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A megaobra hídrica de R$ 2 bilhões no Nordeste que movimenta 30 mil litros de água por segundo

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 18/06/2025 às 16:18
Atualizado em 20/06/2025 às 18:49
obra - nordeste
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Com 1.252 km e R$ 2 bilhões aplicados, obra no Nordeste garante segurança hídrica no Ceará com vazão de 30 mil litros/segundo

O semiárido brasileiro é, há séculos, cenário de resistência e escassez. O Ceará, em especial, sempre foi um retrato emblemático dessa realidade, marcada por longos períodos de estiagem, reservatórios em colapso e uma rotina que dependia, quase religiosamente, dos carros-pipa. Mas esse enredo começou a mudar com a chegada de uma obra monumental que promete reescrever o futuro hídrico do estado: o Cinturão das Águas do Ceará (CAC).

A monumental obra que desafia o clima e a geografia

O projeto, que integra um complexo sistema de canais, túneis e sifões, tem como missão redistribuir, com precisão e eficiência, as águas do Rio São Francisco por todo o território cearense. Com mais de 1.250 quilômetros de extensão planejada e operando em sua maior parte por gravidade, o CAC se impõe como uma das maiores obras de infraestrutura hídrica do Brasil, com um impacto regional comparável a sistemas internacionais como o National Water Carrier, em Israel, e o projeto Sul-Norte da China.

Trabalhadores atuam na construção de um dos canais principais da megaobra hídrica no Nordeste, parte do sistema que transporta água do Rio São Francisco para regiões historicamente afetadas pela seca no Ceará.

Da Barragem de Jati ao coração do Ceará

A captação da água ocorre na Barragem de Jati, no sul do estado, ponto de entrada das águas do São Francisco, desviadas pelo Eixo Norte da transposição federal. A partir daí, a água segue seu curso por canais abertos, túneis escavados e sifões invertidos, superando serras, vales e solos instáveis até alcançar dezenas de municípios e grandes reservatórios.

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Etapas que avançam e garantem resultados

O Cinturão foi dividido estrategicamente em três trechos principais. O Trecho 1, o mais avançado, se estende por 145,3 km entre a Barragem de Jati e o rio Cariús. Atualmente, cerca de 83,5% dessa fase já está concluída, segundo dados do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional. Quando finalizado, este trecho terá capacidade de atender diretamente 24 municípios e mais de cinco milhões de pessoas, especialmente na Região Metropolitana de Fortaleza. O Trecho 2, com 271 km, levará água até o divisor das bacias dos rios Jaguaribe e Poti, enquanto o Trecho 3, com 137 km, deve alcançar as cabeceiras dos rios Acaraú e Banabuiú. Há ainda os ramais secundários em planejamento, que devem atingir áreas mais remotas e necessitadas.

Engenharia pensada para durar e se adaptar

A estrutura do CAC é resultado de uma engenharia de adaptação ao semiárido. No Trecho 1, mais de 119 km são compostos por canais abertos revestidos com geomembrana plástica e concreto, desenhados em formato trapezoidal para evitar perdas e facilitar o transporte da água. Os sifões invertidos — tubos de aço carbono com 2,8 metros de diâmetro — garantem a travessia subterrânea em regiões de relevo acidentado. Além disso, foram construídos nove túneis, totalizando 5,7 km de extensão, com destaque para o túnel Veneza, com quase 2,8 km, perfurado na Serra do Araripe.

Todas essas estruturas operam com controle automatizado. O sistema conta com comportas metálicas, boeiros de drenagem, pontilhões e passarelas, desenhados para se adaptar ao ambiente rural e às comunidades vizinhas. O objetivo é garantir não apenas o fornecimento de água, mas também a segurança e a funcionalidade em todas as etapas do trajeto.

Água para irrigar desenvolvimento e mover a economia

A importância estratégica do Cinturão das Águas não se restringe ao abastecimento doméstico. O projeto também fortalece a agricultura irrigada e o setor industrial. Segundo a Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), o crescimento da indústria cearense no primeiro trimestre de 2025 foi de 3,5%, o maior do país, resultado que se deve, em parte, à estabilidade hídrica proporcionada pelo CAC.

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Um compromisso de governo com o futuro

O governador Elmano de Freitas tem defendido a obra como uma das prioridades da gestão. Em visita recente ao canteiro de obras, afirmou que “a atenção não é só para o Sertão do Cariri, mas para toda a grande Fortaleza futuramente… os investimentos são altos e estão garantidos”. Já o ministro Waldez Góes destacou que o projeto está entre os mais importantes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com investimentos superiores a R$ 2 bilhões, dos quais R$ 1,7 bilhão já foram aplicados.

A expectativa é que os lotes 3 e 4 do Trecho 1 sejam entregues até meados de 2026, totalizando cerca de 600 trabalhadores e 200 máquinas mobilizadas nas frentes de trabalho. Com isso, mais 800 mil pessoas devem ser beneficiadas diretamente.

Uma resposta definitiva à crise hídrica

Mesmo sem a notoriedade da transposição do Rio São Francisco, o Cinturão das Águas do Ceará já se firmou como um divisor de águas — literalmente — no cenário do semiárido. Ele não apenas assegura a chegada da água em pontos críticos, como estabelece as bases para uma nova etapa de desenvolvimento sustentável, onde a seca não dita mais o destino de quem vive no sertão.

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Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, baseado no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Busco traduzir assuntos complexos em conteúdos acessíveis, com rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico.

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