China ergue estruturas marítimas no Mar Amarelo, Coreia do Sul reage com protestos e tensão cresce envolvendo recursos estratégicos e presença militar americana
O conflito tomou forma nos meses de abril e maio de 2024. A Coreia do Sul avistou uma série de estruturas flutuantes em sua fronteira marítima com a China, no Mar Amarelo. Pequim tentou acalmar o vizinho, dizendo que os objetos tinham finalidades pesqueiras.
No entanto, logo ficou claro que a situação poderia ter implicações muito maiores. Novas estruturas surgiram e reacenderam os ânimos em Seul.
Uma nova zona de disputa
Há algumas semanas, a China iniciou a construção de infraestruturas marítimas no Mar Amarelo. Trata-se de uma região crucial entre a costa chinesa e a Península Coreana.
-
Pós-Guerra na Ucrânia: Macron anuncia apoio de 26 países à Força Internacional e avisa que papel dos EUA será fundamental
-
Tarifaço dos Estados Unidos derruba exportação brasileira em 18,5% e amplia déficit comercial recorde
-
De bons resultados econômicos a escândalos envolvendo sua irmã, Milei vai do céu ao inferno e vive seu pior momento no governo argentino
-
Brasil fortalece parceria com a China: Lula e Xi Jinping avançam em possível cooperação militar em meio às tensões geopolíticas
As instalações, compostas por estruturas de aço flutuante com mais de 50 metros de altura e largura, foram detectadas por satélites sul-coreanos.
Portanto, cresceu a preocupação de que a China esteja utilizando a tática de consolidar reivindicações territoriais por meio de construções permanentes.
O Mar Amarelo possui uma área de 417 mil quilômetros quadrados e é rico em recursos marinhos, petróleo e gás. Além disso, é um ponto de interesse econômico e geopolítico fundamental para os dois países.
Desde 2024, a Coreia do Sul protesta contra as instalações, alegando que elas podem fazer parte de um plano maior da China para exercer soberania.
As autoridades sul-coreanas acreditam que Pequim pode erguer até 12 dessas estruturas. Isso transformaria a área em um novo foco de tensão nas já delicadas relações bilaterais.
Estratégia conhecida
A construção de estruturas permanentes para afirmar soberania não é novidade na política chinesa. Pequim aplicou a mesma tática no Mar do Sul da China.
Lá, recifes foram transformados em bases militares e a China reivindicou jurisdição sobre águas disputadas com Filipinas, Vietnã, Malásia e outros países.
Essa estratégia agora parece se expandir para o Mar Amarelo. E, dessa vez, as implicações são diretas para a Coreia do Sul e seus aliados, principalmente os Estados Unidos.
O que diz a China sobre as estruturas
Autoridades chinesas tentaram minimizar a controvérsia. Elas descrevem as instalações como simples “infraestruturas de apoio à pesca“.
Mesmo assim, a comunidade de segurança sul-coreana teme outro cenário. Para eles, trata-se de postos avançados para uma futura reivindicação de soberania chinesa.
Segundo Sang Hun Seok, ex-diplomata sul-coreano e analista de segurança, “essas instalações funcionam como o equivalente marítimo de botas no chão, estabelecendo uma presença física que a China usará posteriormente para consolidar suas reivindicações“.
A zona de medidas provisórias
O Mar Amarelo é historicamente disputado por China e Coreia do Sul. Em 2001, ambos os países criaram a chamada Zona de Medidas Provisórias (PMZ).
O objetivo era administrar as áreas de Zonas Econômicas Exclusivas (ZEE) sobrepostas e evitar confrontos.
Nesse pacto, cada país mantém direitos pesqueiros, mas está proibido de construir infraestruturas ou explorar recursos além da pesca sem a concordância do outro.
Apesar disso, a Coreia do Sul denuncia há anos que a China ignora essas restrições. Pesqueiros chineses operam ilegalmente na ZEE sul-coreana.
Em algumas ocasiões, houve confrontos violentos, com patrulhas marítimas disparando contra embarcações.
Portanto, a construção de estruturas permanentes representa um novo nível de provocação. Isso porque cria um precedente perigoso, capaz de enfraquecer a posição da Coreia do Sul na defesa de seus direitos marítimos.
A presença dos Estados Unidos
O pacto de defesa mútua entre Coreia do Sul e Estados Unidos amplia a dimensão da disputa. Atualmente, 28.000 soldados americanos estão estacionados em território sul-coreano.
Qualquer movimento chinês que altere o equilíbrio estratégico na região poderia chamar a atenção de Washington.
Até o momento, os Estados Unidos têm adotado uma postura de contenção diante da expansão chinesa no Indo-Pacífico, principalmente no Mar do Sul da China e no Estreito de Taiwan. No entanto, o Mar Amarelo pode se transformar em uma nova peça no tabuleiro.
Disputa com raízes históricas no Mar Amarelo
Para a China, o controle do Mar Amarelo possui peso estratégico e simbólico. A explicação está na história.
Nos últimos 200 anos, as principais batalhas que marcaram a trajetória do país ocorreram nessa região, desde as Guerras do Ópio até a Guerra Sino-japonesa.
Sob essa perspectiva, a narrativa oficial de Pequim considera esses episódios como humilhações impostas por potências estrangeiras.
Recuperar o controle absoluto sobre suas costas é tratado como parte da restauração de um “direito histórico”.
Argumentos em choque
O argumento chinês para rejeitar a divisão equitativa da ZEE é baseado em sua população e litoral maiores. Pequim acredita que a linha divisória deveria favorecê-la.
Já a Coreia do Sul, apoiada por seus aliados, defende o princípio do “ponto médio”. Essa regra prevê que a fronteira marítima seja traçada equidistantemente entre os dois países.
Portanto, há uma disputa de visões sobre como interpretar e aplicar o direito internacional no Mar Amarelo.
O futuro da disputa
Até agora, a situação não alcançou a gravidade dos conflitos no Mar do Sul da China ou no Mar da China Oriental. Nesses locais, a China mantém enfrentamentos constantes com Filipinas e Japão.
Mesmo assim, analistas alertam que a tensão pode escalar rapidamente. Basta que Pequim continue expandindo sua presença na região.
A Coreia do Sul poderia reagir com apoio dos Estados Unidos. E se isso ocorrer, o Mar Amarelo pode se tornar um novo ponto de tensões no Indo-Pacífico.
A grande incógnita, neste momento, é até onde a Coreia do Sul permitirá que a tática chinesa avance. Essa resposta pode definir o rumo da disputa nos próximos meses.
Com informações de Xataka.