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Concorrência injusta da China! Indústria química alega competição desleal de importados asiáticos, fecha duas fábricas e deixa milhares de desempregados

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 09/09/2024 às 12:36

O Brasil está prestes a perder sua indústria química para a concorrência desleal da Ásia. Com o fechamento da Fortal e Rhodia, milhares de empregos estão em risco. Será que o governo agirá a tempo de salvar o setor?

Você pode não perceber, mas a indústria química brasileira está enfrentando uma verdadeira tempestade. Empresas que pareciam sólidas e imbatíveis estão fechando suas portas, deixando para trás milhares de trabalhadores desempregados e um rastro de incertezas.

Mas o que realmente está por trás desse cenário caótico? É uma questão de ineficiência local ou o Brasil está sofrendo as consequências de uma guerra comercial global, onde gigantes como a China estão jogando pesado para dominar o mercado?

Fábricas fechadas e importações em alta: o retrato de um setor em crise

A crise se agrava. Recentemente, duas das maiores empresas químicas do Brasil, a Fortal Química e a Rhodia, decidiram interromper suas operações.

A Fortal, pertencente ao grupo Formitex, suspendeu indefinidamente suas atividades em Candeias, na Bahia, enquanto a Rhodia, controlada pelo conglomerado belga Solvay, anunciou o fechamento de sua unidade em Paulínia, São Paulo, que estava ativa desde 1980. O motivo? A concorrência feroz de produtos químicos vindos, sobretudo, da Ásia, a preços imbatíveis.

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), a participação de produtos importados no mercado nacional subiu drasticamente.

Entre 2000 e 2023, essa fatia passou de 21% para 47%, o que pressionou a indústria local, que já enfrenta o pior índice de ociosidade de sua história.

Em 2024, o déficit comercial do setor atingiu quase 22 bilhões de dólares no primeiro semestre, uma cifra alarmante.

Pressão sobre o governo: o dilema das tarifas de importação

Com o mercado nacional sucumbindo às importações, a Abiquim pressionou o governo brasileiro a tomar medidas drásticas.

No dia 18, o Comitê Executivo da Câmara de Comércio Exterior (Gecex) analisará um pedido da Abiquim para aumentar temporariamente as tarifas sobre 63 produtos importados.

Segundo a entidade, essa é uma das poucas soluções viáveis para barrar o avanço dos importados e proteger a indústria local.

André Passos Cordeiro, presidente da Abiquim, tem sido uma das vozes mais críticas sobre o impacto das importações.

Ele culpou diretamente a demora do governo em tomar decisões, afirmando que isso levou ao fechamento das fábricas da Fortal e da Rhodia.

A planta da Rhodia, que produzia bisfenol A – substância fundamental para a fabricação de plásticos e revestimentos industriais –, é a única em operação na América do Sul.

A ausência de gás e energia a preços competitivos, além do aumento das importações, forçou a empresa a encerrar suas atividades.

A batalha do bisfenol: o caso da Rhodia

O bisfenol A, produzido pela Rhodia, é utilizado em dois mercados-chave: a fabricação de policarbonatos e revestimentos epóxi. Esses produtos têm ampla aplicação, desde lentes de óculos e faróis de carros até a construção civil.

Mas o que realmente colocou a Rhodia contra a parede foi o aumento das importações de bisfenol, particularmente da China.

De acordo com o relatório da Abiquim, as importações de bisfenol dobraram entre 2022 e 2023, enquanto os preços caíram 32%.

Em uma carta enviada ao vice-presidente Geraldo Alckmin, a presidente do Grupo Solvay América Latina, Daniela Rattis Manique, destacou a dificuldade em manter a competitividade no Brasil.

O alto custo do gás e da energia no país foi um dos fatores determinantes para o encerramento das operações da Rhodia.

Fortal Química: mais uma vítima da concorrência desleal

O caso da Fortal Química segue uma linha semelhante. A empresa, que produzia HPMC (hidroxipropilmetilcelulose), não conseguiu competir com os preços extremamente baixos dos produtos vindos da Ásia.

Enquanto o custo de produção no Brasil girava em torno de US$ 2 por quilo, a China estava vendendo o mesmo produto no mercado brasileiro por valores similares, dificultando qualquer tentativa da Fortal de manter-se competitiva.

Outros grandes fornecedores como Taiwan e Coreia do Sul também entraram nesse jogo, ampliando ainda mais a pressão sobre a empresa brasileira.

Subsídios asiáticos e o preço do gás: as pedras no caminho da indústria brasileira

Mas o problema vai além dos preços baixos dos produtos importados. Na China, existem mais de 1.180 programas de subsídios para a indústria química, algo que simplesmente não existe no Brasil, como destacou André Passos Cordeiro.

A única medida paliativa existente no país é o Regime Especial da Indústria Química (Reiq), que isenta o setor de PIS/Cofins.

Outro ponto crucial é o preço do gás. Enquanto nos Estados Unidos o gás custa menos de US$ 2,5 por milhão de BTU, no Brasil, esse valor chega a até US$ 14.

Essa diferença brutal inviabiliza a competitividade da indústria química brasileira, que depende do gás como uma de suas principais matérias-primas.

Desde o início da guerra na Ucrânia, em 2022, a Rússia tem oferecido gás a preços muito baixos para países asiáticos como China e Índia, o que aumentou ainda mais a competitividade desses mercados.

Tanto os Estados Unidos quanto a União Europeia adotaram medidas para proteger suas indústrias, incluindo o aumento temporário das tarifas de importação.

Investigação antidumping: uma solução lenta e custosa

Embora a Abiquim também tenha considerado a possibilidade de uma investigação antidumping, que ocorre quando um país exporta produtos a preços abaixo do custo, esse processo é extremamente demorado e caro.

Segundo Passos Cordeiro, uma investigação desse tipo pode levar até um ano e custar entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão para as empresas envolvidas.

Por isso, ele defende que a elevação temporária das tarifas de importação seja a medida mais adequada para salvar o setor.

O futuro da indústria química brasileira: há saída?

Com a crescente concorrência de produtos asiáticos e a falta de subsídios e políticas públicas eficazes, o futuro da indústria química no Brasil parece incerto.

Será que outras fábricas seguirão o caminho da Fortal e da Rhodia? Se o governo não agir rapidamente, o setor corre o risco de um colapso irreversível, com consequências devastadoras para a economia nacional.

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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