Com apenas 2,1% do tráfego aéreo global, continente africano esconde potencial bilionário em conectividade regional; relatório da Embraer identifica rotas, hubs e aeronaves ideais para destravar esse crescimento
Apesar de representar 18% da população mundial, a África continua sendo uma das regiões mais desconectadas do planeta quando se trata de transporte aéreo. Um novo estudo da Embraer, divulgado durante a conferência AviaDev 2025 em Zanzibar, expõe uma realidade alarmante: 64% dos mercados aéreos regionais africanos operam com apenas sete voos semanais ou menos.
A fabricante brasileira projeta que, com as aeronaves certas e rotas diretas bem estruturadas, o continente pode experimentar um crescimento de 4,4% ao ano na receita por passageiro por quilômetro (RPK) nos próximos 20 anos, superando Europa e América do Norte. A solução? Apostar em voos regionais eficientes, hubs inteligentes e jatos com menos de 150 assentos, como a família E2.
O imenso potencial aéreo ignorado da África
O novo relatório da Embraer revela que, embora a África tenha 1,5 bilhão de habitantes, sua participação no tráfego aéreo global ainda é de apenas 2,1%. Esse gargalo logístico impacta diretamente o crescimento econômico do continente, que representa menos de 3% do PIB mundial. A disparidade entre a população e a infraestrutura de transporte aéreo é um dos grandes entraves ao desenvolvimento africano.
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Atualmente, a maioria das viagens entre cidades africanas exige conexões em hubs distantes como Dubai ou Paris, tornando as viagens caras, demoradas e pouco práticas. Isso impede o avanço do turismo, dos negócios regionais e até do setor educacional. A Embraer estima que 45 rotas intra-africanas hoje não possuem voos diretos, apesar da demanda reprimida.
Para mudar esse cenário, a empresa analisou uma década de dados (2014 a 2024), utilizando informações de mercado da Sabre. Com isso, criou uma “curva de estímulo”, que mostra como a introdução de uma rota direta pode aumentar a demanda em até 80%, especialmente em mercados com tráfego inicial reduzido.
O relatório destaca ainda a importância de rotas entre capitais com fortes laços econômicos e culturais, como Abidjan–Douala e Lagos–Cidade do Cabo. Com aviões do porte do Embraer E195-E2, essas ligações poderiam ser operadas com três a cinco voos semanais com viabilidade comercial.
Além das rotas ponto a ponto, o estudo defende a consolidação de hubs africanos para multiplicar conexões regionais. Essa estratégia, somada ao uso de aeronaves menores e mais eficientes, é vista como a chave para destravar o crescimento da aviação africana.
Os 10 destinos com maior demanda reprimida na África
A Embraer identificou 10 pares de cidades com alto potencial de tráfego e zero oferta de voos diretos. Entre eles, Abidjan–Douala (Costa do Marfim–Camarões), que liga dois grandes centros econômicos francófonos com intenso fluxo de negócios e turismo cultural. Apenas essa rota poderia sustentar cinco voos semanais com aeronaves de 120 assentos.
Outro destaque é Cidade do Cabo–Lagos, que une o centro turístico da África do Sul ao polo de negócios da Nigéria. Atualmente, a ligação exige escalas em Joanesburgo ou Addis Abeba, elevando custos e tempo. A Embraer estima que essa rota poderia operar com quatro voos diretos semanais.
Outros exemplos incluem Cotonou–Dacar, Brazzaville–Bamako, Abuja–Nairóbi e Cidade do Cabo–Dar Es Salaam, todos com demanda reprimida significativa e população urbana acima de 5 milhões de habitantes combinados.
O relatório detalha ainda como a ausência de voos diretos obriga passageiros a fazer conexões complexas e dispendiosas, frequentemente em hubs fora do continente. Isso não apenas dificulta a mobilidade, como também limita o crescimento econômico regional.
Além do impacto para passageiros, a falta de conectividade aérea também prejudica o comércio intra-africano, o setor de eventos e o desenvolvimento de serviços de saúde e educação regionais.
Com base nos dados de PDEW (passageiros por dia em cada sentido), cada uma dessas rotas poderia ser aberta com risco reduzido se operada com aeronaves da categoria de 100 a 120 assentos, como o E195-E2, que oferece equilíbrio entre alcance, custo e ocupação.
Hubs africanos: desafio e oportunidade para conexões inteligentes
Os hubs africanos ainda operam com baixa eficiência se comparados a seus equivalentes na Europa ou Ásia. Aeroportos como Joanesburgo (JNB), Adis Abeba (ADD) e Nairóbi (NBO) já operam como centros regionais, mas com menos frequência e alcance do que seria necessário para atender à demanda real do continente.
Enquanto Amsterdã e Frankfurt oferecem mais de 3 voos diários por destino, hubs africanos mal chegam a 2. O estudo aponta que, ao adicionar um único voo novo a um hub bem estruturado, dezenas de novos itinerários se tornam possíveis devido ao “efeito multiplicador” das conexões.
A organização de horários em “bancos de conexões” (arrivals e departures sincronizados) é crucial para minimizar o tempo de espera e otimizar o uso das aeronaves. Isso não só melhora a experiência do passageiro, como eleva a atratividade comercial do hub.
A modernização de infraestrutura e o uso de aeronaves menores e mais frequentes, como os E-Jets, permitem transformar hubs médios em pontos de conexão competitivos, impulsionando a aviação regional.
Além disso, países como Gana, Angola e Tanzânia podem fortalecer seus hubs domésticos, criando tráfego alimentador para as rotas internacionais e regionais, consolidando suas companhias aéreas locais.
A conectividade eficiente também tem impacto ambiental positivo: ao evitar rotas longas e indiretas via Europa, as emissões por passageiro são significativamente reduzidas, promovendo uma aviação mais sustentável.
Aviões certos para o continente certo: por que o E2 pode ser a chave da Embraer
A Embraer defende que a escolha do avião ideal é o diferencial entre sucesso e prejuízo em novos mercados. Isso é ainda mais relevante em regiões fragmentadas como a África, onde a demanda pode ser incerta e volátil.
A família E2, com modelos como o E175+ (76 lugares), E190-E2 (96 lugares) e E195-E2 (120 lugares), cobre todo o espectro de voos curtos e médios com baixo custo por viagem e alta eficiência. Essas aeronaves são projetadas para reduzir riscos operacionais e aumentar a margem de lucro.
O relatório destaca que, enquanto aviões maiores precisam de ocupação máxima para serem viáveis, os E2 conseguem operar com menos passageiros e ainda manter rentabilidade, graças à sua estrutura leve, aerodinâmica otimizada e baixo consumo de combustível.
Com alcance de até 6 horas de voo, os E2 conseguem cobrir praticamente todas as rotas intra-africanas sem escalas, conectando mercados menores que seriam economicamente inviáveis com aviões maiores.
Essa estratégia de “direcionamento por tamanho” também permite criar novas frequências em hubs já saturados, alimentando as conexões sem criar excesso de capacidade e mantendo a malha aérea ágil e ajustada à demanda real.
Por fim, o E2 é ideal tanto para companhias com modelo ponto a ponto quanto para operadoras que apostam no sistema hub-and-spoke, garantindo flexibilidade e escalabilidade ao crescimento da aviação africana.