regula também conta: a captação ocorreria em águas federais, com repasse a estados e municípios.
Há riscos de contaminação por água salgada acima e abaixo do aquífero, caso o bombeamento altere gradientes naturais. Outro ponto é evitar interferência com aquíferos em terra, se houver conexão hidráulica. Monitoramento geofísico contínuo e poços bem projetados serão essenciais.
Segundo documentos da própria missão, a Expedição 501 foi estruturada para testes controlados e coleta de amostras, não para produção. Os dados gerados agora irão embasar estudos de engenharia, modelagem hidrogeológica e avaliações ambientais antes de qualquer licenciamento.
Diante da crise hídrica mundial, aquíferos submarinos devem entrar no planejamento ou o foco deve permanecer em conservação e reúso? Você acha que vale a pena investir bilhões para bombear água do mar subterrâneo ou é um atalho arriscado que pode distrair de soluções em terra? Deixe sua opinião nos comentários.