Declarado o queijo mais perigoso do mundo, o casu marzu é proibido por lei, mas segue sendo consumido com larvas vivas como parte da tradição alimentar da Sardenha.
Na ilha da Sardenha, região autônoma da Itália localizada no Mar Tirreno, um alimento tradicional segue despertando curiosidade e polêmica. Produzido artesanalmente por pastores locais, o casu marzu — que em dialeto sardo significa “queijo podre” — é conhecido internacionalmente como o queijo mais perigoso do mundo, segundo classificação do Guinness World Records publicada em 2009.
Apesar da reputação controversa, o casu marzu é consumido há séculos por moradores da ilha. Seu preparo ocorre a partir do tradicional queijo pecorino, feito com leite de ovelha, que passa por um processo peculiar de fermentação mediado por larvas vivas da mosca-do-queijo (Piophila casei).
Produção do queijo mais perigoso do mundo envolve processo de decomposição com larvas vivas
O casu marzu é produzido quando as moscas depositam ovos em fendas que surgem naturalmente no pecorino. Ao eclodirem, as larvas se alimentam das proteínas do queijo e o transformam em uma pasta de textura macia. O produto é tradicionalmente consumido ainda com as larvas vivas em seu interior, o que é parte da prática cultural.
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As larvas se movimentam com vigor no momento em que o queijo é servido. Alguns habitantes da Sardenha preferem colocá-lo em uma centrífuga para mesclar o conteúdo. Outros o consomem diretamente, incluindo as larvas. O sabor do queijo mais perigoso do mundo é descrito como forte e persistente, podendo permanecer na boca por horas.
Venda comercial do queijo é proibida na Itália
Apesar da longa tradição, o casu marzu é considerado um queijo proibido pelas autoridades sanitárias italianas. Desde 1962, o governo proíbe a comercialização de alimentos que contenham parasitas vivos. Quem for flagrado vendendo o produto pode ser multado em até € 50.000, valor equivalente a aproximadamente R$ 330 mil.
Ainda assim, o queijo mais perigoso do mundo continua sendo produzido e consumido localmente. Moradores argumentam que o produto é parte do patrimônio alimentar da ilha. O casu marzu é registrado como produto tradicional da Sardenha, o que garante certa proteção cultural dentro do território.
Tradição está ligada ao ciclo natural do verão sardo
A produção do casu marzu ocorre geralmente entre o fim de junho e o início de setembro. Nesse período, as ovelhas entram em fase reprodutiva, e a mudança na composição do leite, combinada com o clima quente e seco, favorece o desenvolvimento do queijo.
A presença do vento quente conhecido como siroco também influencia o processo. Quando o fenômeno ocorre durante a produção, ele ajuda a enfraquecer a estrutura do pecorino e facilita a ação das larvas. Após cerca de três meses, o queijo está pronto para o consumo.
Presença do queijo mais perigoso do mundo é limitada, mas com variações locais
Embora seja tradicional da Sardenha, outras regiões da Itália produzem queijos com características semelhantes. Pelo menos dez áreas do país têm suas próprias versões de queijos com larvas, mas apenas na Sardenha o casu marzu faz parte da identidade alimentar da população.
Dependendo da sub-região, o queijo pode ter nomes diferentes: casu becciu, casu fattittu, hasu muhidu, formaggio marcio, entre outros. Em cada localidade, a receita pode variar conforme o tipo de leite utilizado e as condições ambientais.
Segurança alimentar continua sendo tema de debate
O consumo do queijo mais perigoso do mundo ainda é objeto de estudo entre profissionais da saúde e da gastronomia. A principal preocupação é que algumas larvas possam sobreviver ao ambiente do estômago humano, o que levantaria riscos para o sistema digestivo.
Até o momento, no entanto, não há registro de casos clínicos comprovados relacionados ao consumo do casu marzu. A ingestão é feita por escolha pessoal, e o produto é geralmente consumido em contextos familiares ou por visitantes dispostos a experimentar práticas alimentares locais.
Queijo é símbolo de uma cultura alimentar ancestral
A permanência do casu marzu no cotidiano da Sardenha está ligada a valores tradicionais de reaproveitamento alimentar. Ele remete a um período em que nada era descartado e quando a linha entre o que era considerado apropriado ou não para o consumo era mais flexível.
Paolo Solinas, gastrônomo da ilha, afirma que, para muitos pastores locais, o queijo é visto como uma experiência única. “Alguns o consideram um prazer pessoal, algo que poucos podem experimentar”, afirma. Segundo ele, embora parte da população local evite o produto, outros valorizam seu sabor forte e consideram o queijo parte importante da herança cultural sarda.