Correios enfrentam crise histórica com déficit bilionário e buscam empréstimo de R$ 20 bilhões para evitar colapso financeiro.
Os Correios vivem uma das piores crises de sua história. Após 12 trimestres consecutivos de prejuízos, a estatal acumula um déficit de R$ 4,36 bilhões apenas no primeiro semestre de 2025. O cenário crítico levou a empresa a buscar um empréstimo de R$ 20 bilhões para tentar equilibrar as contas e recuperar o fluxo de caixa.
A crise começou em 2022, durante o governo de Jair Bolsonaro, e se agravou sob a atual gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo o presidente Emmanoel Schmidt Rondon, o objetivo é “recuperar a liquidez da empresa” e reduzir o peso das dívidas contraídas em anos anteriores.
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Gastos com pessoal pressionam as contas da estatal
Grande parte do déficit dos Correios está relacionada aos gastos com pessoal, que cresceram de forma contínua desde 2022.
Naquele ano, dois reajustes salariais elevaram os custos em R$ 820 milhões, além de bônus e benefícios.
Já em 2023, o impacto chegou a R$ 1,3 bilhão, e, em 2024, novas negociações coletivas ampliaram novamente a folha de pagamento em R$ 894 milhões.
Em 2025, apenas no primeiro semestre, os custos salariais aumentaram em R$ 547 milhões. Somado a isso, a estatal assumiu uma dívida previdenciária de R$ 2,4 bilhões com a PREVIC, relacionada ao Plano de Benefício Definido (PBD), com previsão de pagamentos até 2054.
Esses compromissos ampliam o rombo financeiro e comprometem o caixa da empresa.
“Taxa das blusinhas” reduziu receitas e agravou o déficit
Outro ponto que aprofundou a crise nos Correios foi o programa Remessa Conforme, criado em 2023 pelo Ministério da Fazenda.
A iniciativa instituiu uma taxa de 20% sobre compras internacionais de até US$ 50, antes isentas de imposto, e permitiu que empresas privadas transportassem encomendas diretamente no Brasil — reduzindo a exclusividade dos Correios nesse segmento.
A medida provocou uma perda estimada de R$ 2,2 bilhões em receitas. A estatal viu o faturamento com encomendas internacionais cair de R$ 2,1 bilhões em 2024 para apenas R$ 815 milhões em 2025, uma queda de mais de 60%.
Essa redução atingiu diretamente uma das principais fontes de renda da empresa, que chegou a representar quase 25% de seu faturamento nos últimos anos.
Caixa em colapso e dependência de empréstimos
Com a receita em queda e as despesas crescentes, o fluxo de caixa da empresa entrou em colapso.
O valor disponível caiu de R$ 3,2 bilhões em 2023 para apenas R$ 249 milhões em 2024, uma redução de 92%.
Sem recursos, os Correios recorreram a empréstimos bancários de R$ 550 milhões no fim de 2024 e de R$ 1,8 bilhão em 2025, com juros de até 21,99% ao ano.
Agora, o novo pedido de empréstimo de R$ 20 bilhões busca substituir essas dívidas e restaurar o equilíbrio financeiro.
Segundo Rondon, o valor ajudará a pagar débitos com fornecedores, precatórios e o Plano de Demissão Voluntária (PDV).
“Estamos realizando uma operação de tomada de recursos para recuperar a capacidade de pagamento da empresa”, afirmou o presidente.
Unidades deficitárias e alta nos precatórios agravam crise
Atualmente, 85% das mais de 10 mil agências dos Correios operam com déficit. Mesmo assim, a estatal mantém o compromisso de oferecer serviços em todos os 5.567 municípios do país, conforme determina a União Postal Universal (UPU).
Essa obrigação impede o fechamento de unidades deficitárias, tornando a reestruturação mais complexa e custosa.
Além disso, o número de precatórios aumentou significativamente, alcançando R$ 1,6 bilhão em junho de 2025, mais que o triplo do registrado em 2022.
Esses passivos judiciais consomem parte importante do orçamento e dificultam a recuperação financeira.
Plano de reestruturação busca cortar custos e gerar receitas
Para tentar conter a crise nos Correios, a direção da empresa lançou um novo plano de reestruturação dividido em três eixos principais: corte de gastos operacionais e administrativos, diversificação de receitas e recuperação da liquidez.
Entre as medidas estão a redução de 20% do orçamento de cargos comissionados, a venda de imóveis ociosos, o incentivo à jornada reduzida e a suspensão temporária de férias até 2026.
A estatal também pretende lançar um marketplace próprio e captar R$ 3,8 bilhões com o New Development Bank (NDB) para investir em modernização e eficiência operacional.
Privatização volta a ser discutida como alternativa
Em meio à busca por soluções, a privatização dos Correios voltou ao debate em Brasília. O jurista Fernando Vernalha defende que o tema seja analisado sem ideologia:
“Deveríamos debater o assunto com mais pragmatismo e desprendimento ideológico. É preciso entender o que é melhor para o cidadão e para a União do ponto de vista econômico.”
No entanto, especialistas apontam que a estrutura da estatal — obrigada a atuar em todo o território nacional, inclusive em regiões não lucrativas — torna difícil um modelo de privatização total.
Futuro incerto e risco de colapso financeiro
O empréstimo de R$ 20 bilhões aparece como a principal aposta para evitar o colapso financeiro da estatal.
Entretanto, analistas alertam que, sem reformas estruturais profundas, a crise nos Correios tende a persistir, ameaçando a sustentabilidade de uma das maiores empresas públicas do país.