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Como um reparo secreto feito de madrugada impediu um arranha-céu de US$ 178 milhões de desabar no coração de Nova York e salvou milhares de vidas

Escrito por Jefferson Augusto
Publicado em 02/06/2025 às 11:03
Atualizado em 04/06/2025 às 09:07
Montagem com ilustração dramática do Citicorp Center com pilares vermelhos e a frase “Como ISSO foi permitido?”, ao lado de uma foto real aérea do edifício original em Nova York.
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Edifício de US$ 175 milhões foi inaugurado com falha estrutural crítica que poderia causar sua queda durante um furacão. Engenheiro salvou milhares com reforma silenciosa liderada à noite e sem evacuar os ocupantes

Em pleno coração de Manhattan, um dos edifícios mais ousados da engenharia moderna quase desabou silenciosamente durante o verão de 1978. O Citicorp Center, que acabara de ser inaugurado, apresentava uma falha fatal em sua estrutura — capaz de ruir sob ventos de apenas 110 km/h. Uma catástrofe com potencial de matar milhares foi evitada graças à coragem ética e técnica do engenheiro William LeMessurier.

A história, contada em detalhes pelo canal Veritasium e confirmada por investigações e documentos oficiais, revela um dos episódios mais tensos e ocultos da história da engenharia civil moderna — informou o Veritasium em 25 de maio de 2025.

Citcorp Center - Reprodução

Projetado para ser um ícone arquitetônico, o prédio foi erguido sobre quatro pilares posicionados não nos cantos, mas no meio de cada face, para respeitar o espaço da histórica igreja St. Peter’s. Esse ousado projeto gerou desafios únicos, resolvidos com chevrons — vigas diagonais gigantes — e um sistema inédito de amortecimento de massa (TMD) de 400 toneladas no topo do prédio. Mas uma simples alteração de soldas por parafusos comprometeu tudo.

Uma decisão de engenharia ousada: pilares no meio, vigas diagonais e amortecedor gigante no topo

O Citicorp Center foi erguido sobre um projeto radical. Para preservar a igreja histórica no térreo, os quatro pilares principais do arranha-céu foram deslocados para o centro de cada lado, deixando os cantos suspensos. Isso exigiu uma engenharia complexa, liderada por William LeMessurier, que desenhou o prédio com estruturas diagonais — chamadas chevrons — capazes de distribuir a força do vento e da gravidade para os pilares centrais e uma coluna central robusta.

Citicorp Center

Para controlar a oscilação do edifício, LeMessurier inovou ao instalar um amortecedor de massa sintonizado (TMD) — um bloco de concreto de 400 toneladas flutuando sobre óleo no topo do prédio. Esse sistema, usado em pontes e navios, nunca havia sido aplicado em um arranha-céu. O TMD reduzia em até 50% o movimento do prédio em dias de vento, proporcionando conforto e segurança aos ocupantes.

Tudo parecia funcionar perfeitamente. O Citicorp foi inaugurado em 1977 com pompa, elogios da mídia e prêmios da arquitetura. Mas menos de um ano depois, uma simples pergunta de um estudante mudaria tudo.

O erro fatal: ventos diagonais, parafusos inseguros e o risco real de colapso

Durante uma conversa técnica com um estudante de engenharia, LeMessurier percebeu que os cálculos originais não consideravam os ventos diagonais — chamados “quartering winds”. Ao refazer as simulações, descobriu que esses ventos geravam uma carga 40% maior que o previsto, e que os parafusos substituídos no lugar das soldas não eram suficientes para suportar a força.

Pior ainda: as normas de segurança aplicadas no projeto tinham sido subestimadas. Em algumas juntas estruturais, seriam necessários 14 parafusos para suportar as cargas previstas com segurança — mas havia apenas quatro. O ponto mais frágil era o 30º andar. Se uma dessas conexões falhasse, o prédio ruiria como um dominó de aço e concreto.

O arranha-céu que esteve a ponto de desabar e destruir metade de Manhattan

A situação era desesperadora. A cada ano, havia 1 chance em 16 de uma tempestade com ventos suficientes para derrubar o prédio. Um furacão como o Belle, que passou por Nova York no ano anterior, seria suficiente. LeMessurier enfrentava o maior dilema de sua vida: silenciar e torcer para o melhor, ou confessar e tentar salvar vidas — arriscando sua carreira.

