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Como uma farmácia vira um banco (disfarçado): o setor que movimenta R$ 103 bilhões por ano e agora começa a capturar o lucro que antes ia para os bancos

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 25/10/2025 às 15:59
Varejo farmacêutico descobre como converter o fluxo de R$ 100 bi em receitas financeiras próprias e enfraquecer a dependência dos bancos.
Varejo farmacêutico descobre como converter o fluxo de R$ 100 bi em receitas financeiras próprias e enfraquecer a dependência dos bancos.
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O varejo farmacêutico brasileiro movimenta mais de R$ 100 bilhões por ano e começa a explorar um novo modelo: transformar o grande fluxo de vendas diárias em receita financeira, reduzindo custos com bancos e fidelizando consumidores.

O varejo farmacêutico brasileiro opera com alto volume, frequência de compra e capilaridade — e começa a transformar esse alcance em fonte de receita financeira.

Em 2024, as grandes redes associadas à Abrafarma movimentaram R$ 103,14 bilhões, enquanto a RD Saúde (Drogasil e Droga Raia) registrou R$ 41,8 bilhões em receita bruta e uma rede de mais de 3.200 lojas em todo o país.

Segundo reportagem publicada pelo canal Finscale, o volume diário de pagamentos que circula nas grandes redes é tão alto que, se operassem como instituições financeiras, algumas delas figurariam entre os maiores bancos do país.

No entanto, especialistas apontam que a maior parte dos ganhos financeiros gerados por essas transações ainda é capturada por bancos e intermediários de pagamento.

Margens apertadas e alto custo financeiro

As farmácias têm uma dinâmica de vendas constante, com consumidores recorrentes e compras de necessidade imediata.

Apesar disso, parcela significativa da margem financeira é absorvida por intermediários, como adquirentes, bandeiras e bancos emissores.

A cada transação feita com cartão, há taxas que reduzem o valor líquido recebido pelas redes.

Em um ambiente de margens reduzidas, esse impacto é considerado relevante.

De acordo com dados públicos, a Pague Menos registrou margem líquida de 2,1% no quarto trimestre de 2024, o que ilustra o desafio de rentabilidade no setor.

Ainda segundo apuração do Finscale, as taxas cobradas por instituições financeiras e operadoras de pagamento podem chegar a 5,9% do valor total de cada venda.

Analistas afirmam que esse percentual supera a margem líquida média de boa parte das redes, o que reforça a dependência do varejo farmacêutico em relação ao sistema financeiro tradicional.

Fintexização: farmácias adotam modelo de fintech

Segundo especialistas em varejo e finanças, a chamada “fintexização” — termo usado para descrever a integração de serviços financeiros a modelos de negócio tradicionais — tem se tornado uma alternativa para reduzir custos e fidelizar clientes.

Três fatores principais explicam o interesse das farmácias nesse processo.

O primeiro é o volume de transações, que pode chegar a milhões por mês em grandes redes.

O segundo é a frequência de compra, já que muitos consumidores retornam às mesmas lojas semanalmente.

O terceiro é a relação de confiança construída com o público, que favorece a adoção de novos serviços, como carteiras digitais e programas de crédito próprios.

O canal Finscale destacou que o aumento da digitalização e o uso de programas de fidelidade baseados em CPF ampliaram a coleta de dados de comportamento e de consumo.

Varejo farmacêutico descobre como converter o fluxo de R$ 100 bi em receitas financeiras próprias e enfraquecer a dependência dos bancos.
Varejo farmacêutico descobre como converter o fluxo de R$ 100 bi em receitas financeiras próprias e enfraquecer a dependência dos bancos.

De acordo com analistas, essas informações são estratégicas para a criação de produtos financeiros adaptados ao perfil de cada cliente.

O que muda na operação financeira das farmácias

A transação tradicional de balcão, quando integrada a soluções financeiras, passa a gerar novas fontes de receita, conforme apontam consultores do setor.

Na prática, isso pode ocorrer por meio de quatro eixos principais.

O primeiro é a integração de meios de pagamento a aplicativos ou programas de fidelidade, permitindo operações mais rápidas e recorrentes.

O segundo é o parcelamento direto feito pela própria rede ou em parceria com fintechs, o que tende a reduzir custos de crédito.

O terceiro é a gestão centralizada de recebíveis, que possibilita negociar taxas mais vantajosas.

Por fim, o quarto eixo envolve produtos complementares, como cashback, seguros e programas de assinatura, que fortalecem o vínculo com o consumidor.

Especialistas observam que, ao assumir parte da infraestrutura financeira, as redes aumentam o controle sobre o fluxo de caixa e diversificam suas fontes de receita — sem depender exclusivamente da venda de medicamentos.

Casos no Brasil e exemplos internacionais

No Brasil, algumas redes ampliaram o uso de aplicativos de relacionamento, que concentram ofertas, cupons e histórico de compras.

O cadastro por CPF viabiliza preços personalizados e permite acompanhar a recorrência de consumo, desde que em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

De acordo com apuração do Finscale, redes de médio e grande porte já testam o parcelamento próprio e carteiras digitais internas.

Segundo o canal, essas soluções permitem capturar parte da receita que antes ficava restrita a bancos e operadoras.

Analistas ressaltam que iniciativas semelhantes já se consolidaram em outros segmentos, como supermercados e redes de combustíveis, e podem servir de referência para o varejo farmacêutico.

No exterior, empresas como CVS e Walgreens implementaram carteiras digitais integradas a programas de fidelidade.

O modelo facilita o pagamento recorrente de medicamentos e serviços, além de aumentar o engajamento do cliente.

Especialistas destacam que, em todos os casos, o ponto central é a centralização de pagamentos e dados transacionais dentro do próprio ecossistema varejista.

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Etapas para implementação do modelo financeiro

Segundo consultores ouvidos pelo Finscale, o primeiro passo para redes que pretendem adotar modelos financeiros próprios é mapear o fluxo de caixa detalhadamente.

É necessário identificar custos por bandeira, taxas de antecipação, prazos médios de recebimento e dependência de bancos.

Em seguida, recomenda-se analisar o perfil dos clientes e avaliar quais serviços teriam maior adesão, como parcelamento, crédito ou programas de cashback.

O terceiro passo é escolher entre desenvolver internamente a solução ou utilizar plataformas de fintechs especializadas, considerando aspectos regulatórios e de segurança.

A implantação costuma começar por projetos-piloto em regiões ou lojas de alto movimento, permitindo mensurar o impacto em receita e retenção antes da expansão.

A recomendação de especialistas é priorizar a experiência do consumidor, manter clareza na comunicação dos benefícios e acompanhar de perto o desempenho financeiro.

Varejo de saúde se expande para o setor financeiro

Analistas do setor afirmam que a integração entre saúde e finanças representa uma tendência de longo prazo no varejo.

Ao oferecer facilidades de pagamento, crédito e benefícios dentro do mesmo ecossistema, as farmácias ampliam sua relevância no dia a dia dos consumidores.

De acordo com avaliação do Finscale, a tendência não substitui o foco em medicamentos, mas amplia o modelo de negócio ao incorporar serviços de valor agregado.

A expectativa de especialistas é que as redes que adotarem esse formato consigam reduzir custos operacionais e fortalecer a fidelização dos clientes.

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas e também editor do portal CPG. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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