Disputa entre China, Estados Unidos e Holanda pela Nexperia expõe dependência do Brasil e pressiona governo a agir para evitar colapso nas montadoras
A indústria automotiva brasileira enfrenta uma ameaça real de paralisação. A disputa geopolítica entre China e Estados Unidos, que envolve a fabricante de semicondutores Nexperia, com sede na Holanda, acendeu o sinal vermelho nas montadoras nacionais. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), se o impasse continuar, as linhas de produção podem parar nas próximas semanas, afetando diretamente a economia do país.
Disputa internacional interrompe fornecimento de semicondutores
A Nexperia é uma das maiores produtoras mundiais de chips semicondutores. Controlada por um grupo chinês, possui fábricas espalhadas pela Ásia e Europa. Desde 2023, a guerra comercial entre Washington e Pequim levou os Estados Unidos a ampliarem sanções contra empresas chinesas estratégicas para o setor tecnológico.
Como consequência, o governo da Holanda nacionalizou, em outubro de 2025, a unidade da Nexperia no país. A decisão gerou forte reação da China, que proibiu a exportação dos chips para o exterior. Ao mesmo tempo, a filial holandesa perdeu acesso a insumos de fornecedores chineses, provocando um efeito dominó na produção global.
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Segundo analistas da Reuters e da Folha de S. Paulo, os semicondutores da Nexperia não são complexos, mas são essenciais para sistemas automotivos, como freios ABS, câmbio, airbags, motores e centrais multimídia. Cada carro moderno utiliza entre 1.000 e 3.000 chips, o que amplia a vulnerabilidade da cadeia.
“As montadoras já receberam notificações sobre atrasos e riscos de falta de componentes”, declarou Igor Calvet, presidente da Anfavea, em 23 de outubro de 2025.
Risco de paralisação e apelo ao governo brasileiro
Diante do risco de interrupção, a Anfavea pediu ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) que atue diplomática e tecnicamente junto à China para garantir o fornecimento de semicondutores.

De acordo com informações da Reuters, parte da produção da Nexperia foi retomada no fim de outubro, o que reduziu temporariamente o risco de desabastecimento. Mesmo assim, o mercado continua instável e vulnerável, pois a cadeia global de semicondutores depende da Ásia, principalmente de China, Coreia do Sul e Taiwan, países que concentram o refino e a fabricação de componentes críticos.
Essa dependência internacional coloca o Brasil em posição delicada, já que quase todos os chips usados pelas montadoras são importados. Por isso, qualquer crise logística ou comercial afeta diretamente a produção e o desempenho econômico do setor.
Pandemia expôs fragilidade do setor automotivo global
A situação atual lembra a escassez de chips entre 2020 e 2021, durante a pandemia de covid-19. Naquele período, as montadoras reduziram pedidos prevendo queda nas vendas, mas a demanda por eletrônicos domésticos explodiu, desviando a produção global para televisores e computadores.
Quando o mercado automotivo tentou se recuperar, faltavam insumos e capacidade industrial, o que provocou paralisações prolongadas. Segundo a consultoria AlixPartners, 7,7 milhões de veículos deixaram de ser fabricados em 2021 devido à falta de semicondutores — um cenário que volta a assustar a indústria neste fim de 2025.
Impactos e desafios para o Brasil
A Anfavea estima que, se a crise da Nexperia se agravar, a produção nacional pode cair até 15% nas próximas semanas. O MDIC estuda medidas emergenciais para reduzir os impactos e diversificar as fontes de importação. Especialistas reforçam que o Brasil precisa investir em autonomia tecnológica, criando políticas para estimular a fabricação local de semicondutores.
Além disso, o país deve reforçar acordos com nações que dominam essa tecnologia e atrair investimentos estrangeiros para instalar fábricas no território nacional. Esse debate vem desde 2024, quando o governo iniciou estudos sobre a criação de um polo brasileiro de chips.
Caminhos para a recuperação e independência tecnológica
Embora a produção da Nexperia tenha voltado parcialmente, a instabilidade mundial reforça a urgência de reduzir a dependência de um único fornecedor. Para muitos analistas, o Brasil deve transformar a crise em oportunidade e ampliar sua participação na cadeia global de tecnologia.
A Anfavea defende que o governo e o setor privado unam esforços para fortalecer a infraestrutura, investir em pesquisa e capacitar profissionais. Dessa forma, o país pode garantir soberania industrial e segurança produtiva.
Mas diante das disputas crescentes entre potências, até quando o Brasil conseguirá manter suas fábricas ativas sem depender de chips estrangeiros?


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