Projeto Serene: operação secreta salvou milhares em Manhattan sem que ninguém soubesse

LeMessurier optou por agir. Junto com a Citicorp, elaborou um plano de reparos ultra secreto: o “Projeto Serene”. Toda noite, após o expediente, equipes de soldadores entravam no prédio, removiam paredes internas e aplicavam chapas de aço de 5 cm de espessura nas juntas comprometidas. Depois, reconstituíam o acabamento como se nada tivesse acontecido.

Foram reparadas mais de 200 juntas, com prioridade para os andares mais críticos. Nenhum funcionário foi informado. Nem mesmo o público ou a imprensa. Coincidentemente (ou providencialmente), todos os jornais de Nova York estavam em greve durante o período. A cidade inteira escapou do pânico — e do desastre.

Mas o destino testaria o plano. Em setembro de 1978, o furacão Ella se formou e rumava direto para Nova York. A cidade estava prestes a iniciar a evacuação de 10 quarteirões. O prédio poderia derrubar outros edifícios ao cair, como uma reação em cadeia. Mas, por milagre, o furacão desviou para o mar. O prédio foi salvo — e com ele, milhares de vidas.

A reação da mídia: silêncio absoluto durante a crise

Apesar da gravidade do problema estrutural e do risco iminente de colapso, a reação da mídia foi praticamente inexistente, e isso não aconteceu por acaso.

Durante todo o período do reparo secreto no Citicorp Center, os principais jornais de Nova York estavam em greve, o que impediu a divulgação imediata do caso. Esse apagão informativo colaborou para que a operação conduzida por William LeMessurier e pela Citicorp ocorresse sem gerar pânico público.

A primeira vez que o episódio veio à tona com detalhes foi quase duas décadas depois, em uma reportagem de 1995 publicada pela revista The New Yorker, revelando ao mundo a crise que quase ninguém soube que existiu.

O legado de LeMessurier: de erro fatal à lição mundial de ética na engenharia

As reformas terminaram discretamente em outubro de 1978. O prédio ganhou nova robustez e poderia, segundo LeMessurier, resistir a uma tempestade que ocorre apenas uma vez a cada mil anos. Mas o segredo duraria quase duas décadas. Apenas em 1995, uma reportagem da New Yorker trouxe à tona a história. Longe de ser condenado, LeMessurier foi aclamado por sua coragem e ética.

Hoje, a história do Citicorp Center é ensinada em cursos de engenharia civil ao redor do mundo como exemplo de ética profissional, responsabilidade e integridade técnica. O prédio, agora chamado 601 Lexington, segue de pé — com seus pilares centrais, seu famoso amortecedor de massa e, sobretudo, a memória de uma escolha difícil feita por um engenheiro que optou por salvar vidas, mesmo diante do próprio abismo.

O que você achou dessa história inacreditável? Já conhecia esse caso? Comente abaixo e compartilhe com seus amigos engenheiros, arquitetos e entusiastas de estruturas! Essa é uma das histórias mais impressionantes da engenharia moderna.

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Carlos Adolpho
Carlos Adolpho
05/06/2025 01:02

Soube que a descoberta do erro foi por uma estudante de engenharia, que estranhou o fato de não ver os cálculos contra ventos e indagou à empresa de engenharia. Esta foi rever os cálculos e confirmou o erro. Ética e conhecimentos para corrigir o erro são base na engenharia.

Ricardo
Ricardo
04/06/2025 23:55

Meu cérebro deve funcionar ao contrário do da maioria que comentou aqui…não consigo encontrar a ética quando o risco foi desafiado.

Roberto Mano
Roberto Mano
04/06/2025 12:25

Exelente profissional espero que sirva de exempto

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Jefferson Augusto

Profissional com experiência militar no Exército, Inteligência Setorial e Gestão do Conhecimento no Sebrae-RJ e no Mercado Financeiro por meio de um escritório da XP Investimentos. Trago um olhar único sobre a indústria energética, conectando inovação, defesa e geopolítica. Transformo cenários complexos em conteúdo relevante sobre o futuro do setor de petróleo, gás e energia. Envie uma sugestão de pauta para: jasgolfxp@gmail.com

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