Relatório do Serviço Geológico do Brasil destaca 94 jazidas de ouro com viabilidade de exploração e reacende debate sobre impactos econômicos e ambientais no país
O governo brasileiro mapeou 94 jazidas de ouro com alto potencial de exploração em diversas regiões do país, especialmente na Amazônia Legal. A informação consta no relatório “Economia Mineral do Ouro”, publicado pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), que busca subsidiar futuros investimentos privados e ampliar a produção nacional do mineral.
Ao contrário do que foi divulgado em algumas manchetes, não se trata de descobertas inéditas. O relatório consolida dados geológicos e geoquímicos já existentes, apontando 94 jazidas de ouro em distritos com características favoráveis à mineração — sem representar, necessariamente, reservas comprovadas. O foco está em atrair capital e orientar políticas públicas para mineração sustentável.
A maioria das jazidas está na região Norte
O levantamento do SGB identificou 94 jazidas de ouro distribuídas por 20 estados brasileiros, sendo que mais de 80% estão concentradas na Amazônia Legal. O Pará lidera o ranking com 51 áreas mapeadas, seguido por Amazonas, Roraima, Rondônia e Amapá. Também há áreas em estados tradicionais da mineração, como Minas Gerais, Goiás e Bahia.
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Os depósitos incluem veios primários em greenstone belts, ouro aluvionar e formações geológicas associadas ao Cráton Amazônico. Estudos indicam que, se exploradas de forma planejada, essas áreas poderiam adicionar até 30 toneladas anuais à produção nacional — um aumento de quase 28% frente às 107 toneladas extraídas em 2020.
Brasil é o 7º maior produtor de ouro do mundo
Atualmente, o Brasil ocupa o 7º lugar no ranking mundial de produção de ouro, com 107 toneladas anuais. Minas Gerais lidera, com 38,5 toneladas, seguida pelo Pará (34 t), Mato Grosso (14,6 t) e Goiás (14 t). Com as 94 jazidas de ouro mapeadas, o país pode subir no ranking global e gerar bilhões em exportações e royalties via CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais).
Segundo o SGB, as reservas conhecidas somam 2.400 toneladas. Se mantido o ritmo atual de produção, essas reservas se esgotariam em pouco mais de 20 anos. A entrada de novas áreas pode estender esse prazo e fortalecer a balança comercial brasileira.
Empresas já monitoram áreas para futuros investimentos
Embora ainda não haja concessões em andamento nas 94 jazidas de ouro, o mercado já reage ao relatório. Empresas como Kinross Gold, Equinox Gold, Pan American Silver (ex-Yamana), Serabi Gold e Aura Minerals avaliam projetos nas regiões mapeadas, principalmente no Pará e Amapá.
Além das multinacionais, a brasileira Nexa Resources manifestou interesse em ativos vendidos pela BHP em 2025. Segundo o governo, parte das áreas será incluída em futuros leilões do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), com previsão de licitação a partir de 2026.
Crescimento econômico pode vir com riscos ambientais
O mapeamento das 94 jazidas de ouro representa uma grande oportunidade econômica, principalmente para o Norte do Brasil, onde os índices de desemprego são mais altos. A mineração pode gerar empregos, aumentar arrecadação municipal e impulsionar obras de infraestrutura.
Por outro lado, entidades ambientais e pesquisadores alertam para os riscos. Estudos do MapBiomas e do Greenpeace mostram que áreas de garimpo legal ou ilegal já provocaram desmatamento de mais de 1,2 milhão de hectares na Amazônia entre 2005 e 2023. Há também contaminação por mercúrio, conflitos com povos indígenas e avanço de crimes ambientais em regiões remotas.
Produção de ouro precisa ser equilibrada com sustentabilidade
Especialistas defendem a aplicação de licenciamento trifásico, uso de tecnologia limpa e monitoramento digital para evitar que o crescimento da produção se traduza em colapsos ambientais. O ouro é estratégico para a economia brasileira, mas sua exploração deve respeitar limites socioambientais, principalmente em biomas sensíveis como a Amazônia.
O relatório do SGB não autoriza nenhuma nova mina. Ele apenas fornece os dados técnicos para que futuras decisões sejam tomadas com base científica — e não apenas em interesses econômicos imediatos.
Você acredita que o Brasil deve explorar essas 94 jazidas de ouro para impulsionar a economia ou que os riscos ambientais pesam mais? Comente e participe da discussão.