O Brasil está prestes a perder sua indústria química para a concorrência desleal da Ásia. Com o fechamento da Fortal e Rhodia, milhares de empregos estão em risco. Será que o governo agirá a tempo de salvar o setor?
Você pode não perceber, mas a indústria química brasileira está enfrentando uma verdadeira tempestade. Empresas que pareciam sólidas e imbatíveis estão fechando suas portas, deixando para trás milhares de trabalhadores desempregados e um rastro de incertezas.
Mas o que realmente está por trás desse cenário caótico? É uma questão de ineficiência local ou o Brasil está sofrendo as consequências de uma guerra comercial global, onde gigantes como a China estão jogando pesado para dominar o mercado?
Fábricas fechadas e importações em alta: o retrato de um setor em crise
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A crise se agrava. Recentemente, duas das maiores empresas químicas do Brasil, a Fortal Química e a Rhodia, decidiram interromper suas operações.
A Fortal, pertencente ao grupo Formitex, suspendeu indefinidamente suas atividades em Candeias, na Bahia, enquanto a Rhodia, controlada pelo conglomerado belga Solvay, anunciou o fechamento de sua unidade em Paulínia, São Paulo, que estava ativa desde 1980. O motivo? A concorrência feroz de produtos químicos vindos, sobretudo, da Ásia, a preços imbatíveis.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), a participação de produtos importados no mercado nacional subiu drasticamente.
Entre 2000 e 2023, essa fatia passou de 21% para 47%, o que pressionou a indústria local, que já enfrenta o pior índice de ociosidade de sua história.
Em 2024, o déficit comercial do setor atingiu quase 22 bilhões de dólares no primeiro semestre, uma cifra alarmante.
Pressão sobre o governo: o dilema das tarifas de importação
Com o mercado nacional sucumbindo às importações, a Abiquim pressionou o governo brasileiro a tomar medidas drásticas.
No dia 18, o Comitê Executivo da Câmara de Comércio Exterior (Gecex) analisará um pedido da Abiquim para aumentar temporariamente as tarifas sobre 63 produtos importados.
Segundo a entidade, essa é uma das poucas soluções viáveis para barrar o avanço dos importados e proteger a indústria local.
André Passos Cordeiro, presidente da Abiquim, tem sido uma das vozes mais críticas sobre o impacto das importações.
Ele culpou diretamente a demora do governo em tomar decisões, afirmando que isso levou ao fechamento das fábricas da Fortal e da Rhodia.
A planta da Rhodia, que produzia bisfenol A – substância fundamental para a fabricação de plásticos e revestimentos industriais –, é a única em operação na América do Sul.
A ausência de gás e energia a preços competitivos, além do aumento das importações, forçou a empresa a encerrar suas atividades.
A batalha do bisfenol: o caso da Rhodia
O bisfenol A, produzido pela Rhodia, é utilizado em dois mercados-chave: a fabricação de policarbonatos e revestimentos epóxi. Esses produtos têm ampla aplicação, desde lentes de óculos e faróis de carros até a construção civil.
Mas o que realmente colocou a Rhodia contra a parede foi o aumento das importações de bisfenol, particularmente da China.
De acordo com o relatório da Abiquim, as importações de bisfenol dobraram entre 2022 e 2023, enquanto os preços caíram 32%.
Em uma carta enviada ao vice-presidente Geraldo Alckmin, a presidente do Grupo Solvay América Latina, Daniela Rattis Manique, destacou a dificuldade em manter a competitividade no Brasil.
O alto custo do gás e da energia no país foi um dos fatores determinantes para o encerramento das operações da Rhodia.
Fortal Química: mais uma vítima da concorrência desleal
O caso da Fortal Química segue uma linha semelhante. A empresa, que produzia HPMC (hidroxipropilmetilcelulose), não conseguiu competir com os preços extremamente baixos dos produtos vindos da Ásia.
Enquanto o custo de produção no Brasil girava em torno de US$ 2 por quilo, a China estava vendendo o mesmo produto no mercado brasileiro por valores similares, dificultando qualquer tentativa da Fortal de manter-se competitiva.
Outros grandes fornecedores como Taiwan e Coreia do Sul também entraram nesse jogo, ampliando ainda mais a pressão sobre a empresa brasileira.
Subsídios asiáticos e o preço do gás: as pedras no caminho da indústria brasileira
Mas o problema vai além dos preços baixos dos produtos importados. Na China, existem mais de 1.180 programas de subsídios para a indústria química, algo que simplesmente não existe no Brasil, como destacou André Passos Cordeiro.
A única medida paliativa existente no país é o Regime Especial da Indústria Química (Reiq), que isenta o setor de PIS/Cofins.
Outro ponto crucial é o preço do gás. Enquanto nos Estados Unidos o gás custa menos de US$ 2,5 por milhão de BTU, no Brasil, esse valor chega a até US$ 14.
Essa diferença brutal inviabiliza a competitividade da indústria química brasileira, que depende do gás como uma de suas principais matérias-primas.
Desde o início da guerra na Ucrânia, em 2022, a Rússia tem oferecido gás a preços muito baixos para países asiáticos como China e Índia, o que aumentou ainda mais a competitividade desses mercados.
Tanto os Estados Unidos quanto a União Europeia adotaram medidas para proteger suas indústrias, incluindo o aumento temporário das tarifas de importação.
Investigação antidumping: uma solução lenta e custosa
Embora a Abiquim também tenha considerado a possibilidade de uma investigação antidumping, que ocorre quando um país exporta produtos a preços abaixo do custo, esse processo é extremamente demorado e caro.
Segundo Passos Cordeiro, uma investigação desse tipo pode levar até um ano e custar entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão para as empresas envolvidas.
Por isso, ele defende que a elevação temporária das tarifas de importação seja a medida mais adequada para salvar o setor.
O futuro da indústria química brasileira: há saída?
Com a crescente concorrência de produtos asiáticos e a falta de subsídios e políticas públicas eficazes, o futuro da indústria química no Brasil parece incerto.
Será que outras fábricas seguirão o caminho da Fortal e da Rhodia? Se o governo não agir rapidamente, o setor corre o risco de um colapso irreversível, com consequências devastadoras para a economia nacional.