Crise financeira inédita pressiona o governo a intervir nos Correios com um plano urgente de empréstimo bilionário para evitar o colapso.
A crise nos Correios se aprofundou com a divulgação, no início deste mês, de um prejuízo de R$ 4,3 bilhões no primeiro semestre de 2025.
O resultado negativo mais do que triplicou em relação ao mesmo período do ano passado, quando a estatal havia registrado perdas de R$ 1,3 bilhão.
Os números foram apresentados pela ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos) e acenderam um alerta definitivo sobre a saúde financeira da companhia.
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A receita líquida de vendas e serviços caiu de R$ 9,283 bilhões no primeiro semestre de 2024 para R$ 8,185 bilhões no mesmo período de 2025, enquanto as despesas gerais e administrativas dispararam de R$ 1,959 bilhão para R$ 3,414 bilhões.
O relatório financeiro destaca ainda uma retração significativa no segmento internacional, causada por alterações regulatórias que reduziram o volume de postagens e aumentaram a concorrência, provocando queda nas receitas.
A empresa reconhece que enfrenta “restrições financeiras decorrentes de fatores conjunturais externos que impactaram diretamente a geração de receitas”.
Apesar disso, críticos da atual gestão afirmam que a direção tem sido lenta na adoção de ajustes estruturais para conter a sangria financeira e evitar um colapso operacional.
Para tentar reverter o cenário, os Correios anunciaram recentemente um plano de venda de imóveis e a abertura de um programa de demissões voluntárias, além do lançamento de um marketplace em parceria com a Infracommerce.
No entanto, essas iniciativas são vistas como insuficientes para recolocar a empresa no azul diante da velocidade com que os prejuízos crescem.
Pressão sobre a gestão e plano de emergência
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escolheu Emmanoel Schmidt Rondon, funcionário de carreira do Banco do Brasil, para a presidência dos Correios.
Precatórios em disparada e risco de bloqueios
A troca de comando na estatal, oficializada após meses de indefinição, acelerou a elaboração de um plano emergencial para impedir o colapso financeiro.
A estratégia inclui renegociar um empréstimo de R$ 1,8 bilhão contratado com bancos privados e injetar recursos do Tesouro Nacional.
Segundo a Folha de S. Paulo, o estoque de precatórios saltou de R$ 940 milhões em abril para R$ 2,1 bilhões em junho, criando risco de acionamento de cláusulas restritivas (covenants).
Se os covenants forem disparados, os bancos podem reter recebíveis e antecipar a cobrança da dívida, deixando a estatal sem liquidez para pagar despesas básicas e forçando sua dependência direta do Orçamento da União.
Tesouro e bancos buscam saída
Integrantes do Ministério da Fazenda defendem que o anúncio de um aporte federal é essencial para acalmar os credores e evitar a execução antecipada do contrato.
Dentro da equipe econômica, cresce o entendimento de que o governo não pode adiar uma decisão.
Caso os contratos sejam executados, os Correios passariam a depender de forma contínua do Tesouro, o que aumentaria os gastos obrigatórios e reduziria espaço para políticas públicas.
Novo comando, velhos problemas
Lula confirmou a escolha de Emmanoel Schmidt Rondon, funcionário de carreira do Banco do Brasil, para a presidência da estatal. Segundo a Secom, ele é um técnico experiente e terá como missão imediata apresentar um plano de reestruturação.
Até então, a empresa era conduzida interinamente por Fabiano Silva, que pediu demissão em julho. Em nota, os Correios afirmaram que estão implementando medidas de reequilíbrio financeiro, como a criação de um Comitê Executivo de Contingência, aumento de receitas via diversificação de serviços e ganhos de produtividade.
O marketplace lançado recentemente é apontado como o principal destaque, enquanto outras iniciativas seguem sob sigilo.
Alternativas em análise
Além do aporte direto, o governo avalia medidas paralelas para dar fôlego à estatal. A Caixa Econômica Federal estuda a compra de imóveis dos Correios e possíveis sinergias em serviços financeiros.
Nos bastidores, a avaliação predominante é que a União terá de intervir financeiramente para assegurar a sobrevivência da estatal e evitar que a crise se transforme em um problema fiscal mais amplo.