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Coreia do Norte pode ser a grande campeã da guerra geopolítica contemporânea. União entre China e Rússia beneficia o país, além de desafiar a soberania dos EUA

Escrito por Rannyson Moura
Publicado em 04/09/2025 às 08:59
Kim Jong-un fortalece laços com Vladimir Putin e Xi Jinping em desfile na China. Aliança entre Rússia, Coreia do Norte e Pequim promete ganhos econômicos e militares, mas especialistas alertam para tensões internas. Fonte: gerado por IA
Kim Jong-un fortalece laços com Vladimir Putin e Xi Jinping em desfile na China. Aliança entre Rússia, Coreia do Norte e Pequim promete ganhos econômicos e militares, mas especialistas alertam para tensões internas. Fonte: gerado por IA
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Kim Jong-un fortalece laços com Vladimir Putin e Xi Jinping em desfile na China. Aliança entre Rússia, Coreia do Norte e Pequim promete ganhos econômicos e militares, mas especialistas alertam para tensões internas.

Pequim foi palco de um gesto político calculado. No grande desfile militar realizado em 3 de setembro, na Praça da Paz Celestial, três figuras chamaram a atenção do mundo: Kim Jong-un, Vladimir Putin e Xi Jinping. O encontro, marcado pela celebração dos 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, serviu não apenas como memória histórica, mas também como sinal claro de uma aliança que busca se contrapor ao que consideram “imperialismo ocidental”, liderado pelos Estados Unidos.

As imagens exibindo os três líderes lado a lado reforçaram uma mensagem estratégica: China, Rússia e Coreia do Norte estão dispostos a resistir às sanções, às pressões diplomáticas e aos bloqueios comerciais. No entanto, especialistas lembram que, apesar do tom de união, cada país possui interesses próprios e divergentes, o que pode tornar a parceria mais uma relação de conveniência do que uma verdadeira aliança ideológica.

Kim Jong-un entre Putin e Xi: ganho de status internacional

Para Kim Jong-un, a oportunidade de aparecer ao lado de Putin e Xi Jinping é considerada uma vitória pessoal. O ditador norte-coreano tem buscado, há anos, reconhecimento como parceiro de peso em nível internacional. A participação no desfile militar em Pequim elevou sua imagem.

Segundo Dan Pinkston, professor de relações internacionais na Universidade Troy, em Seul, esse gesto tem um simbolismo profundo:

“Kim está radiante por ter sido convidado para o desfile, porque isso mostra que ele está em um patamar de ser aceito como um parceiro em pé de igualdade.”

Além disso, o líder norte-coreano acredita que sua contribuição direta para a Rússia — com envio de tropas, armas e munições para a guerra na Ucrânia — lhe dá o direito de cobrar reciprocidade de Moscou. Ainda assim, ele busca reduzir sua dependência histórica da China, sinalizando que deseja diversificar suas parcerias.

O jogo de poder entre China e Rússia

Historicamente, Pequim foi o aliado mais próximo de Pyongyang desde a Guerra da Coreia, em 1950. A China funcionou, ao longo de décadas, como freio às ações mais agressivas do regime norte-coreano, visando proteger sua própria segurança.

No entanto, especialistas afirmam que Kim Jong-un pode estar explorando a rivalidade velada entre China e Rússia. Ao se aproximar de Putin, o ditador pressiona Xi a oferecer benefícios adicionais para manter influência sobre Pyongyang. Como destacou Pinkston:

“A China não quer que a Coreia do Norte se aproxime demais da Rússia.”

Essa estratégia não é nova. O avô de Kim, Kim Il-sung, já havia usado artifícios semelhantes nas décadas de 1970 e 1980, jogando Moscou contra Pequim para extrair vantagens políticas e econômicas.

Crescimento econômico impulsionado pela Rússia

O impacto da parceria já pode ser observado na economia da Coreia do Norte. Dados do banco central da Coreia do Sul, divulgados em agosto de 2024, apontam que o PIB norte-coreano cresceu 3,7%, o maior aumento em oito anos. As exportações subiram 10,8%, especialmente nos setores de mineração e manufatura.

Esse crescimento está diretamente ligado à “cooperação ampliada com a Rússia”. O comércio bilateral fortaleceu a capacidade de Pyongyang em financiar seu programa nuclear e o desenvolvimento de mísseis balísticos modernos, além de reforçar a imagem de Kim Jong-un perante sua população.

Em contrapartida, Putin também se beneficia da parceria, especialmente na guerra da Ucrânia. A possibilidade de enviar mais tropas norte-coreanas para substituir soldados russos mortos se tornou uma carta valiosa na mesa de negociações. Assim, mantém o fluxo de combustível e outros suprimentos vitais para Pyongyang.

União contra o Ocidente, mas por interesse próprio

Apesar das aparências, analistas alertam que a aproximação entre Kim Jong-un, Vladimir Putin e Xi Jinping é marcada mais por interesses estratégicos do que por ideologia. Segundo Pinkston, todos compartilham a antipatia pelos Estados Unidos e pelo Ocidente, rejeitando conceitos como democracia, direitos humanos e Estado de Direito. Porém, cada líder busca explorar a aliança de acordo com suas próprias necessidades internas.

Choo Jae-woo, professor de política externa na Universidade Kyung Hee, em Seul, também destacou um aspecto mais positivo. Para ele, o encontro foi simbólico, mas pode abrir brechas em políticas comerciais globais:

“Essa reunião projeta solidariedade na segurança, mas acredito que estamos vendo uma ligeira mudança na política comercial dos EUA em relação à China, o que terá efeito cascata sobre a Rússia e a Coreia do Norte.”

A questão comercial e os reflexos globais

O comércio é um dos pontos mais sensíveis dessa tríplice relação. Analistas observam sinais de que o governo norte-americano pode suavizar tarifas sobre produtos chineses, buscando aliviar a pressão econômica mútua. Caso isso aconteça, tanto Pequim quanto Pyongyang poderiam se beneficiar indiretamente.

Há até a expectativa de que Donald Trump, ex-presidente dos EUA, visite Xi Jinping em breve. Ele também já demonstrou abertura para uma nova reunião com Kim Jong-un, o que pode modificar parte do equilíbrio atual.

Nesse cenário, a China tende a enxergar a Coreia do Norte como peça-chave dentro do chamado Sul Global, grupo de países que busca maior protagonismo no cenário internacional. Isso incluiria acesso a benefícios da Organização de Cooperação de Xangai (SCO), que reúne dez Estados-membros e 17 parceiros. Para Pyongyang, seria uma oportunidade de alinhar seus interesses econômicos a uma rede de cooperação maior, com acesso a recursos e investimentos.

Como destacou Choo:

“A adesão à SCO alinhará os interesses econômicos da Coreia do Norte com os dos outros Estados-membros e proporcionará acesso a vastos recursos.”

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Rannyson Moura

Graduado em Publicidade e Propaganda pela UERN; mestre em Comunicação Social pela UFMG e doutorando em Estudos de Linguagens pelo CEFET-MG. Atua como redator freelancer desde 2019, com textos publicados em sites como Baixaki, MinhaSérie e Letras.mus.br. Academicamente, tem trabalhos publicados em livros e apresentados em eventos da área. Entre os temas de pesquisa, destaca-se o interesse pelo mercado editorial a partir de um olhar que considera diferentes marcadores sociais.

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