Catalão (GO) abriga complexo de nióbio e fosfato entre os maiores do Brasil e se projeta como polo estratégico para fertilizantes e tecnologia, com impacto global.
Localizada no sudeste de Goiás, a cidade de Catalão, com pouco mais de 115 mil habitantes, abriga um dos mais importantes polos minerais do Brasil. Reconhecida pela extração de nióbio e fosfato, a região se consolidou como peça-chave para dois setores estratégicos: a agricultura, que depende fortemente de fertilizantes fosfatados, e a indústria de alta tecnologia, que utiliza o nióbio em ligas metálicas de ponta.
Catalão se tornou exemplo de como cidades do interior podem ganhar relevância global quando assentadas sobre recursos minerais estratégicos, atraindo multinacionais, movimentando bilhões e impactando diretamente a balança comercial brasileira.
Complexo mineral de Catalão
O município abriga minas exploradas pela CMOC Brasil (China Molybdenum), uma das maiores mineradoras do mundo, que atua em nióbio e fosfato.
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- Nióbio: o minério é extraído principalmente da Mina Boa Vista. Embora Araxá (MG) lidere a produção global, Catalão ocupa papel importante na diversificação do fornecimento brasileiro, garantindo suprimento adicional em um mercado estratégico.
- Fosfato: a unidade de Ouvidor, no entorno de Catalão, é uma das maiores produtoras de concentrado de fosfato do país, insumo essencial para fertilizantes agrícolas.
Essa combinação de recursos transforma a região em ponto de convergência entre a produção agrícola brasileira — dependente de fertilizantes — e o setor de alta tecnologia, que utiliza o nióbio para fabricar aços especiais, turbinas, supercondutores e até peças para foguetes.
Nióbio: mineral estratégico
O nióbio é considerado um dos minerais mais estratégicos do planeta. Ele confere resistência e leveza a ligas metálicas, sendo usado em:
- Indústria aeronáutica e aeroespacial.
- Automóveis e caminhões mais leves e econômicos.
- Geração de energia limpa, incluindo turbinas eólicas.
- Supercondutores e pesquisa em fusão nuclear.
O Brasil é o maior produtor mundial, responsável por cerca de 80% do suprimento global. Catalão, ao lado de Araxá (MG) e São Gabriel da Cachoeira (AM), forma o tripé das principais jazidas do país.
Fosfato: insumo essencial para o agro
Enquanto o nióbio projeta o Brasil no cenário tecnológico global, o fosfato garante a base da agricultura nacional. O país é um dos maiores produtores e exportadores de grãos do mundo, mas ainda é dependente da importação de fertilizantes.
Nesse contexto, Catalão ganha destaque: o complexo fosfático da região de Ouvidor/Catalão produz milhões de toneladas anuais de concentrado, atendendo parte significativa da demanda brasileira.
Sem fosfato, a produtividade da soja, do milho e de outras culturas que sustentam o agronegócio cairia drasticamente.
Impacto econômico
A mineração em Catalão tem reflexos diretos na economia local e regional.
- Empregos diretos e indiretos: milhares de postos de trabalho em mineração, transporte e serviços.
- Receita municipal: royalties da mineração garantem arrecadação significativa para investimentos em saúde, educação e infraestrutura.
- Integração com o agro: fertilizantes produzidos localmente abastecem polos agrícolas no Centro-Oeste, reduzindo custos logísticos.
Esse impacto faz de Catalão um município que vai muito além de seu tamanho populacional, posicionando-se como ator relevante na economia nacional.
Desafios sociais e ambientais
Como em toda atividade mineradora, os benefícios econômicos vêm acompanhados de desafios.
- Impactos ambientais: a extração de fosfato e nióbio altera a paisagem e demanda rigoroso controle de rejeitos e barragens.
- Sustentabilidade hídrica: a atividade consome grandes volumes de água, exigindo gestão para não afetar comunidades locais.
- Diversificação econômica: a dependência da mineração pode gerar vulnerabilidade em períodos de oscilação de preços no mercado global.
Esses desafios colocam Catalão diante da necessidade de equilibrar crescimento com responsabilidade ambiental e social.
Cidade universitária e polo de conhecimento
Além da mineração, Catalão abriga um campus da Universidade Federal de Goiás (UFG) e outras instituições de ensino superior. Essa presença acadêmica fortalece a formação de profissionais em engenharia, geologia e agronomia, criando mão de obra qualificada para sustentar a cadeia produtiva local.
O intercâmbio entre universidades e mineradoras abre caminho para projetos de pesquisa em sustentabilidade, recuperação de áreas degradadas e inovação tecnológica no aproveitamento de minerais.
Catalão no contexto geopolítico
O papel de Catalão não pode ser visto apenas em escala local. A produção de nióbio e fosfato coloca o município no radar de interesses globais:
- China: a CMOC é controlada por capital chinês, o que reforça a influência de Pequim em recursos estratégicos brasileiros.
- Mercado global: a demanda por nióbio tende a crescer com a transição energética e a necessidade de materiais mais resistentes e leves.
- Segurança alimentar: o fosfato produzido em Catalão contribui para a estabilidade do agronegócio brasileiro, que alimenta bilhões de pessoas no mundo.
Assim, a cidade goiana aparece como elo entre a segurança energética e alimentar global.
O futuro de Catalão
O desafio para o futuro está em manter a relevância econômica sem comprometer a sustentabilidade. Especialistas defendem maior investimento em:
- Tecnologias limpas de mineração.
- Diversificação da economia local.
- Pesquisa em novos usos do nióbio, como baterias e dispositivos eletrônicos.
- Aumento da produção nacional de fertilizantes, reduzindo dependência externa.
Catalão já provou que cidades médias podem desempenhar papéis estratégicos no cenário internacional. Agora, precisa consolidar seu status de polo de mineração e tecnologia, equilibrando progresso com responsabilidade.