Corrida global por minérios estratégicos coloca Poços de Caldas no radar; região pode abrigar 300 milhões de toneladas de terras raras
A corrida por energia limpa e tecnologia de ponta colocou os chamados minérios estratégicos no centro das atenções globais. Entre eles, as terras raras vêm ganhando destaque pela sua importância na produção de motores de carros elétricos, turbinas eólicas e equipamentos de alta tecnologia.
No Brasil, a cidade de Poços de Caldas (MG) entrou nesse mapa mundial com uma descoberta promissora dentro de uma cratera de vulcão extinto. Segundo dados do G1, a cratera de vulcão extinto pode suprir cerca de 20% da demanda global por estes minérios.
Empresas brasileiras e estrangeiras intensificaram os pedidos de autorização para pesquisa desses minérios.
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Segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), o Brasil já concedeu 1.882 autorizações de pesquisa de solo voltadas às terras raras.
Em Minas Gerais, são 361 solicitações, sendo um terço delas concentradas em Poços de Caldas.
A cratera que pode mudar tudo
Com cerca de 800 km², a cratera de Poços de Caldas abrange os municípios de Poços de Caldas, Andradas e Caldas, além de Águas da Prata (SP).
A região pode conter até 300 milhões de toneladas de terras raras, segundo o geólogo Álvaro Fochi, responsável pela descoberta da jazida nos anos 2010.
Esse tipo de minério não é comum nem fácil de extrair. Ainda assim, a área atraiu a atenção de mineradoras australianas, que já planejam iniciar a exploração entre 2026 e 2027.
Essas empresas devem explorar um total de 420 km². Só em 15% desse território, foram identificadas 2 bilhões de toneladas de argila com íons de terras raras — o suficiente para sustentar 20 anos de mineração.
Facilidade na extração dá vantagem ao Brasil
Um dos grandes atrativos da jazida de Poços de Caldas é a forma como o minério se apresenta. As terras raras estão concentradas em argilas iônicas a apenas 30 metros de profundidade. Isso permite uma extração mais simples, barata e menos agressiva ao meio ambiente.
O método usado é chamado de “backfill”. Nele, uma cava nova é aberta enquanto outra, já explorada, vai sendo preenchida com o material extraído anteriormente. Esse processo contínuo permite reabilitação ambiental imediata e reduz os danos ao solo.
Segundo as mineradoras, esse modelo é cinco vezes mais barato do que a mineração em profundidade, que exige explosivos e grandes máquinas.
Por isso, especialistas já apontam Poços de Caldas como uma das poucas jazidas fora da China com potencial para competir em volume e custo.
Aposta estratégica para o Brasil
O governo brasileiro também está atento à importância dos minérios estratégicos. Dados do Ministério de Minas e Energia mostram que o país tem a segunda maior reserva de terras raras do mundo, com 21 milhões de toneladas — o que representa 23% do total global.
Projetos para extração de terras raras já foram mapeados em outros estados, como Goiás, Bahia, Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo e Roraima. E o governo quer aproveitar esse potencial.
Em junho, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e o BNDES aprovaram 56 planos de negócios em chamada pública.
O total investido foi de R$ 45,8 bilhões. Desses, 10 projetos são dedicados às terras raras. Os demais incluem lítio, grafite, cobre, silício, níquel, titânio e minerais do grupo da platina.
Disputa global acirrada
A corrida por esses minérios é global. Países como China e Estados Unidos disputam o domínio do setor. Os EUA perderam a liderança da exploração de terras raras para os chineses na década de 1990.
Desde então, a China domina o setor, produzindo mais de 90% dos ímãs permanentes feitos com terras raras.
Por isso, os Estados Unidos vêm buscando acordos com países produtores. No fim de julho, o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungmann, afirmou que Gabriel Escobar, encarregado de negócios da embaixada norte-americana, manifestou interesse oficial do governo dos EUA nos minérios estratégicos brasileiros.
Esse movimento faz parte da política externa adotada por Donald Trump, que pressiona aliados a garantir o fornecimento de insumos críticos aos EUA. Mesmo com tensões comerciais, o interesse americano pode abrir portas para novos acordos bilaterais.
Etapas e expectativas futuras
Antes da extração começar, as empresas precisam seguir um cronograma. De acordo com o geólogo Paulo Henrique Silva Lopes, os solicitantes têm até três anos para concluir os estudos e entregar um relatório técnico. Só depois desse documento é possível fazer o pedido de lavra.
Ainda há muitas áreas com potencial inexplorado. Mesmo sem sinais geológicos claros, empresas fazem pedidos de pesquisa com base no histórico da região.
“Tem muita ocorrência não descoberta. Mesmo que não haja uma geologia clara, é feita a solicitação na esperança de encontrar algo porque a região está ‘em cima do veio’”, explica Lopes.
Com o cenário atual, Poços de Caldas se destaca como peça-chave na estratégia do Brasil para ocupar espaço relevante no mercado global de terras raras. E, mais importante, com uma vantagem que poucos países têm: abundância, acesso fácil e custo competitivo.
Com informações de G1.