Uma mulher recebeu R$ 318 mil por engano via Pix em Goiás e se recusou a devolver. Entenda o caso real que envolve erro de transferência, ação policial e debate sobre responsabilidade.
Imagine acordar e encontrar mais de R$ 318 mil depositados em sua conta bancária, sem aviso, sem explicação. Foi exatamente o que aconteceu com uma mulher em Goiás em 2023. O dinheiro veio de um erro de transferência via Pix, e ao invés de procurar o banco ou o remetente, ela sacou parte do valor e se recusou a devolver o restante. O caso real, registrado oficialmente pela Polícia Civil do Estado de Goiás, levantou um intenso debate sobre os limites da boa-fé, as falhas no sistema financeiro digital, e o papel da Justiça diante de erros bancários de grandes proporções. Aqui você vai entender o que aconteceu, o que diz a lei, como o pix errado facilitou a ocorrência desse tipo de erro, e quais são os riscos legais de quem recebe valores indevidos e se recusa a devolver.
Entenda o caso: Pix errado de R$ 318 mil
O caso veio à tona em março de 2023, em Trindade (GO), quando uma empresa realizou um Pix no valor de R$ 318.600,00 para a conta de uma mulher por erro na digitação da chave Pix.
Ao perceber o equívoco, o responsável pela transferência tentou contato com a beneficiária, mas não obteve retorno. Ele então acionou a instituição financeira e posteriormente registrou um boletim de ocorrência.
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Segundo a Polícia Civil, a mulher sacou parte do dinheiro e utilizou outra parte em compras pessoais. Mesmo após ser notificada formalmente sobre o erro, ela afirmou que não devolveria o valor, alegando que o dinheiro já estaria sendo usado para quitar dívidas.
O que diz a lei em casos de Pix errado?
Recebimento de valor indevido não cria direito de posse
O Código Civil Brasileiro é claro quanto à devolução de valores recebidos por engano. O artigo 876 estabelece:
“Todo aquele que recebeu o que lhe não era devido fica obrigado a restituir; obrigação que incumbe àquele que recebeu coisa indevida, ciente do erro, ou aquele a quem o pagamento foi feito por engano.”
Ou seja, mesmo que o dinheiro tenha caído na conta por engano, a posse não gera direito sobre o valor. Ao contrário, manter o valor caracteriza enriquecimento ilícito, passível de ação judicial e responsabilização criminal.
Polícia considera crime manter Pix errado
Com base nas investigações, a Polícia Civil de Goiás afirmou que a atitude da mulher configura, em tese, o crime de apropriação de coisa achada ou indevida, previsto no artigo 169 do Código Penal, que diz:
“Apropriar-se de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da natureza.”
Pena: detenção de um mês a um ano ou multa.
Além disso, se houver indícios de má-fé ou ocultação de patrimônio, o crime pode ser interpretado como apropriação indébita, com pena mais severa.
A mulher foi intimada a prestar depoimento, e o caso foi encaminhado ao Ministério Público, que avalia o oferecimento de denúncia à Justiça.
Por que erros no Pix ainda acontecem?
O Pix, sistema de pagamentos instantâneos lançado pelo Banco Central em 2020, revolucionou a forma de transferir dinheiro no Brasil. No entanto, erros humanos como digitação incorreta da chave Pix, escolha errada no histórico de transações ou engano na confirmação visual ainda ocorrem com frequência.
Segundo dados do próprio Banco Central:
- Em 2023, foram registrados mais de 17 mil casos de reclamações envolvendo Pix errado;
- A maior parte dos erros ocorre por digitação incorreta da chave alfanumérica;
- Ainda há confusão entre os usuários sobre como reverter o valor transferido.
É possível reverter um Pix errado?
Sim, mas com limitações.
De acordo com o Banco Central, o Pix é irrevogável, ou seja, uma vez autorizado e confirmado, o valor não pode ser cancelado unilateralmente. No entanto, existem alternativas previstas em caso de erro comprovado:
- Solicitação direta ao recebedor: o mais comum e eficaz, mas depende da boa-fé da outra parte.
- Abertura de disputa via banco emissor: o banco pode tentar bloquear o valor, desde que ainda esteja disponível na conta do recebedor.
- Ação judicial: quando não há devolução voluntária, é possível recorrer à Justiça para obrigar a devolução do valor.
- Registro de boletim de ocorrência: principalmente quando há indícios de má-fé.
Casos semelhantes já ocorreram
O caso da mulher em Goiás não é único. Veja outros casos reais que chamaram atenção:
- São Paulo (2021): Um homem recebeu por engano R$ 500 mil, gastou em carros e foi condenado a devolver todo o valor com juros e responder por apropriação indébita.
- Rio de Janeiro (2022): Jovem que recebeu Pix de R$ 140 mil tentou transferir o valor para várias contas, mas teve os valores bloqueados judicialmente.
- Paraná (2020): Um aposentado recebeu R$ 43 mil e imediatamente comunicou o banco, sendo elogiado publicamente pela atitude.
Esses exemplos mostram que, além de ilegal, usar dinheiro de origem indevida pode resultar em consequências civis e criminais severas.
O que acontece se a pessoa gastar o dinheiro antes da Justiça agir?
Mesmo que o dinheiro já tenha sido sacado ou gasto, a Justiça pode determinar:
- A devolução integral do valor com correção monetária;
- O bloqueio de bens, veículos ou contas bancárias;
- O pagamento de indenizações por danos materiais e morais;
- Condenação criminal por apropriação indevida.
Em alguns casos, o acusado pode ser inscrito em cadastros de inadimplentes e responder ações de execução que comprometem sua vida financeira por anos.
Especialistas orientam: o que fazer ao receber um Pix errado
O Procon e o Banco Central recomendam as seguintes ações caso um valor desconhecido entre em sua conta:
- Não movimente o valor;
- Verifique com seu banco a origem do Pix;
- Acesse seu extrato detalhado e registre prints de tela;
- Comunique imediatamente o banco ou a instituição emissora;
- Não tente burlar o sistema ou “ganhar tempo”;
- Em caso de dúvida, registre um boletim de ocorrência voluntariamente.
Essas atitudes demonstram boa-fé, o que é relevante em eventual análise judicial.
O caso gerou milhares de comentários nas redes sociais. Muitos internautas defenderam a mulher com frases como:
- “Se caiu na conta dela, o erro foi do outro.”
- “O banco que arque com o prejuízo.”
- “Isso é presente de Deus.”
Por outro lado, especialistas em Direito apontam que a ética e a legalidade devem prevalecer, já que manter um valor indevido é crime.
Além disso, se todos aceitassem esse tipo de atitude, o sistema financeiro perderia credibilidade, o que afetaria negativamente toda a população.
O que dizem os bancos?
As instituições financeiras envolvidas são obrigadas a colaborar com as investigações e geralmente oferecem suporte aos clientes que enviaram valores por engano. Contudo, o reembolso não é automático, especialmente se o valor já tiver sido transferido para outras contas ou sacado.
O Banco Central do Brasil esclarece que, em 2024, novas funcionalidades do Pix passaram a permitir:
- Solicitação de devolução automática (Pix Devolução);
- Bloqueio cautelar temporário em casos suspeitos;
- Mecanismos de prevenção contra fraudes e enganos.
Ainda assim, a responsabilidade final recai sobre o usuário, que deve verificar cuidadosamente os dados antes de confirmar uma transferência