Localizada a 1.300 km do Polo Norte, Longyearbyen é a cidade mais ao norte do mundo, erguida sobre o gelo, com túneis subterrâneos e vida em –30°C.
No extremo norte do planeta, onde o sol desaparece por meses e o frio congela até o som, existe uma cidade que desafia todos os limites da vida humana. Erguida sobre um solo que nunca derrete, esta comunidade de pouco mais de duas mil pessoas aprendeu a viver em um dos lugares mais inóspitos da Terra. Construída sobre estacas metálicas cravadas no gelo, iluminada artificialmente durante o inverno e conectada por túneis subterrâneos, ela é o último posto avançado da civilização antes do Polo Norte. Seu nome é Longyearbyen, o principal assentamento do arquipélago de Svalbard, na Noruega e a cidade mais ao norte do mundo habitada de forma permanente.
Onde a vida acontece sobre o gelo
Localizada a cerca de 78° de latitude norte, Longyearbyen vive seis meses de frio extremo e quatro meses de escuridão total.
Durante o inverno, o sol simplesmente não nasce o fenômeno conhecido como noite polar. Em contrapartida, no verão, o dia nunca termina: o sol da meia-noite ilumina as montanhas e os fiordes durante 24 horas consecutivas.
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As temperaturas médias anuais giram em torno de –4°C, mas, nos meses de fevereiro e março, podem atingir –30°C. O solo é formado por permafrost, uma camada de gelo permanente que nunca derrete completamente. Por isso, todas as construções da cidade — de casas a escolas — são erguidas sobre pilares metálicos para impedir que o calor das edificações derreta o chão congelado e provoque deslizamentos.
O resultado é uma paisagem surreal: fileiras de casas coloridas, suspensas a cerca de um metro do chão, cercadas por montanhas brancas e vales de gelo. Não há árvores, vegetação densa ou asfalto contínuo. Tudo precisa ser planejado para resistir ao frio, ao vento e à ausência de luz.
A cidade onde não se pode morrer
Em Longyearbyen, até a morte é diferente. Desde a década de 1950, é proibido enterrar pessoas no local. O motivo é científico: o solo congelado impede a decomposição dos corpos, e há registros de vírus e bactérias preservados por décadas nos túmulos antigos.
Os falecidos precisam ser transportados de avião para o continente norueguês, onde são enterrados em solo comum.
A cidade também não possui maternidade. Mulheres grávidas viajam semanas antes do parto para dar à luz em Tromsø, a 1.000 km de distância. Isso não é apenas uma tradição, mas uma exigência médica e logística, já que o clima e o isolamento dificultam atendimentos de emergência.
Viver em Longyearbyen é aceitar o improvável: enfrentar o frio extremo, a solidão e a total ausência de noite ou dia por longos períodos. E, ainda assim, a cidade prospera.
Um laboratório de sobrevivência humana
O que antes era uma colônia de mineração fundada no início do século XX, transformou-se em um centro de pesquisa científica e preservação global. Hoje, Longyearbyen abriga universidades, estações meteorológicas e centros de observação climática que monitoram o Ártico em tempo real.
O símbolo máximo desse compromisso com o futuro é o Svalbard Global Seed Vault, o Cofre Global de Sementes. Construído em 2008 dentro de uma montanha congelada, o cofre armazena mais de 1,2 milhão de amostras de sementes de todo o planeta, funcionando como uma espécie de “arca genética” para a agricultura mundial. Ele foi projetado para resistir a terremotos, guerras e até ao derretimento das calotas polares — um seguro de vida para a biodiversidade da Terra.
Túneis subterrâneos e casas suspensas
Em uma cidade onde o solo pode rachar com o calor e o vento corta a pele, cada detalhe urbano precisa ser pensado para garantir sobrevivência.
As ruas são ligadas por túneis subterrâneos que permitem a passagem de dutos de aquecimento, eletricidade e água. Esses corredores aquecidos também são usados por técnicos e trabalhadores para manutenção durante o inverno, quando o frio extremo impede o uso prolongado de veículos ao ar livre.
As casas, por sua vez, são pintadas em cores vivas como vermelho, azul, amarelo e verde — não por estética, mas por função psicológica. O contraste cromático ajuda a combater a depressão durante os meses de escuridão total, uma estratégia recomendada por psicólogos e usada em outras regiões polares.
Onde o sol é um visitante raro
Durante a noite polar, Longyearbyen mergulha em quatro meses de escuridão quase absoluta. A cidade é iluminada por luzes artificiais e pela aurora boreal, que pinta o céu com tons de verde e violeta.
Esse espetáculo natural se tornou parte da rotina — há quem saia de casa no meio da madrugada apenas para observar as luzes dançando sobre o fiorde.
Mas o inverno também é um teste mental. A falta de sol provoca o chamado “transtorno afetivo sazonal”, um tipo de depressão associada à escuridão prolongada. Por isso, escolas e escritórios instalam lâmpadas de luz branca intensa, que simulam a luminosidade solar e ajudam os moradores a manter o relógio biológico equilibrado.
A vida no limite da Terra
Em Longyearbyen, os ursos-polares superam os humanos em número — há cerca de 3 mil ursos para 2.500 pessoas. Por lei, todos os moradores precisam carregar armas ao sair da cidade, como precaução contra ataques. Ainda assim, a cidade é segura e incrivelmente organizada.
A Noruega investe pesado para manter o assentamento como símbolo de soberania e presença científica no Ártico. A infraestrutura inclui hospital, escolas, supermercado, correio e até bares — um deles, o “Svalbar”, é considerado o pub mais ao norte do planeta.
Longyearbyen não é apenas um endereço geográfico. É um experimento vivo sobre o que significa resistir. Em um mundo em que as metrópoles sofrem com calor e poluição, essa pequena cidade sobre o gelo prova que o ser humano é capaz de se adaptar até mesmo onde a vida parece impossível.