Relatórios de FMI, Bundesbank e Cebr apontam que ganhos econômicos são ínfimos, enquanto setores como hotelaria e comércio faturam mais em dias de folga.
Discutir se cortar feriados eleva a produtividade voltou ao centro do debate após países como França, Eslováquia e Dinamarca reduzirem datas comemorativas em nome do ajuste fiscal. Porém, estudos citados pelo G1 e por organismos internacionais mostram que o impacto positivo sobre o PIB é mínimo — e, em alguns casos, a medida pode até prejudicar setores que dependem do consumo nesses dias, como turismo, hotelaria e varejo.
O FMI e o Bundesbank destacam que aumentar artificialmente o número de dias úteis não garante crescimento proporcional da economia. A produtividade está muito mais ligada a fatores como investimento em tecnologia, qualificação da mão de obra e eficiência do trabalho. Já o Cebr (Center for Economics and Business Research) afirma que “as evidências são limitadas” e que cortar feriados pode ser um erro estratégico quando se olha o equilíbrio entre produção e bem-estar.
França, Dinamarca e EUA no centro do debate
Em julho de 2025, o primeiro-ministro francês François Bayrou propôs eliminar dois feriados nacionais: a Segunda-feira de Páscoa e o Dia da Vitória na Europa (8 de maio). A medida foi apresentada como saída para aliviar pressões orçamentárias, mas gerou forte resistência política e sindical. A Eslováquia adotou medida semelhante em 2025 e a Dinamarca já havia cortado um feriado pós-Páscoa em 2023 para abrir espaço no orçamento de defesa.
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Nos Estados Unidos, onde já existem 11 feriados nacionais, o ex-presidente Donald Trump criticou o excesso de folgas ao escrever, em 19 de junho (Juneteenth), que “muitos feriados sem trabalho custam bilhões”. No entanto, o país é o único da OCDE sem férias remuneradas, e boa parte da economia continua ativa mesmo em datas comemorativas — em especial no varejo, turismo e transportes.
O que dizem os estudos sobre PIB e produtividade
Um estudo de 2021, assinado por Lucas Rosso e Rodrigo Andres Wagner, apontou efeitos mistos dos feriados. Quando recaem em fins de semana e não são repostos, há um leve aumento no PIB. Já quando caem em dias úteis, alguns setores sofrem retração, mas outros, como comércio e serviços, registram crescimento.
O Bundesbank alerta que o impacto líquido de cortar feriados é desproporcionalmente pequeno. Ou seja: o ganho de alguns décimos no PIB não compensa a perda de bem-estar da população. O EPI (Economic Policy Institute), nos EUA, vai além: reduzir folgas pode aumentar os casos de burnout, o que derruba a produtividade no médio prazo e pressiona o sistema de saúde.
Setores que perdem e setores que ganham
Os feriados têm efeito desigual. Indústrias e bancos tendem a perder em produtividade quando há interrupções, mas comércio, turismo e hotelaria registram aumentos expressivos de faturamento nessas datas. De acordo com especialistas, esse consumo extra ajuda a equilibrar a economia, principalmente em países onde o e-commerce pressiona as lojas físicas.
Na Europa, países como Áustria (38 dias), Dinamarca (36) e Finlândia (36) combinam altos números de dias pagos (férias + feriados) com PIB per capita elevado. O dado reforça que descanso e crescimento não são excludentes: em muitas economias desenvolvidas, mais folga convive com alta produtividade.
O debate também interessa ao Brasil, onde há discussões frequentes sobre transformar feriados em pontos facultativos para “estimular a economia”. No entanto, os dados internacionais indicam que mais dias de trabalho não significam necessariamente mais produção. A política pode até elevar arrecadação no curtíssimo prazo, mas em contrapartida reduz a demanda em setores que se beneficiam do lazer.
Na sua opinião, o Brasil deveria cortar feriados para aumentar a produtividade ou manter as datas como parte do equilíbrio entre economia e qualidade de vida? Você acha que o país ganharia ou perderia com essa mudança? Deixe sua opinião nos comentários.