COP30 em Belém pode transformar o Florestas Tropicais Para Sempre (TFFF) em um cofre global com pagamentos por floresta em pé e governança transparente. China sinaliza aporte e a proposta mira mobilizar até US$ 125 bilhões
O Florestas Tropicais Para Sempre é uma proposta do governo brasileiro para pagar anualmente países que mantêm a floresta em pé, com verificação por dados de satélite e regras de transparência. A ideia é criar um fluxo previsível e de longo prazo para a conservação, com governança dedicada e metas claras de resultado.
Diferente de doações pontuais, o desenho prevê levantar recursos no mercado, operar como um fundo de investimento global e usar os ganhos para remunerar a conservação de forma contínua. Segundo o Ministério da Fazenda, o lançamento está previsto para novembro de 2025 em Belém, durante a COP30.
A proposta ganhou tração diplomática e virou peça-chave da narrativa brasileira para a cúpula da ONU do clima, que ocorrerá de 10 a 21 de novembro em Belém, com um encontro de líderes na semana anterior. Isso reforça a expectativa de anúncios políticos e financeiros na capital paraense.
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Quanto dinheiro pode sair e quem vai pagar a conta
O objetivo divulgado por autoridades e relatórios é mobilizar um patrimônio de até US$ 125 bilhões, capaz de gerar renda anual para remunerar a conservação. Parte do debate público cita um valor de referência em torno de US$ 4 por hectare por ano, sujeito à calibração final conforme a captação e o número de países elegíveis.
Na arquitetura desenhada, o mecanismo combina patrocinadores soberanos e filantrópicos com captação em mercado de dívida, de modo a multiplicar o impacto de cada dólar público. A lógica é atrair capital privado com segurança jurídica e métricas transparentes, evitando depender apenas de doações.
No tabuleiro geopolítico, a China sinalizou que pretende aportar recursos no TFFF, segundo apuração da Reuters. Esse movimento amplia a base de financiadores além do eixo tradicional de países desenvolvidos e pode acelerar a fase inicial de pagamentos.
Como funciona na prática e quais as salvaguardas
O TFFF foi concebido para pagar por resultados de conservação, sem emitir créditos de carbono. A governança separa a gestão do investimento da facility que define elegibilidade e distribui os pagamentos, com monitoramento por satélite e publicação de dados. A proposta também prevê destinação mínima de 20% dos recursos diretamente a povos indígenas e comunidades locais.
Para os países participantes, o incentivo é perene e condicionado a métricas independentes de cobertura florestal. Em caso de desmatamento ou degradação detectados, os repasses são reduzidos de forma automática, o que reforça responsabilidade e previsibilidade para governos e comunidades.
Na comunicação ao público, a mensagem central é simples e mensurável: “floresta de pé recebe”. A checagem por satélite e a divulgação de dados permitem que sociedade civil, imprensa e financiadores acompanhem o desempenho e cobrem resultados.
O que está em discussão e quais são as críticas
Organizações da sociedade civil reconhecem o avanço de colocar dinheiro novo na conservação, mas alertam para riscos. A Global Forest Coalition questiona se um pagamento médio de US$ 4 por hectare é suficiente para transformar a realidade no território e aponta a necessidade de salvaguardas robustas para evitar greenwashing e assegurar participação efetiva de povos tradicionais.
O governo brasileiro responde que o TFFF complementa instrumentos existentes e que o foco em pagamento direto por floresta em pé reduz a controvérsia de adicionalidade e permanência associada a mercados de carbono. A etapa até Belém deve fechar governança, métricas e priorização da fase inicial, incorporando contribuições técnicas de países tropicais e potenciais patrocinadores.
O ponto a acompanhar é a combinação de três pilares, origem dos recursos, critérios de distribuição e mecanismos de verificação. Se essas peças forem sólidas, a política tem mais chance de gerar resultados reais na redução do desmatamento.
O que esperar até a COP30 e por que isso importa agora
O calendário oficial da UNFCCC confirma Belém como sede da COP30, e o governo brasileiro trata o TFFF como um entregável central da conferência. A expectativa é que a cúpula gere anúncios de capitalização e adesões formais, inclusive com a participação de países emergentes como a China.
Para a economia brasileira e amazônica, um fluxo estável de pagamento por conservação pode destravar projetos sociais, incentivar cadeias de bioeconomia e reduzir pressão por desmatamento em áreas críticas. Diferentemente de ações pontuais, a proposta busca previsibilidade de décadas para quem protege a floresta.
O TFFF pretende alinhar finanças climáticas, soberania dos países tropicais e transparência. Se cumprir o prometido, pode inaugurar uma nova fase da política ambiental brasileira e abrir caminho para que outras florestas tropicais recebam pagamentos regulares e auditáveis por manterem seus ecossistemas vivos.